Mulheres elegem sono, sexo e ficar com os amigos como prioridades em um dia perfeito, diz pesquisa
Em vez de horas no shopping ou na academia, elas querem dar atenção a quem importa e, principalmente, aliviar o cansaço
RIO - Em um dia perfeito, uma mulher ocidental de 38 anos dá
prioridade a uma noite bem dormida, um pouco de sexo e algum tempo com
os amigos, garante uma pesquisa da Universidade de Bremen, na Alemanha e
do Instituto de Tecnologia da Georgia, nos Estados Unidos. No estudo
Just A Perfect Day: Developing a Happiness Optimized Day Schedule,
publicado na “Journal of Economic Psicology”, os pesquisadores Christian
Kroll e Sebastian Pokuta entrevistaram 900 mulheres economicamente
ativas para descobrir que falta tempo para o básico. Em vez de horas no
shopping ou na academia, elas querem dar atenção a quem importa e,
principalmente, aliviar o cansaço. No Brasil, dados do estudo Episono,
realizado em 2007 pelo Instituto do Sono, também mostram que as mulheres
dormem 6h33m mas gostariam de dormir mais. Exatamente 1h49m a mais. Já
os homens têm 6h28m de sono e ficariam mais 1h34m na cama.
— De tudo o que acontece no nosso corpo, o sono é a única variável sobre a qual temos uma certa ingerência e é justamente o que sacrificamos quando queremos mais tempo para outras atividades — observa a bióloga Lúcia Rotemberg, vice-chefe do laboratório de Educação em Ambiente e Saúde da Fiocruz, que atualmente faz um pós-doutorado em sociologia sobre o uso do tempo. — Temos um orçamento, é preciso eleger prioridades dentro das nossas 24 horas, que são as mesmas para todo mundo: rico ou pobre, o tempo é o mesmo. Hoje vivemos num mundo produtivista, com muitas demandas e uma competição muito alta, o trabalho é levado para casa. Como tempo tem a ver com espaço, tudo fica misturado e, para descansar, é preciso reequilibrar esse orçamento — explica.
As razões para este déficit de horas de sono vão desde a perda de uma a duas horas por século desde a invenção da luz elétrica — quando passamos a dormir menos —até a lista de tarefas diárias da gincana feminina que cada vez aumenta mais.
— As mulheres dessa faixa etária da pesquisa têm mais insônia, na proporção de três para um homem. A mulher trabalha, gerencia casa, filhos, marido, seu papel social é muito maior. Se fizessem esta pesquisa no Brasil o resultado seria bem parecido — acredita a neurocientista Dalva Poyares, médica do Instituto do Sono e professora da Unifesp.
Menos sono mais perto da menopausa
Na contabilidade da diretora de novelas Amora Mautner, 37 anos, as oito horas de sono também estariam em primeiro lugar, seguidas por cinco horas com a filha, quatro horas para o trabalho (“sou viciada!”), duas horas para os amigos, uma hora para ouvir música, outra para análise e três horas para namorar (“vamos fazer uma média com os futuros namorados”). Logo em seguida ela lembra que um ex-namorado começou a querer terminar o relacionamento quando, aos 27 anos, ela decretou que suas prioridades eram 60% para o trabalho e 20% para os amigos e ele se assustou quando fez a conta da parte que sobrava.
— E eu nem tinha filhos imagina?
Hoje, admite, apostaria no sono.
— Até os 36 anos eu dormia bem, agora está pior e mais difícil a cada dia — diz ela, garantindo que a culpa não é da filha Júlia, de 5 anos, nem da trama eletrizante de “Avenida Brasil”, que acabou de dirigir e da qual tira merecidas férias. — Cordel (a novela das seis “Cordel Encantado”) me sacrificava mais porque era uma novela com muitos eventos e eu gravava muito, não é isso não. Idade, talvez.
Segundo a ginecologista Elisabete Dobao, nessa faixa etária ainda não há uma baixa de estrogênio que chegue a afetar o sono, o que geralmente acontece lá pelos 42 anos, com a aproximação da menopausa. Aí sim, o sono é menos eficiente, em menos horas e de baixa qualidade, dando aquela sensação de dormir mas não descansar.
— O que geralmente acontece é que a mulher se permite um nível de solicitação desumano, como profissional, mãe, amante. E ainda tem que estar bonita, não há qualidade de vida que aguente. Se a pessoa passa o dia nesse nível de ansiedade, chega em casa e não desliga. Minhas pacientes relatam esse nível de cansaço e dizem muito que às onze da noite sentam para relaxar, mas quem consegue desligar e cair no sono em meia hora? — questiona a médica, que tem em seu consultório 80% das pacientes entre 30 e 50 anos.
A chef Flávia Quaresma, 46 anos, sempre dormiu pouco, em média seis horas por noite, já que o trabalho ia até tarde e ela gosta de acordar cedo. Até os 40 anos foi fácil, mas depois...
— Até os 40 deu para driblar bem, mas agora faz diferença, já começo a ver mudanças no sono, não me sinto tão relaxada. Eu achava que era uma coisa de ansiedade minha, mas acho que pode ser uma coisa feminina mesmo. É muita cobrança né? A vida tem que estar sempre um espetáculo, a mulher tem muito o que administrar. Só de beleza é unha, depilação, cabelo. Sábado, que seria o dia de acordar mais tarde, a gente corre para o salão — brinca.
