O congresso de um partido não é um evento, mas tem que ser avaliado como um processo e um momento na historia de um partido. Realizado depois da maior derrota que o PT sofreu em muito tempo, ainda sob o impacto da maior campanha de ataques da direita, o PT não deixou de mostrar suas feridas ao longo de todo o processo do Congresso.
Quando o debate se iniciou, a perspectiva era a de um cenário de um doloroso e dilacerante processo autocrítico fosse dominante. Vozes superficiais – muitas vezes não isentas de rancor acumulado nos anos de sucesso dos governos do PT – afirmavam um suposto consenso de que "o PT se havia esgotado" e apontavam para novos horizontes do Brasil e da esquerda brasileira sem o PT.
Um Congresso é um ponto de chegada de um processo de debate e um ponto de repartida, se acumulou força suficiente para representar o começo de uma nova fase na vida de um partido. O primeiro sucesso do Congresso do PT foi não ter sido um processo autofágico, que destruísse tudo o que o partido construiu ao longo do tempo e se dedicasse a se despedaçar em publico. Isso não ocorreu, para decepção de alguns setores, especialmente de fora do PT, que sempre consideraram que se o PT não fracassasse, não haveria lugar para eles, dai sua obsessão na critica sem critérios ao partido.
O PT sai unido, nao apenas orgânica, mas politicamente, as divergências foram menores, em parte concentradas nas formas de eleição dos seus dirigentes. Mas nao se pode dizer que existam hoje concepções frontalmente opostas dentro do partido. A forca essencial da militância está concentrada nos desafios externos a que o partido tem que enfrentar.
A liderança do Lula é um fator onipresente. O PT não é o Lula, o Lula não é o PT. O Lula é muito maior que o PT, o PT tem problemas próprios que não podem ser atribuídos ao Lula, mas o PT não pode ser entendido sem o Lula e o Lula não poderia existir sem o PT. Ambos tem consciência disso, dai o papel central do Lula e a importância sempre reafirmada do PT pelo Lula.
Mas o exercício do governo por tanto tempo, tendo que assumir posições ou conviver com elas, sem te-las formulado ou discutido devidamente. Os desgastes da reviravolta que a direita conseguiu impor ao PT, de partido da ética na política a partido cuja imagem publica aparece envolvido em acusações de corrupção. A próprio derrota que significou a queda do governo da Dilma, são problemas que deixam feridas que o partido não demonstra ainda condições de assimilar e superar.
Correu, por um tempo, a ideia da "refundação do PT", como se fosse uma ideia magica, que apagaria os erros e permitiria o partido recomeçar de zero. Como se isso fosse possível, como se essa magica pudesse apagar tudo o que partido viveu, sem digerir tudo isso e passar a limpo as experiências, com o de positivo e o de negativo elas tiveram. E para quem quisesse viver essa experiência magica, está a presença viva do Lula, que representa, de forma sintética, tudo o que foi vivido, de forma densa, com os avanços e os erros.
Lula espelha a historia do partido e impede qualquer solução artificial do idílico "começar de novo", como se aquele inicio fosse possível de ser recomeçado e se aquele partido "duro e puro" pudesse ter triunfado e transformado o pais de forma tão extraordinário, entre acertos e erros. E seguramente, se consultada, a grande maioria do povo brasileiro – cuja vida foi transformada positivamente por este PT realmente existente -, prefere este partido e não aquele, que poderia deixar a tantos dormir tranquilamente por não enfrentar os riscos da realidade a que Lula conduziu o PT, mas seria o partido eterno da impotência e da oposição.
Porem, o PT sofreu duras derrotas e não pode dizer que sai vitorioso do seu 6. Congresso, por ter mantido sua unidade, reafirmado a indispensável liderança do Lula e eleito uma grande e nova liderança para presidi-lo. O PT chega aqui envelhecido pela sua composição – em que a presença da juventude, ha muito tempo, deixou de ser determinante -, com uma plataforma de luta que precisa ser urgentemente atualizada, incorporando todos os temas libertários, ao lado da sempre indispensável plataforma social e de democratização política.
O PT perdeu vínculos estruturais com a intelectualidade crítica que, por sua vez, não tem no partido um espaço de reflexão teórica vinculada à prática política e tampouco encontra formas de contribuir com reflexões que ajudem o PT a encarar os complexos e difíceis problemas que ele tem a enfrentar.
Mas não basta a reatualização programática, a formulação – junto com os movimentos sociais – da plataforma de luta por um governo de reconstrução nacional, é indispensável redefinir as formas de funcionamento do partido. Para o que, antes de tudo, precisa pensar qual a função de um partido, encontrar o lugar do partido na estratégia global do campo popular.
Esses e outros desafios tem que ser enfrentados em meio aos combates decisivos para o futuro do pais e do partido, neste e no próximo ano. O partido não pode se engajar na pratica frenética que a realidade nos impõem sem ao mesmo tempo, conseguiu ir se readequando. E tampouco pode parar para uma reflexão teórica desvinculada das urgências da pratica política.
Felizmente o PT elege uma nova presidência sensível a tudo isso e conta com o Lula e com uma imensa militância em todo o pais disposta a enfrentar esses desafios. O PT sairá destes desafios renovado e radicalizado, como a realidade requere, para ser contemporâneo dos desafios do nosso presente.
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