4.03.2009

Exame pode detectar precocemente a doença de Alzheimer

Estudo com 518 pessoas avalia eficácia de método que identifica biomarcadores presentes no liquor. Outros grupos trabalham com exames de sangue ou por imagem; hoje, a forma mais precisa de atestar a doença é por autópsia. Um estudo da Escola de Medicina da Universidade da Pensilvânia, publicado em edição on-line do "Annals of Neurology", demonstra resultados promissores de um teste que detecta a presença de biomarcadores no liquor (líquido da medula espinhal) para detectar precocemente a doença de Alzheimer, antes de os primeiros sintomas se manifestarem.

Os pesquisadores avaliaram a presença das proteínas beta-amiloide 42 e tau (indicadores da doença) em amostras do liquor de 410 pacientes de um programa de pesquisa sobre Alzheimer, de 52 pessoas com características cognitivas normais e de outras 56 pessoas com diagnóstico de Alzheimer confirmado na autópsia. Segundo a pesquisa, a precisão do exame chegou a 87% em geral e a até 96,4% na análise da presença de beta-amiloide naqueles que tiveram a confirmação da doença por autópsia. Além disso, o teste teve eficácia de 81% para avaliar as chances de um déficit cognitivo leve evoluir para doença de Alzheimer, valores considerados satisfatórios pelos pesquisadores.

Trabalhos de avaliação desse tipo de teste são realizados há alguns anos, mas ainda mostram deficiências em alguns casos específicos. "Em resumo, a proposta é atraente, mas não se pode causar alarde, porque são marcadores em testes", afirma a patologista Lea Grinberg, coordenadora do Banco de Cérebros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo -o maior do mundo.

A relevância do estudo da Pensilvânia está no número de pacientes e na variedade da amostra -como foram avaliadas pessoas de 56 partes dos EUA e do Canadá, o trabalho contempla várias etnias. Essas características são importantes para ajudar a validar um método para diagnóstico. OUTROS ESTUDOS - No Brasil, grupos de pesquisa também estudam a presença de marcadores para o diagnóstico precoce da doença, como o do neurologista Paulo Caramelli, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Ele acredita que os estudos avançam, mas que ainda exigem mais comprovação.

"A grande dúvida é sobre qual será o documento-fonte [desse tipo de teste]: podemos usar o liquor, feito por um exame invasivo, o sangue ou uma imagem que detecta a proteína beta-amiloide no cérebro da pessoa viva", explica. Também estão sendo desenvolvidos testes de memória específicos e outros estudos que trabalham com imagens cerebrais.

Hoje, a forma mais precisa de atestar a doença é por autópsia. No paciente vivo, é possível detectá-la com alguns testes clínicos e de imagem. "Entretanto, só 70% desses diagnósticos são confirmados na autópsia. Ademais, esse diagnóstico em vida só é feito quando a doença está mais avançada. No início, é difícil saber", afirma Grinberg. O resultado chega tarde, quando o indivíduo já manifesta prejuízo no desempenho das funções do dia a dia, como vestir-se, banhar-se, administrar o dinheiro e tomar medicação.

Um biomarcador que possa ser dosado no sangue ou no liquor ou em um exame de imagem favorecerá um diagnóstico precoce da doença, preservando as capacidades cognitivas do paciente. "Além disso, seria imprescindível para a realização de estudos de melhor qualidade para testar a eficácia de drogas e estratégias terapêuticas para a doença", completa o geriatra José Marcelo Farfel, responsável pelo setor clínico do Banco de Cérebros da USP. - Julliane Silveira, da Reportagem Local -
Fonte: Folha de São Paulo - Portal Médico

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