9.08.2015

Pastilha é nova arma contra o mosquito transmissor da dengue no verão

Fiocruz desenvolveu larvicida e agora aguarda autorização da Anvisa para comercialização

Maria Luisa Barros
Rio - Um inseticida biológico será a mais nova arma contra o mosquito transmissor da dengue no próximo verão. O larvicida desenvolvido pela Farmanguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) já está pronto e aguarda a liberação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para chegar ao mercado. O preço estimado do Dengue Tech é R$ 30 por dez pastilhas. Cada uma poderá ser dissolvida em até 50 litros de água.
José Evaristo ao lado de terreno abandonado em Barra Mansa: foco de dengue, ratos e escorpiões
Foto:  Divulgação
A pesquisadora Elizabeth Sanches explica que o comprimido está na fase de consulta pública, a última a ser aprovada pela Anvisa, antes de chegar ao consumidor. O método, garante ela, é simples. “A pastilha é colocada dentro da caixa d’água. Duas horas depois de ingerir o inseticida, a larva fica paralisada e impossibilitada de alimentar-se, morrendo depois de 24 horas”, diz
Segundo a Superintendência de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde, 52.167 pessoas tiveram dengue este ano no Estado do Rio. O Brasil registrou 1,3 milhão de casos da doença. O levantamento no Rio revela um aumento de 650% no número de ocorrências nos primeiros oito meses do ano. Em todo o ano de 2014, foram notificados 7.819 casos suspeitos de dengue e dez óbitos. Este ano, 13 pessoas morreram, sendo dez na região Sul Fluminense.
Pastilhas contra dengue para reservatórios
Foto:  Divulgação
Morador do bairro Verbo Divino, no Centro de Barra Mansa, no Sul Fluminense, o aposentado José Evaristo Alves, de 78 anos, contraiu dengue clássica há quatro meses. “Achei que fosse só uma gripe, mas o quadro foi piorando, com prostração, vômitos, tonturas, dor atrás dos olhos, manchas semelhantes ao sarampo e perda de apetite ”, lembra.
Ele e os parentes acreditam que o foco do mosquito estava num terreno baldio cheio de lixo e matagal na rua Maximiano Alves. “ O terreno virou também criadouro de cobras, ratos e escorpiões”, lamenta José, ressaltando que ele mesmo roça o mato do lugar. A Prefeitura intimou o proprietário a fazer a capina, mas ele só cumpriu a determinação uma vez.
Há quatro anos, o aposentado José Cantizano Sobrinho, de 72 anos, passou por uma enorme aflição. O neto adolescente contraiu dengue hemorrágica, o tipo mais grave da doença. “Foi um susto muito grande. Mas graças a Deus ele sobreviveu”, recorda o morador de Tubiacanga, na Ilha do Governador. A preocupação com a saúde o levou a se engajar em um projeto pioneiro de combate ao mosquito desenvolvido, há um ano, pela Fiocruz na Ilha, Urca, Vila Valqueire, e Jurujuba, em Niterói.
Em setembro do ano passado, o pesquisador Luciano Moreira, líder do projeto no Brasil, iniciou a soltura de 200 mil mosquitos Aedes aegypti infestados com a bactéria Wolbachia, que reduz a transmissão do vírus pelo mosquito. A captura e o monitoramento é feito na casa dos moradores.
“Este ano só uma pessoa pegou dengue no bairro. Nos outros anos, havia cinco casos por rua”, comemora José Cantizano.

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