Britânicas que não querem ser mães reclamam de críticas de parentes e amigos.
Embora seja uma opção cada vez mais comum entre mulheres de países desenvolvidos, muitas britânicas que, por vontade própria, descartam ter filhos, são alvo de uma grande pressão por parte de parentes, amigos, colegas de trabalho e até mesmo estranhos.
Segundo a socióloga Catherine Hakim, da London School of Economics, na Grã-Bretanha, esta pressão às vezes pode ser tamanha que faz com que algumas mulheres acabem por não admitir publicamente a opção por não ter filhos.
"Um estudo feito no Canadá há alguns anos aponta que cerca de metade das mulheres que não têm filhos aos 40 anos na verdade optaram por isso quando eram mais novas", diz.
"Mas muitas delas não declaram isso devido à pressão social que iriam sofrer ao mencionarem a preferência por não ter filhos".
De acordo com Hakim, este é um fenômeno relativamente novo, que surgiu com o desenvolvimento das pílulas anticoncepcionais.
"A revolução contraceptiva mudou totalmente as perspectivas (das mulheres). Ter filhos deixou de ser inevitável para todas que se casassem ou fizessem sexo para se tornar algo passível de escolha."
'Chocada'
Esta escolha, porém, nem sempre é compreendida, como mostra o caso da britânica Jenny Woolfson, de 25 anos.
"Uma colega de trabalho ficou chocada quando eu disse que não queria filhos. Ela afirmou: 'você é uma mulher, nasceu com um útero. Deus nos deu o útero para procriarmos'", contou Woolfson ao programa de rádio da BBC Woman's Hour.
Julia Wallace, madrasta de três crianças que não vivem em sua casa, enfrenta problema parecido.
"Dizem que eu não sei o que estou perdendo e que só saberei que quero um filho depois de ter um", conta.
"Mas, se você não tem motivação para ter um bebê, por que tê-lo? Eu não escolheria ser enfermeira com base na aposta de que adoraria a carreira quando começasse", afirma ela.
Nem todas, porém, são tão convictas quanto à ideia de deixar a maternidade de lado.
É o caso de Beth Folina, especializada em orientar mulheres aflitas com a indecisão sobre o planejamento de uma gravidez.
Ela mesma já enfrentou o dilema. Folina conta que, até os 30 anos, não queria filhos - opção que havia sido informada a seu parceiro.
"Até que surgiu o desejo de me tornar mãe. Passei uns dois anos lutando contra a ideia, mas, no fim, resolvi que queria mesmo um bebê. Mas sei que, se não fosse mãe, teria uma vida bem diferente, mas igualmente gratificante."
Ela conta que muitas de suas clientes não querem mesmo filhos, mas, apesar da convicção, sofrem com a pressão de familiares e amigos.
"Eles dizem: 'Você não sabe o que está perdendo, você daria uma ótima mãe'. Há também os pais que pedem netos", diz.
"Muitas pessoas partem do princípio de que, se você for solteira e sem filhos, é porque ainda não encontrou o homem certo. Logo que entra em uma relação estável, querem saber qual é o próximo passo", continua Folina.
Em outros casos, se o bebê não chegar depois da troca de alianças, muitos apostam na infertilidade do casal.
É o que ocorre com Lisa Davies, 38. "Eu fico chateada pelo fato de olharem para mim e falarem comigo como se eu tivesse algo de errado", diz.
Tias
A falta de filhos não significa, necessariamente, distância das crianças.
"Como mães e pais têm trabalhado muito, são sempre bem-vindas as tias dispostas a passar tempo com os sobrinhos", diz a americana Melanie Notkin, fundadora do site Savvy Auntie ('titia experiente', em tradução livre), que traz dicas para tias interessadas na companhia dos sobrinhos.
Ela defende a criação de um dia para homenagear as mulheres que, sem filhos, fazem o papel de tias e madrinhas dedicadas e carinhosas.
"Seria uma chance para que elas se sentissem plenas por tudo o que fazem em vez de se concentrarem no que não têm - os filhos", diz Notkin.
BBC
G1.com
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