A reportagem procurou Lima Filho em sua empresa, a
Argeplan - cuja sede na Vila Madalena, na zona oeste de São Paulo, foi
vasculhada pelos agentes federais durante a Operação Patmos -, mas ali
foi informado pela segurança que o coronel não tinha ido trabalhar.
Temer nega o recebimento de propina por meio do amigo e contesta a
delação dos irmãos Batista.
Lima conheceu Temer nos anos 1980, quando o presidente
ocupou pela primeira vez o cargo de secretário da Segurança Pública de
São Paulo, durante o governo de Franco Montoro (1983-1987), então no
PMDB. Aspirante a oficial na turma de 1966 da Academia da PM, Lima
trabalhava na Assistência Militar da Pasta.
Depois que Temer deixou a secretaria, Lima foi trabalhar na área responsável por obras
na corporação - foi o tempo em que se construiu o Hospital da PM, na
zona norte, e o centro administrativo. Em 1992, quando Temer voltou à
Pasta após o massacre do Carandiru, Lima voltou a trabalhar com o amigo.
Já coronel e formado em arquitetura, ficou em um cargo na Secretaria de
Segurança Pública.
Suspeitas envolvendo o nome de Lima surgiram na Lava
Jato em 2016. Segundo as investigações, de 2011 a 2016, durante o
período em que Temer ocupou a Vice-Presidência,
a Argeplan do coronel recebeu R$ 1,1 milhão por serviços em uma
ferrovia e uma estrada federal, além de obter contratos na Secretaria de
Aviação Civil e na usina nuclear de Angra 3.
No dossiê da JBS há
documento que diz que Lima e a Argeplan são proprietários de uma fazenda
em Duartina, no interior de São Paulo, que foi invadida duas vezes pelo
Movimento dos Sem-Terra (MST). Intitulado Relatório Argeplan, a JBS
entregou documento ao MPF. Nele afirma que a empresa foi aberta em 1976.
Era então "um pequeno escritório de arquitetura em nome de Carlos
Alberto Costa". Em 2011, Lima teria sido admitido na empresa com um
capital de R$ 250 mil.O relatório da JBS registra que, em 2014, o presidente do PMDB da cidade de Jaú (SP), Geraldo Grizzo, se tornou diretor técnico da empresa.
"Atualmente, através de consórcios com outras construtoras, a Argeplan participa de ‘megaobras’ em todo o Brasil, porém, todas elas estão sendo investigadas por diversas autarquias com suspeitas de pagamento de propinas e outras vantagens ilícitas", diz o documento - que lista sete desses consórcios, duas outras empresas de Lima e Costa e seis imóveis que estariam em nome da Argeplan.
A JBS estava atrás de vínculos entre Lima e outro amigo de Temer, o ex-assessor especial do Planalto, José Yunes. "Não encontramos nenhum vínculo ou indícios de relacionamento comercial entre a Argeplan e José Yunes." Os homens a serviço da JBS consultaram informações da Receita Federal, da Junta Comercial e do Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo. Também anexaram uma planilha com a qual procuram demonstrar o suposto repasse de R$ 15 milhões para Temer em forma de propina durante a campanha eleitoral de 2014
Segundo Ricardo Saud, o ex-diretor de relações institucionais da J&F, holding dos irmãos Batista, Temer teria sido um dos únicos políticos que receberam dinheiro do PT naquele ano e mandou separar uma parte - R$ 1 milhão - para que lhe fosse entregue a título pessoal.
O pagamento teria acontecido no dia 2 de setembro. O dinheiro em uma caixa, segundo os delatores, foi entregue pela JBS a Lima na sede da Argeplan. Na delação, os executivos da JBS justificam a confecção do dossiê sobre o coronel por causa da necessidade de saber quem era o intermediário que lhes havia sido indicado para receber o dinheiro
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