Em sua lista, Flávia põe o sono sagrado na primeira posição, “seis horas para estar bem e oito horas para ficar feliz, esperta”. Em seguida, duas horas de atividades físicas:
— Adoro jogar tênis mas não consigo colocar isso na minha vida. É fundamental fazer esporte, principalmente no Rio, que dá para passear na praia.
Em terceiro lugar viria ter tempo cinema e teatro, além de duas horas para não fazer nada, ler um livro, um tempo só para ela. E o restante, gasto em atividades cotidianas mesmo.
— Eu viajo de uma a duas vezes por semana para fazer algum evento fora do Rio. Luxo seria ter alguém para fazer minha mala — diz, para logo se corrigir: — Ter tempo é o grande luxo.
— De tudo o que acontece no nosso corpo, o sono é a única variável sobre a qual temos uma certa ingerência e é justamente o que sacrificamos quando queremos mais tempo para outras atividades — observa a bióloga Lúcia Rotemberg, vice-chefe do laboratório de Educação em Ambiente e Saúde da Fiocruz, que atualmente faz um pós-doutorado em sociologia sobre o uso do tempo. — Temos um orçamento, é preciso eleger prioridades dentro das nossas 24 horas, que são as mesmas para todo mundo: rico ou pobre, o tempo é o mesmo. Hoje vivemos num mundo produtivista, com muitas demandas e uma competição muito alta, o trabalho é levado para casa. Como tempo tem a ver com espaço, tudo fica misturado e, para descansar, é preciso reequilibrar esse orçamento — explica.
As razões para este déficit de horas de sono vão desde a perda de uma a duas horas por século desde a invenção da luz elétrica — quando passamos a dormir menos —até a lista de tarefas diárias da gincana feminina que cada vez aumenta mais.
— As mulheres dessa faixa etária da pesquisa têm mais insônia, na proporção de três para um homem. A mulher trabalha, gerencia casa, filhos, marido, seu papel social é muito maior. Se fizessem esta pesquisa no Brasil o resultado seria bem parecido — acredita a neurocientista Dalva Poyares, médica do Instituto do Sono e professora da Unifesp.
Menos sono mais perto da menopausa
Na contabilidade da diretora de novelas Amora Mautner, 37 anos, as oito horas de sono também estariam em primeiro lugar, seguidas por cinco horas com a filha, quatro horas para o trabalho (“sou viciada!”), duas horas para os amigos, uma hora para ouvir música, outra para análise e três horas para namorar (“vamos fazer uma média com os futuros namorados”). Logo em seguida ela lembra que um ex-namorado começou a querer terminar o relacionamento quando, aos 27 anos, ela decretou que suas prioridades eram 60% para o trabalho e 20% para os amigos e ele se assustou quando fez a conta da parte que sobrava.
— E eu nem tinha filhos imagina?
Hoje, admite, apostaria no sono.
— Até os 36 anos eu dormia bem, agora está pior e mais difícil a cada dia — diz ela, garantindo que a culpa não é da filha Júlia, de 5 anos, nem da trama eletrizante de “Avenida Brasil”, que acabou de dirigir e da qual tira merecidas férias. — Cordel (a novela das seis “Cordel Encantado”) me sacrificava mais porque era uma novela com muitos eventos e eu gravava muito, não é isso não. Idade, talvez.
Segundo a ginecologista Elisabete Dobao, nessa faixa etária ainda não há uma baixa de estrogênio que chegue a afetar o sono, o que geralmente acontece lá pelos 42 anos, com a aproximação da menopausa. Aí sim, o sono é menos eficiente, em menos horas e de baixa qualidade, dando aquela sensação de dormir mas não descansar.
— O que geralmente acontece é que a mulher se permite um nível de solicitação desumano, como profissional, mãe, amante. E ainda tem que estar bonita, não há qualidade de vida que aguente. Se a pessoa passa o dia nesse nível de ansiedade, chega em casa e não desliga. Minhas pacientes relatam esse nível de cansaço e dizem muito que às onze da noite sentam para relaxar, mas quem consegue desligar e cair no sono em meia hora? — questiona a médica, que tem em seu consultório 80% das pacientes entre 30 e 50 anos.
A chef Flávia Quaresma, 46 anos, sempre dormiu pouco, em média seis horas por noite, já que o trabalho ia até tarde e ela gosta de acordar cedo. Até os 40 anos foi fácil, mas depois...
— Até os 40 deu para driblar bem, mas agora faz diferença, já começo a ver mudanças no sono, não me sinto tão relaxada. Eu achava que era uma coisa de ansiedade minha, mas acho que pode ser uma coisa feminina mesmo. É muita cobrança né? A vida tem que estar sempre um espetáculo, a mulher tem muito o que administrar. Só de beleza é unha, depilação, cabelo. Sábado, que seria o dia de acordar mais tarde, a gente corre para o salão — brinca.
Em sua lista, Flávia põe o sono sagrado na primeira posição, “seis horas para estar bem e oito horas para ficar feliz, esperta”. Em seguida, duas horas de atividades físicas:
— Adoro jogar tênis mas não consigo colocar isso na minha vida. É fundamental fazer esporte, principalmente no Rio, que dá para passear na praia.
Em terceiro lugar viria ter tempo cinema e teatro, além de duas horas para não fazer nada, ler um livro, um tempo só para ela. E o restante, gasto em atividades cotidianas mesmo.
— Eu viajo de uma a duas vezes por semana para fazer algum evento fora do Rio. Luxo seria ter alguém para fazer minha mala — diz, para logo se corrigir: — Ter tempo é o grande luxo.
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