Lá no começo de dezembro escrevi um post contando para você o quanto eu sofro (agora menos e já já vocês entenderão melhor) de enxaqueca. Relatei as minhas dores insuportáveis de cabeça — que por vezes vêm acompanhadas de náuseas, vômitos, fobia a luz etc.
Estava bem cansada e desanimada de ter passado por tantos médicos desde a adolescência, sem nenhum tratamento efetivo. Mas estava sofrendo tanto que havia prometido a mim mesma que após meu casamento (que aconteceu no fim de setembro) eu investiria em um BOM especialista na área para melhorar de vez da enxaqueca (ou pelo menos tentar). Foi então que descobri a neurologista Thais Villa, chefe do setor de cefaleia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretora clínica da Headache Center Brasil.
Marquei a consulta no início de dezembro. Foram quase duas horas dentro do consultório. Relatei todo meu histórico (pai e mãe com mesma doença), dores desde adolescência..etc etc. RESULTADO: diagnóstico: enxaqueca crônica: ou seja, Vanessa (eu mesma) sofro de mais de 15 dias de dores de cabeça no mês (eu fiquei muito chocada com essa informação).
Mas então como resolver? Hoje em dia, o tratamento da enxaqueca deve se basear em prevenir as crises, ou seja, evitar que elas aconteçam, me explicou a neurologista.
— Os chamados medicamentos preventivos são os mais estudados e podem ser eficazes em evitar as crises. Nos últimos cinco anos, a toxina botulínica aparece uma opção importante para prevenção da enxaqueca crônica. Terapias não medicamentosas como a neuroestimulação ajudam também, como a terapia psicológica, acompanhamento nutricional, fisioterapia, exercícios físicos orientados. Então, novos estudos na área mostram que o tratamento preventivo combinando terapias medicamentosas e não medicamentosas pode ser mais eficaz na prevenção das crises de enxaqueca.
No meu caso, a médica me prescreveu o uso do medicamento preventivo, a toxina botulínica, além da neuroestimulação (aparelho que gera pequenos impulsos elétricos e ajuda no tratamento e combate a dor). Infelizmente, por uma questão financeira, ainda não pude aplicar o botox. Mas quero fazer assim que possível. Até porque os planos não cobrem e tampouco o SUS, mas podemos tentar o reembolso.
No caso dos remédios de prevenção, Thais ainda me explicou que eles são usados “em pessoas que têm enxaqueca com frequência semanal ou maior, ou crises muito incapacitantes que não respondem ao tratamento somente da dor, que é feito com analgésicos”.
— O tratamento deve ser feito por no mínimo seis meses, mas sua duração deve ser individualizada. Espera-se com medicações preventivas uma melhora de 50% da frequência e intensidade das crises após dois ou três meses de uso continuo, ou seja, tomado diariamente.
Como já expliquei pra vocês, a minha enxaqueca é crônica. Mas há quem tenha a episódica. Nesses casos, o tratamento é realizado "com mudanças de estilo de vida, ou seja, evitando situações desencadeantes e terapias não medicamentosas e, se mais frequente que uma vez por semana e crises muito intensas, a medicação preventiva deve ser escolhida pelo neurologista de acordo com cada paciente”, disse Thais.
Botox para enxaqueca?!
Você já ouviu falar em toxina botulínica, o famoso botox, para tratar enxaqueca? Para mim foi total novidade! Segundo a neurologista, o “tratamento é eficaz e especifico para enxaqueca crônica, principalmente aquelas onde vários outros remédios deram pouca ou nenhuma resposta". Também pode ser usada em casos de pessoas com dor de cabeça quase diária ou todos os dias uso excessivo de analgésicos, que gera a chamada dor rebote, e uma piora ainda maior da enxaqueca.
— Na enxaqueca crônica a frequência alta de dor de cabeça mantem um processo de inflamação continuo, e essa inflamação crônica também gera mais dor, um ciclo vicioso que precisa ser quebrado. A toxina botulínica vai agir bloqueando essas substâncias inflamatórias e evitando nova inflamação e novas dores de cabeça, um tratamento preventivo especifico e eficaz para descronificação da enxaqueca.
