8.01.2010

Sexo: Prazer ou Obrigação?


Quando acaba o prazer
Segundo a terapeuta sexual e de casais Ana Maria Zampieri, há muitas razões, principalmente culturais, pelas quais isso acontece. "Uma delas é a construção sócio-histórica de fundo religioso que diz que temos obrigação de satisfazer sexualmente os nossos cônjuges mesmo quando não há desejo sexual", menciona.
Sexo deixa de ser fonte de prazer e vira uma obrigação
Sexo é bom e todo mundo gosta. Ou quase todo mundo. Ainda que proporcione prazer, vínculo afetivo e bem-estar, tem muita gente que não consegue sentir nenhum benefício no ato sexual e pratica sem desejo. E, claro, fazer por obrigação leva à frustração. "Não gosto de sexo. Faço porque meu marido me procura. É claro que gostaria de reverter essa situação. Entendo que ter desejo é algo normal, mas não sei como mudar isso", confessa Elisa*, de 37 anos. Como ela, existem várias outras que pensam e sofrem o mesmo.

Foram inúmeras as conquistas femininas nas últimas décadas, entre elas, as sexuais. Antes do movimento de liberação sexual, as mulheres, com exceção das prostitutas, eram vistas como "seres assexuados", que só deveriam fazer sexo para procriar. O prazer era restrito aos homens.

Herdeiras das gerações anteriores, hoje muitas ainda mantêm a ideia de que sexo é algo sujo, masturbação é pecado e que somente o homem tem direito a alcançar o prazer. E mais: que o marido pode transar com a mulher toda vez que sentir vontade, independentemente dela estar a fim. Este é um dos motivos que faz o sexo ser encarado como obrigação e não uma relação em que duas pessoas buscam o prazer.

Segundo a terapeuta sexual e de casais Ana Maria Zampieri, há muitas razões, principalmente culturais, pelas quais isso acontece. "Uma delas é a construção sócio-histórica de fundo religioso que diz que temos obrigação de satisfazer sexualmente os nossos cônjuges mesmo quando não há desejo sexual", menciona.

O ginecologista Eliano Pellini também acredita que, apesar de terem conquistado autonomia financeira, muitas mulheres ainda se submetem aos parceiros fornecendo sexo em troca de companhia. "Elas fingem gostar de sexo para garantir carinho e proteção do homem, além de um status exigido pela sociedade. Muitas que reclamam de falta de desejo na verdade só querem ter uma melhor vida sexual para servirem ao parceiro", afirma Eliano, membro da Comissão Científica de Sexualidade da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH) e chefe do setor de Sexualidade Humana de Ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC.

Outro fator que contribui para a perda da libido é a convivência. "Estudiosos dizem que o excesso de convivência mata a química do amor-paixão-tesão. A total rotina e a previsibilidade um do outro, assim como a falta de criatividade no erotismo que deixa o sexo 'mecânico', interferem na libido. A perda de interesse em surpreender a outra pessoa faz com que ela deixe de se sentir especial", explica a psicóloga Ana Maria Zampieri.

Mas se as pessoas se casam justamente para viverem juntas, como isso pode prejudicar a relação sexual? Para Eliano Pellini, os casais não estão preparados para a rotina e acabam se desencantando no casamento quando ela chega. "As mulheres carecem mais de estímulos do que propriamente da libido. Quando escolhem parceiros que se preocupam com elas e não apenas as usam como receptoras da carga negativa que eles acumulam durante o trabalho (que são expelidas, por exemplo, na ejaculação), as mulheres naturalmente redescobrem o desejo sexual", explica.
Mônica Vitória
Bolsa de Mulher

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