12.08.2017

A loucura das Bitcoins


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O problema das bolhas é que não dá para adivinhar quando estouram
Por Pedro Doria - O Estado de S. Paulo
Quando dezembro começou, havia uma especulação no ar: será que 1 Bitcoin chegaria ao valor de US$ 10 mil antes de 2017 acabar? Pois chegou a US$ 16 mil, ontem. Foi no dia 1º de janeiro deste ano que 1 Bitcoin alcançou o valor de mil dólares.

Na ponta do lápis: em onze meses, o valor da moeda virtual valorizou dez vezes. E, na última semana, mais cinco vezes. Que tipo de investimento dá este nível de retorno? Nenhum.
Bitcoin é o sonho ultraliberal: uma moeda sem qualquer regulamentação, não há Banco Central, apenas sua livre circulação lhe determina o valor de câmbio. Lançada em 19 de julho de 2010, fechou o dia a 0,06 centavos de dólar. Valorizou-se muito lentamente e, em abril de 2013, cruzou a marca dos cem dólares. Quando chegou a mil dólares, em dezembro daquele ano, muita gente gritou o óbvio: é bolha. Diga-se que 2014 mostrou que os céticos estavam certos. Em maio já estava novamente abaixo dos US$ 500. Em março de 2015, aproximava-se novamente da casa dos cem dólares.
Só que aí começou a valorizar novamente. Chegou a US$ 500 em maio de 2016, a mil em janeiro de 2017, só que aí dobrou antes de maio, triplicou antes de agosto, quintuplicou em outubro, decuplicou na virada de novembro. Pois estamos na casa do vezes dezesseis.
E aí começam a surgir alguns problemas.
O primeiro é de definição. Bitcoin deixou de ser uma moeda. Se houvesse um país cujo dinheiro corrente é a moeda virtual, sua economia teria sido inviabilizada. É pior do que uma hiperdeflação. Não dá para viver com uma moeda que cresce em valor neste nível.
James Vincent, repórter do Verge, vai direto ao ponto: “Faz já tempo que as Bitcoins não servem para comprar coisas.” Fred Wilson, um investidor do Vale do Silício, lembra duma história que lhe ocorreu em 2013. Deu a um caddie, em seu clube de golfe, 1 Bitcoin de gorjeta. Dava pouco menos de cem dólares. Se o rapaz guardou o dinheiro, tem em mãos US$ 16 mil. Wilson parou de gastar Bitcoins. Só as acumula. Não faz sentido ser diferente.
Izabella Kaminska, editora do Alphaville, um serviço do Financial Times de análise do mercado financeiro, vai além em suas observações. Algo torna o negócio do Bitcoin atípico. Não há o que os economistas chamam de vendedores naturais neste mercado. Ou seja: não há quem compre ou venda Bitcoins por interesse no produto.
Pode-se especular com tudo: moedas, petróleo, soja, títulos hipotecários. Mas há quem compre e venda moedas, petróleo, soja ou hipotecas não porque deseja especular, mas porque tenha interesse na coisa em si. Precisa de dólares para fazer uma compra, de petróleo como combustível, de soja para alimentar e, ora, hipotecas representam casas. Só que, no momento em que Bitcoins deixam de fazer sentido como moedas, elas servem apenas a um propósito: especular.
Quem especula com um título qualquer, em algum momento, realizará seu lucro. E não é difícil imaginar que algumas pessoas farão muito dinheiro e, outras, entraram com o valor já exacerbado e ficarão com um mico preto nas mãos.
Uma boa e velha bolha.
O problema de bolhas é que não dá para adivinhar quando estouram. Um dia, o valor despenca. Bitcoins, sem regulação, Banco Central ou qualquer outro tipo de controle, são a mais abstrata forma de ativo financeiro. Representam apenas uma ideia e, em conjunto, decidimos atribuir-lhe valor. A abstração é tanta que nada impõe um limite a seu valor. Na casa dos US$ 5 milhões, as Bitcoins valerão o PIB mundial.
Este não é um jogo para amadores. É para jogadores.

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