Melhorei quase 50% em 1 mês, viu!
Retornei ao consultório a semana passada e e constatamos que em 30 dias melhorei 40% da minha enxaqueca (menos dias de dores e menos dores fortes). O remédio fez muito efeito e certamente o uso do Cefaly, o aparelho de neuroestimulação que estou utilizando 20 minutos por dia, também está ajudando no processo.
Mas como nós concluímos que houve melhora? Fazendo o diário da enxaqueca que funciona da seguinte forma: todos os dias que sinto dor de cabeça, eu anoto a data, o horário do início da dor, o que eu comi na refeição anterior e se tomei ou não remédio. Assim, a médica consegue ter o controle.
Tem até aplicativo para isso. Eu uso da Sociedade Brasileira de Cefaleia (veja foto ao lado). É muito fácil de usar. Aliás, se você sofre dessa doença, comece a adotar esse hábito agora mesmo! Vai te ajudar a ter uma noção da gravidade do problema.
Psicólogo faz parte do tratamento
O gatilho número 1 da enxaqueca para a maioria das pessoas e o estresse emocional e ansiedade, explica Thais. Além disso, é comum a associação de sintomas de ansiedade e mesmo depressão em pessoas com enxaqueca. Por isso, é importantíssimo que o paciente que sofra com essa doença busque ajuda também de um psicólogo.
— A psicologia faz uso de várias técnicas para auxiliar na prevenção da enxaqueca como terapia cognitiva comportamental para saber lidar com esses gatilhos de ansiedade e depressão, e técnicas de relaxamento como biofeedback, para melhor prevenção da dor de cabeça. Esse tratamento e especialmente eficaz em pessoas com enxaqueca crônica.
Rémedio, botox, nutricionista... enxaqueca exige uma equipe multidisciplinar
Os gatilhos da doença, conforme expliquei no meu outro texto, são vários. E o tratamento da enxaqueca e dores de cabeça combinando terapia medicamentosa e não medicamentosa pode ser mais eficaz na prevenção e controle da doença, segundo explicou a médica.
— Morei nos EUA por um ano fazendo pesquisas na área de dor de cabeça e enxaqueca. E lá conheci esse conceito dos “Headache Centers”, clinicas voltadas especificamente para o tratamento das dores de cabeça que ofereciam tratamento médico e multidisciplinar para seus pacientes. Eu planejei trazer esse modelo de tratamento para o Brasil e em 2016 inauguramos o primeiro centro de tratamento multidisciplinar e integrado da dor de cabeça do pais. O tratamento da enxaqueca deve ser individualizado, já que a doença tem muitos aspectos genéticos e também ambientais que precisam ser abordados e são diferentes de pessoa para pessoa. Procuramos oferecer um plano de tratamento para cada pessoa com dor de cabeça, levando em conta seu diagnóstico, histórico, gravidade, experiências anteriores, seus desejos e necessidades. Essa parceria garante um tratamento com muito mais chance de sucesso.
Porque enxaqueca não tratada...
Pode levar a “cronificação da doença, ou seja, as crises ficam mais frequentes e intensas, levar ao uso excessivo de analgésicos, que além de não tratar a doença, aumenta riscos de transtornos de ansiedade, depressão, distúrbios de sono, dificuldades de atenção e memória e, em casos da chamada enxaqueca com aura, aumenta riscos de AVC e infarto cardíaco. Isso sem contar a queda de produtividade, os dias de trabalho e lazer perdidos e a piora marcante e progressiva da qualidade de vida”.
11 Comentários
Enxaqueca não é dor de cabeça. Fadiga, mudança de humor e até bocejos podem ser sinais da doença
Eu
sofro de enxaqueca desde que me conheço como gente (e já faz tempo). E
se tem uma coisa que aprendi na própria prática é que não é a mesma
coisa que dor de cabeça. Os sintomas vão muito além e são bem piores
(vai por mim).
Já perdi as contas de quantas vezes durante minhas crises eu já ouvi: “Toma um remédio que passa”. Ou mesmo chegar no hospital com tanta dor que você tem vontade de tacar a cabeça na parede e, mesmo assim, ter zero prioridade de atendimento. Muitos acham que o problema é bem menos do que ele efetivamente é!
