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8.02.2010
Meninos tem menor desempenho escolar que as meninas
Gênero influencia o boletim
Pesquisa mostra que meninos têm risco 70% maior de apresentar baixo rendimento escolar
Apesar de terem nascido da mesma gestação e receberem as mesmas oportunidades educacionais, não é só na fisionomia que os irmãos gêmeos Arthur e Elisa Oliveira, 18 anos, são diferentes. Eles também divergem no que diz respeito aos estudos. Arthur já repetiu de ano e agora rala para concluir o ensino médio. Para ele, estudar é uma tarefa difícil, pois se distrai com facilidade e quer prestar atenção em tudo ao mesmo tempo. Sempre muito organizada e dedicada, Elisa se deu melhor na escola e já cursa o 2º semestre de nutrição. A dupla reflete bem o resultado de uma pesquisa inédita em âmbito nacional sobre distúrbios de aprendizagem e saúde mental de crianças e adolescentes brasileiros.
Meninos têm um risco 70% maior de ter baixo desempenho escolar do que as meninas. Eles também estão mais sujeitos a desenvolver problemas emocionais e comportamentais — nesse caso, o risco cresce 60%. A frequência de deficit de atenção e hiperatividade é pelo menos cinco vezes mais comum no sexo masculino e, por conta disso, há uma chance 15 vezes maior de baixo rendimento na escola. Os dados são do Projeto Atenção Brasil, idealizado pelo Instituto Glia, em colaboração com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), da Universidade La Sapienza (Roma) e do Albert Einstein College of Medicine (EUA).
Divulgado esta semana, o levantamento foi realizado por meio de entrevistas com pais e professores de 9.149 crianças e adolescentes (de 5 a 18 anos) que vivem nas cinco regiões do país, num total de 16 estados e 81 cidades brasileiras, incluindo o Distrito Federal. “Encontramos muitas diferenças nos perfis de meninos e meninas, principalmente nos aspectos comportamentais”, observa o coordenador do estudo e diretor do Instituto Glia, neurologista da infância e adolescência Marco Antônio Arruda. “Os meninos também são os que têm mais problemas de conduta, problemas com colegas e problemas sociais, enquanto as meninas têm mais sintomas de ordem emocional.”
O pesquisador explica que o estudo não contemplou uma análise de causa e efeito, permitindo apenas as constatações, sem as devidas justificativas. No entanto, ele afirma ser possível supor que uma série de aspectos educacionais, comportamentais e culturais contribuem para os resultados. “Menina é mais preservada, muito menos exposta do que o menino. A liberdade delas é menor em termos educacionais”, diz Arruda, ao ressaltar que os pais controlam mais as filhas, fazendo com que elas tenham mais rotina, façam questão de estudar e tenham mais dedicação.
Educadora há 18 anos, a coordenadora pedagógica do colégio Sagrado Coração de Maria, Nilva Lencina Zorzo, atesta que as garotas se saem melhor em termos escolares, tanto na infância quanto na adolescência. “A tendência é os meninos serem mais arredios, mais rebeldes. Parece que eles fazem questão de terminar rápido as tarefas para se livrar logo e fazer algo mais interessante”, avalia. Segundo Nilva, os garotos preferem coisas mais práticas, que requeiram maior agilidade mental, e costumam ir melhor nas matérias exatas e em educação física. “O que envolve mais desafios mexe mais com eles.”
Não é bem o caso do estudante Arthur Oliveira, que prefere história, geografia e literatura — disciplinas em que consegue se concentrar mais facilmente do que física e matemática. Mas ele concorda que as representantes do sexo feminino têm uma responsabilidade maior com os estudos. A irmã dele, Elisa, compartilha da ideia. E acrescenta que, durante as aulas, apesar de ambos os sexos conversarem, as meninas param na hora que o professor chama a atenção, enquanto os meninos continuam o bate-papo. “Isso atrapalha o rendimento”, ensina a jovem.
Dificuldades
Voltando ao todo, sem distinção de gêneros, a pesquisa constatou a presença de dificuldades em 29,4% da amostra de crianças e adolescentes analisados, predominando as de ordem emocional (36,7%), seguida pelas dificuldades na área comportamental (problemas de conduta, 31%), de relacionamento com seus pares (26,9%) e de relacionamento social (6,3%). No entanto, apenas 12,7% das crianças e adolescentes apresentavam prejuízo decorrente dessas dificuldades.
No que diz respeito ao desempenho escolar, 70,4% das crianças e adolescentes da amostra apresentaram rendimento na média ou acima dela, de acordo com os professores. Entretanto, vários fatores contribuem para aumentar as chances de resultados ruins nos estudos. Adolescentes apresentam um risco 57% maior que crianças e filhos de pais separados um risco 46% maior do que de pais casados (veja quadro).
De acordo com a pedagoga Nilva Zorzo, a piora no desempenho dos adolescentes se refere a uma mudança de interesses comum à idade. Ela diz que, nessa fase, os jovens querem estar com o grupo e dão valor a coisas que consideram mais interessantes. Há ainda a descoberta do corpo e a sexualidade aflorada. “O desempenho acadêmico acaba ficando para segundo plano”, relata.
Quanto à hiperatividade e deficit de atenção, Nilva afirma que os transtornos atrapalham o rendimento nos estudos se não houver trabalho em conjunto da escola com a familia. Ela ressalta que o problema é quando há a negligência. Comparada com outros países, a estimativa de 12,7% de crianças e adolescentes brasileiros com alto risco de transtornos mentais obtida pelo Projeto Atenção Brasil é superior à de países desenvolvidos, como Estados Unidos (8,4%), Grã-Bretanha (8,8%), Itália (8,2%) e Noruega (7%). No entanto, quando a comparação é feita com países em desenvolvimento, como Índia (15%), Porto Rico (16,4%) e Rússia (15%), o Brasil se sai melhor.
Para o neurologista Marco Antônio Arruda, as famílias precisam mudar a forma de educar seus filhos. “Por conta dos problemas de segurança, as crianças estão cada vez mais presas em casa, ficam envolvidas com jogos de videogame e computador, tendo pouca chance de desenvolver habilidades sociais, o que é fundamental para a educação da criança”, afirma. “É preciso ensinar a criança a resolver problemas. Definir um problema, considerar diferentes soluções possíveis, decidir sobre a mais apropriada e aprender com as consequências.”
Liminar suspende gratificação
A partir de agosto, cerca de 25 professores da Secretaria de Educação do Distrito Federal não receberão mais o valor da gratificação por dedicação exclusiva (Tidem), correspondente a 50% do salário-base. O pagamento foi suspenso por liminar obtida na última quinta-feira pela Promotoria de Justiça de Defesa da Educação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que no início de julho ajuizou ação civil pública por improbidade administrativa contra o grupo. A Tidem está prevista na Lei Distrital nº 4.075/2007 e é válida apenas para concursados que tenham carga horária de 40 horas semanais e optem por exercício de docência de forma exclusiva. Após denúncias, a promotoria constatou que havia professores recebendo a gratificação mesmo exercendo outros cargos. O grupo será notificado e poderá recorrer. No entanto, se condenado definitivamente, depois do devido processo legal, terá que devolver os valores recebidos indevidamente e perderá a função pública. O Sinpro-DF informou que não tem conhecimento de professores trabalhando de forma irregular, mas que os advogados do sindicato já estudam o caso.
Camila de Magalhães
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