Outro aspecto importante. Os questionários do levantamento foram respondidos quando a notícia da condenação em primeira instância pela Lava Jato já se tornara um assunto conhecido e mastigado pela população. Mesmo assim, comparado com o levantamento anterior, de junho, Lula cresceu cinco pontos.
Ele foi o único a subir, na verdade. Bolsonaro e Marina, que ocupavam o segundo e o terceiro lugar no levantamento anterior em junho, conservaram as mesmas posições. Empatados com oito votos cada um, Geraldo Alckmin e João Doria canibalizam os votos tucanos.
A posição reforçada de Lula atinge uma margem inédita em comparação com as campanhas presidenciais de 2002 e 2006, quando se saiu vitorioso – e talvez seja um recorde desde o retorno das diretas em 1989.
Embora tenha liderado a campanha de 2002 desde o início, não se encontrava com 35% das intenções de voto quando faltava um ano para a corrida às urnas e teve de fazer muita força para chegar até lá. Em 2006, o quadro chegou a ser mais dramático. Atingido pela AP 470 e denúncias que arrastaram seus dois homens fortes – José Dirceu e Antônio Palocci – para fora do governo, nos 12 meses anteriores ao pleito Lula chegou a ser suplantado pelo tucano Geraldo Alckmin em pesquisas preliminares.
Com números espetaculares, a arrancada de 2017 alimenta-se de um fator essencial – o fracasso absoluto do governo Temer-Meirelles em atender as necessidades da população. Lula conta com a memória favorável de seus governos, reforçada pelo desastre visível a olho nu.
Não há dúvida que a Caravana por 9 Estados do Nordeste deu um impulso respeitável à candidatura, o que se viu não apenas pela mobilização direta da população local mas também pela explosão do assunto nas redes sociais, monitoradas de perto pelo PT. Outro ponto diz respeito a Lava Jato.
O crescimento das intenções de voto depois que a condenação a 9 anos e meio tornou-se prato de resistência da mídia adversária, sugere que, ao menos em seu patamar de investigação, a operação pode ter esgotado o potencial destrutivo da candidatura. Numa hipótese sujeita a novos levantamentos, dentro do PT há quem acredite que o espetáculo de perseguição judicial pode estar produzindo uma compreensível reação de solidariedade junto à maioria do eleitorado, que cultiva uma conhecida postura de solidariedade quando assiste a pressão descomunal enfrentada pelos mais fracos perante os mais fortes. A perda de aprovação de Moro, mais acentuada entre os brasileiros mais pobres, reforça essa hipótese.
Há um mistério pela frente e diz respeito ao comportamento dos adversários. Num país em pleno vigor das franquias democráticas, eles estariam fazendo autocrítica, revendo estratégias de campanha, testando novos nomes, quem sabe ideias mais interessantes paras seus programas. Não é assim no Brasil atingido pelo golpe de maio-agosto de 2017.
Desta vez, teremos uma eleição dividida em três turnos – o primeiro estrelado pelos três desembargadores do TRF-4 que irão examinar a sentença de Moro. Nesta situação, a inesperada musculatura de 35% de Lula provoca, forçosamente, uma reavaliação nos cálculos de analistas e adversários que apostam as fichas no bloqueio judicial da candidatura.
Há duas semanas, o mais boquirroto dos generais-falantes disparou uma senha para a intervenção militar uma intervenção militar, dizendo que poderia ter início caso o Judiciário não fosse capaz de afastar “da vida pública esses elementos envolvidos em todos os ilícitos”.
Por menores que sejam os compromissos dos adversários de Lula com a vontade da maioria, um ataque frontal a uma candidatura dessa estatura pode se transformar num escândalo e numa temeridade. Esta é a notícia produzida pela pesquisa Data Folha
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