Apesar de muita gente não saber, a enxaqueca é uma doença neurológica que merece muita atenção. Aliás, é a quinta maior causa de incapacidade no mundo, segundo explicou a neurologista Thais Villa, chefe do setor de cefaleia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretora clínica da Headache Center Brasil. Segundo a médica, no Brasil, 25% da população que sofre com a doença têm incapacidade de moderada à grave.
De uma maneira simples, a enxaqueca é de caracterizada por uma disfunção cerebral de base genética. Se seus pais sofrem do problema, você terá também. Esse é meu caso: minha mãe tem e meu pai (falecido) tinha a doença.
A doença é mais prevalente no sexo feminino, especialmente nas mulheres na faixa etária fértil.
Enxaqueca X dor de cabeça
Thais explica as diferenças básicas entre enxaqueca e uma dor de cabeça tensional.
Quais são os sintomas:
- Enxaqueca: a dor é de apenas de um lado da cabeça; é pulsante; a intensidade vai de moderada à forte; se agrava com atividade física; provoca náuseas ou vômitos; intolerância à luz, barulho ou ao cheiro forte; a pessoa pode ter até aura [distúrbios visuais].
- Dor de cabeça: acomete os dois lados da cabeça; é de intensidade fraca a moderada; não piora com atividade física; não provoca náuseas ou vômitos. Os gatilhos são: cansaço, dormir mal, jejum prolongado e estresse.
Quais os gatilhos?
- Enxaqueca: estresse, ansiedade, mudanças hormonais, privação ou excesso de sono, jejum, exercício físico, fatores ambientais, dieta, álcool. São esses alguns dos fatores que podem desencadear a enxaqueca.
A crise ocorre por um desses estímulos, pois o “cérebro interpreta aquilo como uma agressão e começa a dor”. Lembrando que os gatilhos não são causas da doença. Esse é um erro muito comum", explica Thais.
- Dor de cabeça: cansaço, dormir mal, jejum prolongado e estresse.
Como qualquer outro problema de saúde, a emxaqueca dá sinais que está por vir, como por exemplo, fadiga, mudança de humor (irritabilidade, ansiedade e tristeza), dificuldade de concentração, intolerância à luz ou som, bocejos repetidos, mudanças no apetite, sonolência. Há também sintomas associados como tontura, alterações no sono, do humor, do apetite e até alterações gastrointestinais, como diarreia e intestino preso.
Há tratamento, sim!
Segundo Thais, o diagnóstico da enxaqueca é clínico, ou seja, “não há necessidade de nenhum tipo de exame”. O médico vai conversar com o paciente durante a consulta para dar o diagnosticar.
— Geralmente, os exames de quem tem enxaqueca dão todos normais.
Apesar de não ter cura, é possível sim tratar a enxaqueca. Há diversos tipos, desde medicamentos até terapias com psicólogos e fisioterapia. Cada caso exige o seu.
No caso da medicação, ela é utilizada diariamente, de forma contínua e no mínimo por seis meses. Após três meses de uso, é possível reduzir em 50% a frequência das crises, segundo Thais.
Além da medicação, há diversas outras maneiras de ajudar no tratamento. Uma das mais modernas é a neuroestimulação em que um aparelhinho (ver foto ao lado) colocado na cabeça gera pequenos impulsos elétricos ao nervo trigêmeo, principal causador da dor de cabeça, alterando a forma que a dor é assimilada. O equipamento deve ser utilizado 20 minutos por dia para combater as dores.
O aparelho Cefaly pode auxiliar o tratamento de pacientes que já utilizam remédios. Mas também pessoas que não podem utilizar medicação, como gestantes, mulheres que estão amamentando etc. É recomendado para que tem crises leves ou moderadas, disse Thais.
Depois de ter tido fôlego de ler esse texto até o final, não deixe de procurar ajuda de um BOM neurologista.
Eu já agendei o meu.
