9.12.2011

Saúde do coração

Aplicação de energia trata o coração descontrolado


RIO - Pesquisa brasileira inédita mostra que a ablação - uso de energia de radiofrequência para queimar o coração - é uma excelente medida para acabar com uma forma grave de arritmia (defeito no ritmo cardíaco), a fibrilação atrial. A pesquisa, coordenada pelo cardiologista Eduardo Saad, do Hospital Pró-Cardíaco, no Rio, foi apresentada no Congresso Europeu de Cardiologia e será publicada na revista científica "Circulation Arrhythmia & Electrophysiology".
A equipe carioca acompanhou por seis anos 327 pacientes submetidos à ablação desde novembro de 2003 e concluiu que é possível eliminar a arritmia com essa técnica, e esses pacientes não sofreram Acidente Vascular Encefálico (um efeito da fibrilação), mesmo sem tomar anticoagulantes. A fibrilação atrial é um problema elétrico que ocorre espontaneamente em corações saudáveis (até 30% dos casos) ou em decorrência de males cardíacos, como insuficiência, infarto e problemas nas válvulas. Além de derrame, os sintomas são palpitações, falta de ar, cansaço e inchaço.
A alteração atinge cerca de 2% da população brasileira (o equivalente a 4 milhões de brasileiros) e se manifesta em qualquer idade, porém a sua incidência aumenta com a idade, atingindo 10% da população acima dos 75 anos. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, um em cada dez mil jovens sofrem do problema. Nesses indivíduos, ele é geralmente intermitente, mas pode se tornar crônico em 25% dos casos, explica Saad.
- Estresse, álcool e fumo podem desencadear a fibrilação, porém na maioria das vezes não se sabe a causa - diz o médico.
Segundo ele, as chances de um pessoa com fibrilação sofrer um derrame - devido à formação de coágulos no coração - são de cinco a sete vezes maiores do que numa pessoa saudável. O diagnóstico é confirmado em consulta e por exames de eletrocardiograma, holter de 24h e monitor de eventos prolongado.
Inicialmente, o tratamento da arritmia é feito com medicamentos. Indivíduos de maior risco, isto é, idade acima de 75 anos, hipertensos, diabéticos, com insuficiência cardíaca, ou que já tiveram AVE, devem fazer a prevenção com remédios anticoagulantes. E aqueles que não respondem ou são intolerantes aos medicamentos precisam ser submetidos à ablação: cerca de 50% dos casos.
- Em pessoas com essas características, a ablação é segura e eficaz, corrigindo o problema em 80% dos casos. O objetivo é cauterizar com auxílio de um cateter as zonas de distúrbio elétrico, geralmente localizadas ao redor das veias pulmonares - diz Saad. - A cicatriz formada impede novas descargas elétricas irregulares. Porém os locais cauterizados podem se regenerar e há necessidade de nova ablação em 20%. O tratamento é oferecido pelo SUS no Instituto Nacional de Cardiologia.
Outra opção para prevenir AVEs nesses pacientes é a "oclusão percutânea do apêndice atrial esquerdo", que forma 90% dos trombos no coração. Esta cirurgia é indicada em situações em que não se consegue eliminar a arritmia de outro modo e em pessoas que não podem tomar anticoagulantes.
- Assim evitamos os AVEs mesmo sem eliminar a arritmia - conclui Saad.
A fibrilação atrial é a quinta maior causa de internação no Sistema Único de Saúde. Para chamar a atenção, a Sociedade Brasileira de Arritmias lançou a campanha "pulsAÇÃO - sentindo o ritmo do seu coração", com o objetivo de conscientizar a população sobre a importância de diagnosticar e tratar a doença.

O Globo
Antônio Marinho (amarinho@oglobo.com.br)

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