ÚLTIMO DEPOIMENTO
Tributarista afirma que as práticas do governo Dilma ocorreram entre
“três a quatro meses antes de alteração da lei orçamentária”, e que
portanto jamais incorreram em ilegalidade
por Hylda Cavalcanti, da RBA publicado 27/08/2016 21:43, última modificação 27/08/2016 21:59
REPRODUÇÃOTV/SENADO
Para tributarista, a conduta do governo Dilma foi considerada lícita por todos os órgãos de controle
Brasília – O advogado tributarista e professor da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), Ricardo Lodi Ribeiro, iniciou por volta das
20h15 seu depoimento à sessão do impeachment do Senado. Loddi Ribeiro,
conforme ficou acertado anteriormente, está se manifestando como
informante e não como testemunha, pelo fato de ser advogado da
presidenta afastada Dilma Rousseff junto ao Tribunal de Contas da União
(TCU). Segundo ele, a questão da mudança na lei orçamentária, a partir
de outubro de 2015, alterou todo o entendimento jurídico a respeito do
tema no país, além de ter efeito retroativo, “o que nunca tinha sido
visto até então”.
A sessão, que foi iniciada com debates e ajustes de contas entre os
senadores e teve como primeiro depoente o ex-ministro da Fazenda Nelson
Barbosa, já dura mais de 12 horas e teve dois intervalos, às 13h e às
19h. Os parlamentares demonstram visível cansaço e constantemente o
plenário fica esvaziado por conta do revezamento de vários deles – entre
o local de tomada de depoimentos, a área de cafezinho, os gabinetes e
os corredores (para conversas rápidas com os jornalistas).
O advogado Loddi Ribeiro afirmou que a interpretação que passou a ser
dada à Lei Orçamentária, de que deve ser exigida compatibilização dos
decretos de crédito suplementar com a "previsão de meta" do governo, não
existia até então. O que existia, segundo com ele, era a exigência de
compatibilização dos decretos com a "obtenção da meta", ao final de cada
exercício orçamentário – “o que, a meu ver, é o mais correto”,
destacou.
Por isso, ele ressaltou que não há crime cometido pela presidenta Dilma
Rousseff dentro das normas que assim preveja. "Uma vez que no momento em
que os fatos ocorreram a conduta era considerada lícita por todos os
órgãos de controle", acrescentou.
De acordo com Lodi Ribeiro, o que existiu foi a alteração de uma
interpretação, “não por conta de mudança da lei, mas por conta de nova
recepção dessa legislação pelo TCU, a partir de outubro de 2015”. “Desde
a vigência da Lei de Responsabilidade Fiscal não se interpretava desta
forma, como passou a ser interpretada, a Lei Orçamentária Anual”.
O tributarista ainda destacou que é preciso “evitar as viradas judiciais
com efeitos pretéritos, sobre pena de que isso venha a gerar
insegurança jurídica neste país”.
Ricardo Lodi Ribeiro explicou que a alteração levou em conta “fatos
retroativos”. "Tivemos a criação de uma tese no Brasil, na qual foi dada
uma interpretação totalmente inovadora ao direito orçamentário. Não vou
dizer aqui o que é certo ou errado, mas o que sei é que os atos
praticados pela presidenta Dilma Rousseff, por meio dos decretos de
crédito suplementar, ocorreram entre julho e agosto de 2015. Ou seja:
quatro a três meses antes da modificação, que ocorreu em outubro do
mesmo ano”, deixou claro.
Tentativa de desqualificação
As explicações do advogado tributarista e professor da UFRJ foram
desqualificadas pelos senadores que são favoráveis ao impeachment.
Primeiro, os advogados de acusação do processo pediram para ser
dispensada a fala de Ricardo Lodi Ribeiro, pelo fato de ele ser advogado
de Dilma Rousseff.
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que, por ser autor de artigos que
contestam o impeachment, Lodi “não tem o que falar, uma vez que está
claro que seu entendimento é favorável à presidenta”. E acrescentou que,
por conta disso, pediu a retirada da sua inscrição para interrogá-lo.
Já Ricardo Ferraço (PSDB-ES) chegou a ser mais duro, chamando a sua
presença no plenário do Senado de “cena patética”. “Não há nada mais a
ser dito aqui”, acusou.
Os tucanos foram rebatidos por Vanessa Grazziotin (PCdoB), que ironizou o
fato de os parlamentares favoráveis ao impeachment não terem interesse
em se manifestar porque, no momento, as televisões estarem transmitindo o
horário eleitoral gratuito nos municípios.
A declaração da senadora provocou novo embate e Cássio Cunha Lima pediu
respeito. “Se não a mim, a senhora respeite os votos que eu recebi do
meu estado para estar aqui”. “Não disse nenhuma agressão”, ressaltou
Vanessa.
Existem, no momento, oito senadores inscritos para se pronunciar e fazer
perguntas a Ricardo Lodi, mas diante do cansaço e do clima de
nervosismo dos parlamentares, o presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), que preside a sessão, ministro Ricardo Lewandowski, mandou
retirar por alguns momentos os sons dos microfones e pediu que fossem
evitadas frases mais fortes. Ele também fez um apelo por maior
objetividade aos senadores, para que a sessão seja encerrada perto das
23h.
Nova reunião
Depois da sessão deste sábado, os senadores ficaram de realizar outra
reunião, ou após o encerramento dos trabalhos ou amanhã (28). Desta vez,
a portas fechadas. O intuito será discutir o rito da sessão de
segunda-feira (29), com a ida da presidenta Dilma Rousseff ao plenário
para apresentar pessoalmente sua defesa.
Existem 38 pedidos de inscrição previamente feitos pelo parlamentares
que querem fazer perguntas e se pronunciar junto à presidenta, mas os
senadores querem chegar a um acordo quanto a isso. O objetivo é
estabelecer, junto com Lewandowski, regras de forma que um determinado
número, favorável, e outro igual, contrário ao impeachment, se revezem.
Os senadores, ao lado do presidente do Senado e do presidente do STF,
também ficaram de decidir sobre como será o julgamento, a partir da
terça-feira (30). Alguns defendem que seja votado numa primeira parte, o
afastamento da presidenta propriamente e, em segundo lugar, numa
segunda votação, a questão da perda dos seus direitos políticos.
Outros acham que a votação deve ser feita de uma única vez, de modo que,
se Dilma for realmente afastada do cargo, perca imediatamente os
direitos políticos. “Seja como for, a presidenta virá até o Congresso
com a ousadia e a coragem que lhe permitiu sobreviver, na luta contra a
ditadura e pela democracia, e também a todo este processo. Tenho certeza
que ela chegará com a dignidade que lhe é marca registrada”, afirmou a
senadora Fátima Bezerra (PT-RN).
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SENADO FEDERAL: VERGONHA NACIONAL
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