Os cientistas estão em busca de novos
medicamentos que, no futuro, serão usados para combater as
superbactérias, micro-organismos resistentes ao nosso arsenal atual de
antibióticos. E uma nova classe de drogas, dos lipopeptídeos
antimicrobianos (AMLP, na sigla em inglês), tem se mostrado promissora.
Em estudo publicado nesta terça-feira na revista acadêmica
“Biophysical Journal”, pesquisadores explicam que ela mata células
bacterianas seletivamente, poupando as hospedeiras do mamífero, pois
elas se agarram a bolas microscópicas grudadas à membrana bacterial,
uma estrutura complexa de mutação mais lenta.
— A necessidade por novos antibióticos
contra bactérias e fungos resistentes se tornou uma preocupação médica
global — disse Alan Grossfield, do Centro Médico da Universidade de
Rochester, em Nova York, e um dos autores do estudo. — Nossos novos
insights em como os AMLPs trabalham como grupo, não individualmente,
podem otimizar o desenvolvimento dessas moléculas como uma nova classe
de antibióticos.
Estudos passados já mostravam como esses
compostos sintéticos possuem uma atividade potente contra uma gama de
patógenos e que eram capazes de limpar infecções em ratos. Além disso,
os AMLPs estão menos vulneráveis à resistência porque elas atacam a
estrutura e função das membranas microbianas.
Para desenvolver resistência, os
micróbios precisariam passar por grandes mutações que alterassem a
mistura de lipídios que compõem a membrana. Além disso, uma variedade
de importantes proteínas existentes na membrana dependem da composição
atual de lipídios. Dessa forma, para se tornar resistente ao AMLP, o
micro-organismo teria que alterar a função da sua própria membrana de
proteínas.
Apesar das vantagens já demonstradas em
estudos, o progresso no desenvolvimento dessas drogas para uso clínico
tem sido limitado pela falta de um entendimento em nível molecular da
sua forma de ação. Em particular, não está claro se e como a tendência
do AMLP de formar grupos melhora a atividade antimicrobiana.
O estudo de Grossfield, com o estudante
de graduação Dejun Lin, usou simulações de dinâmicas moleculares e
cálculos de energia para examinar se a tendência dos AMLPs de se
agregarem em bolas maiores, chamadas micelas, afetam sua habilidade de
se unirem a membranas. Os resultados revelaram que os AMLPs possuem a
tendência de se unir rapidamente a qualquer membrana — seja de
bactérias ou de mamíferos — que encontram, porque isso é favorável em
termos termodinâmicos. Por outro lado, as micelas tem forte preferência
pelas membranas de bactérias.
— As micelas atacam as membranas de
bactérias muito rapidamente, o que explica porque elas matam as
bactérias sem afetar o animal infectado — disse Grossfield. — Como os
AMLPs são pequenos e estáveis, a fabricação, processamento e
armazenagem são relativamente fáceis e baratos. Nós estamos otimistas
que os AMLPs sejam inseridos no mercado como uma opção necessária para
os próximos antibióticos.
(O Globo)
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