Ministro destacou que queda do PIB 'não foi por causa do ajuste fiscal'.
Para Levy, recessão não vai durar 2 anos e setores dão sinais de melhora.
“Já estamos começando a ver a virada, se as coisas se tranquilizarem até o fim do ano vamos ver uma virada [no cenário econômico]", afirmou Levy. Segundo ele, quem critica a política econômica está equivocado. "Ela tem aspecto de esforço e sacrifício, mas é absolutamente indispensável, tem equilíbrio cíclico que dá resultado", acrescentou.
O ministro disse ainda que o aumento da contribuição do setor externo no PIB, que veio positivo, é um sinal de que alguns setores da economia estão começando a reagir.
“Com a mudança do câmbio e a liberação dos preços e realismo tarifário, estamos vendo em vários setores que os estoques estão acabando e acontece uma coisa curiosa, o estoque vai descendo, e a não ser que haja uma enorme confusão, as empresas começam a produzir de novo, a dar novas encomendas e comparar o preço nacional ao estrangeiro e comprar domesticamente", afirmou.
O Produto Interno Bruto (PIB) caiu 1,9% no segundo trimestre de 2015 ante os três meses anteriores, e a economia brasileira entrou no que os economistas chamam de "recessão técnica", que acontece quando o PIB encolhe por dois trimestres seguidos.
No primeiro trimestre do ano, o PIB caiu 0,7% (dado revisado).
'Dá para viver com o suor do próprio rosto'
Levy afirmou, ainda, que o Brasil "tem tudo para continuar crescendo". Ele citou a história bíblica de Adão e Eva, que foram expulsos do paraíso e forçados a viver do próprio suor. "A maior parte dos países vive do suor dos seus rostos, acho que dá pra viver muito bem assim", disse o ministro, referindo-se ao esforço de adaptação às mudanças da economia.
O ministro observou que a ascenção da classe média a partir de 2013 mudou a relação do governo com o gasto público.
"Quem está embaixo quer mais gasto publico, as pessoas querem mais qualidade", disse.
"O momento nos traz essa reflexão agora, e nos força a tomar decisões. Temos que diminuir as despesas, mas não adianta cortar tudo", afirmou, citando os gastos obrigatórios por lei.
O
ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante congresso do mercado
financeiro em Campos de Jordão, neste sábado (29) (Foto: Luiz Prado /
Agência LUZ/ BM&FBOVESPA)
Levy acrescentou que cortar gastos não significa "deixar de oferecer",
mas passar a oferecer de uma maneira diferente, e disse que o governo
não pode fazer isso sozinho. "Não se pode servir a dois senhores. Tem
que decidir se vai diminuir gasto ou aumentar os impostos".Nova CPMF
Sobre a criação de um imposto com o mesmo objetivo da extinta Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), Levy afirmou que é preciso olhar se a maneira como o tributo será aplicado na saúde é adequada e definir as metas para estas despesas.
O novo imposto seria cobrado sobre as transações bancárias para financiar programas de saúde. "Se não analisar a qualidade dos programas, vamos ter que continuar aumentando imposto. O grande desafio agora é ter metas (...), ter elementos de medição para saber se aquilo está dando resultado ou não. Vamos precisar de ajuda para lidar com esse choque de realidade", disse Levy.
O governo defende uma alíquota de pelo menos 0,38%, o último percentual da CPMF, que vigorou por dez anos e acabou em 2007. O imposto deve nascer com um novo nome – CIS (Contribuição Interfederativa da Saúde) – e arrecadar até R$ 85 bilhões por ano. Diferente da CPMF, a nova proposta prevê a divisão entre municípios, estados e governo federal – tudo investido em saúde.
"No Brasil, os impostos mais importantes são os indiretos e são arrecadados pelas empresas em geral. Sao impostos que diminuem a vontade de tomar riscos (...)", disse o ministro, acrescentando que é preciso simplificar impostos indiretos como o ICMS e PIS/Cofins,
A simplificação desses impostos, disse Levy, faz parte de reformas essenciais pra continuar o processo de formalização, diminuir o custo das empresas. "Esta é a prioridade. Uma prioridade que ate certo ponto já foi incorporada pelo Congresso", disse.
Na véspera, durante o mesmo evento, os economistas Antonio Delfim Netto e Affonso Celso Pastore criticaram a volta da CPMF, mas consideraram que o aumento de impostos é inevitável no atual contexto da economia.
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