Já perdi as contas de quantas vezes durante minhas crises eu já ouvi: “Toma um remédio que passa”. Ou mesmo chegar no hospital com tanta dor que você tem vontade de tacar a cabeça na parede e, mesmo assim, ter zero prioridade de atendimento. Muitos acham que o problema é bem menos do que ele efetivamente é!
Apesar de muita gente não saber, a enxaqueca é uma doença neurológica que merece muita atenção. Aliás, é a quinta maior causa de incapacidade no mundo, segundo explicou a neurologista Thais Villa, chefe do setor de cefaleia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e diretora clínica da Headache Center Brasil. Segundo a médica, no Brasil, 25% da população que sofre com a doença têm incapacidade de moderada à grave.
De uma maneira simples, a enxaqueca é de caracterizada por uma disfunção cerebral de base genética. Se seus pais sofrem do problema, você terá também. Esse é meu caso: minha mãe tem e meu pai (falecido) tinha a doença.
A doença é mais prevalente no sexo feminino, especialmente nas mulheres na faixa etária fértil.
Enxaqueca X dor de cabeça
Thais explica as diferenças básicas entre enxaqueca e uma dor de cabeça tensional.
Quais são os sintomas:
- Enxaqueca: a dor é de apenas de um lado da cabeça; é pulsante; a intensidade vai de moderada à forte; se agrava com atividade física; provoca náuseas ou vômitos; intolerância à luz, barulho ou ao cheiro forte; a pessoa pode ter até aura [distúrbios visuais].
- Dor de cabeça: acomete os dois lados da cabeça; é de intensidade fraca a moderada; não piora com atividade física; não provoca náuseas ou vômitos. Os gatilhos são: cansaço, dormir mal, jejum prolongado e estresse.
Quais os gatilhos?
- Enxaqueca: estresse, ansiedade, mudanças hormonais, privação ou excesso de sono, jejum, exercício físico, fatores ambientais, dieta, álcool. São esses alguns dos fatores que podem desencadear a enxaqueca.
A crise ocorre por um desses estímulos, pois o “cérebro interpreta aquilo como uma agressão e começa a dor”. Lembrando que os gatilhos não são causas da doença. Esse é um erro muito comum", explica Thais.
- Dor de cabeça: cansaço, dormir mal, jejum prolongado e estresse.
Como qualquer outro problema de saúde, a emxaqueca dá sinais que está por vir, como por exemplo, fadiga, mudança de humor (irritabilidade, ansiedade e tristeza), dificuldade de concentração, intolerância à luz ou som, bocejos repetidos, mudanças no apetite, sonolência. Há também sintomas associados como tontura, alterações no sono, do humor, do apetite e até alterações gastrointestinais, como diarreia e intestino preso.
Há tratamento, sim!
Segundo Thais, o diagnóstico da enxaqueca é clínico, ou seja, “não há necessidade de nenhum tipo de exame”. O médico vai conversar com o paciente durante a consulta para dar o diagnosticar.
— Geralmente, os exames de quem tem enxaqueca dão todos normais.
Apesar de não ter cura, é possível sim tratar a enxaqueca. Há diversos tipos, desde medicamentos até terapias com psicólogos e fisioterapia. Cada caso exige o seu.
No caso da medicação, ela é utilizada diariamente, de forma contínua e no mínimo por seis meses. Após três meses de uso, é possível reduzir em 50% a frequência das crises, segundo Thais.
Além da medicação, há diversas outras maneiras de ajudar no tratamento. Uma das mais modernas é a neuroestimulação em que um aparelhinho (ver foto ao lado) colocado na cabeça gera pequenos impulsos elétricos ao nervo trigêmeo, principal causador da dor de cabeça, alterando a forma que a dor é assimilada. O equipamento deve ser utilizado 20 minutos por dia para combater as dores.
O aparelho Cefaly pode auxiliar o tratamento de pacientes que já utilizam remédios. Mas também pessoas que não podem utilizar medicação, como gestantes, mulheres que estão amamentando etc. É recomendado para que tem crises leves ou moderadas, disse Thais.
Depois de ter tido fôlego de ler esse texto até o final, não deixe de procurar ajuda de um BOM neurologista.
Eu já agendei o meu.
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