– Essa preocupação dos mercados é ridícula e hipócrita. Os mercados não têm medo de Lula porque eles já viveram em um país governado por Lula e foi um dos melhores momentos para a economia" – disse Lula ao Le Monde, complementado:
– O que amedronta eles é que eu não vou deixar vender o patrimônio. Nós não vamos vender a Amazônia, não vamos vender a Petrobras, a Eletrobras ou os bancos públicos. E os mercados sabem que nós vamos privilegiar a produção à especulação".
Lula poderia ter refrescado a memória dos agentes do mercado apontando alguns resultados de seu governo. Não o fez na entrevista mas certamente haverá o momento de retirar dos arquivos as estatísticas econômicas e sociais sobre o período 2002-2010.
Quando assumiu a Presidência, em primeiro de janeiro de 2003, o desafio imediato do Governo Lula era baixar uma inflação que havia atingido 12,4% no último ano de FHC, 2002. A dívida líquida do setor público alcançava elevados 51,3% do PIB. Era preciso sanear as contas públicas. As reservas internacionais somavam apenas US$ 37,8 bilhões, valor que poderia ser ainda menor não fosse um empréstimo de US$ 20,8 bilhões concedidos meses antes pelo FMI.
Empossado, Lula deu início ao ajuste fiscal de 2003, com Palocci no Ministério da Fazenda, começando pela elevação do superávit primário de 3,75% para 4,25% do PIB. Os juros subiram, para controlar a inflação, de 25% para 26,3% mas em dezembro já haviam caído para 16,5%. Foi um ano de baixo investimento e contenção de despesas mas o ajuste produziu os resultados esperados, criando condições para a retomada do crescimento a partir de 2004. Um conjunto de resultados econômicos exuberantes foi alcançado ao longo dos sete anos seguintes, garantindo pela primeira vez ao Brasil o cobiçado “investment grade”.
Para refrescar a memória do mercado, vale recordar alguns destes resultados.
1) A inflação, que Lula pegou em 12,5%, ficaria sempre dentro da meta, fechando o ano de 2010 em 5,9%.
2) O crescimento médio do PIB foi de 4%, destacando-se o resultado espetacular de 2010, quando alcançou 7,5%.
3) Em janeiro de 2003 a dívida pública mobiliária total (líquida) era de 60,3% do PIB, índice que recuou para 41,3% do PIB no final de 2010.
4) Lula quitou a dívida externa do Brasil com o FMI e com o Clube de Paris e pela primeira vez, em seu governo, o Brasil emprestou dinheiro ao Fundo (US$ 10 bilhões).
5) Nos oito anos da Era Lula, as reservas cambiais saltaram de US$ 37,7 bilhões para R$ 370 bilhões, graças ao “boom” das exportações, resultado do crescimento e de uma política externa ativa que buscou novos mercados e ampliou a inserção internacional do Brasil.
6) Em janeiro de 2003 a taxa de desemprego era de 11,3%. Em outubro de 2010 a taxa alcançou 6,1%, menor patamar registrado pela série histórica. Foram gerados no período mais de 20 milhões de empregos graças ao forte crescimento.
7) O notável desempenho da economia garantiu ao Brasil, pela primeira vez, o selo de país com “investment grade”.
8) A taxa interna de investimento, nos oito anos de Lula, passou de 16,4% do PIB em 2003 para 19,5% em 2010.
9) O mercado não se interessa por resultados socais mas vale recordar que a taxa de extrema pobreza foi reduzida de 11,49% em 2005 para 7,28% em 2010, com a ascensão de 30 milhões de famílias à classe média.
10) Para completar esta síntese, nos oito anos em que Lula governou o Brasil, as ações em Bolsa de Valores tiveram uma valorização média de 503%.
Hoje, como candidato, Lula não tem nem Palocci nem Guido Mantega a seu lado. O economista mais próximo dele é Marcio Pochmann, presidente da Fundação Perseu Abramo. Além de apontar a hipocrisia do mercado, ele precisa começar a refrescar a memória dos que começam a fazer terrorismo com seu favoritismo. Mas Lula colocou o dedo na ferida. O que eles temem não é uma política econômica “populista” ou irresponsável. O que eles sabem é que Lula não se entregará à fúria privatizante de Temer, que faz a alegria do mercado e do capital internacional.
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