Jovem de 21 anos é descrito como "alegre" e "calmo" por conhecidos.
Mas para a polícia, ele se mostrou "frio" e "calculista" ao confessar crimes.
194 comentários
Assassino confesso de seis taxistas está preso em Santana do Livramento (Foto: Tadeu Vilani/Agência RBS)
Um jovem de 21 anos, de classe média e sem antecedentes criminais.
Aparentemente acima de qualquer suspeita, esse é o perfil do homem preso
no último sábado (13) após confessar o assassinato de seis taxistas no Rio Grande do Sul. Para pessoas que conheceram o rapaz, é difícil acreditar que ele seja o criminoso “frio” e “calculista” descrito pela polícia.O jovem é natural de Santana do Livramento, cidade na fronteira com o Uruguai, a 497 quilômetros de Porto Alegre. Lá, fez suas primeiras três vítimas, na madrugada de 28 de março. Viajou de volta para Porto Alegre e, dois dias depois, repetiu a série de crimes, quase sempre com o mesmo ritual, segundo aponta a Polícia Civil.
Após 16 dias de investigações, os agentes confirmaram a localização dele e efetuaram a prisão no sábado (13). O jovem foi abordado no momento em que saía de casa. Segundo o chefe da Polícia Civil, delegado Ranolfo Vieira Júnior, vestia calça social, camisa e sapato. “É um rapaz bem apessoado, que não condiz com o perfil de criminoso”, avalia. “Não fosse a grande quantidade de provas, seria difícil de acreditar”, acrescenta o delegado Cristiano Reschke, que coordenou as investigações na capital.
s
Dentro do apartamento que dividia com um amigo, também santanense, o
jovem não se mostrou surpreso e permaneceu tranquilo, mesmo com a
presença dos policiais. Chegou a deitar no sofá, conta Reschke. Só
demonstrou nervosismo quando os agentes começaram a achar provas dos
crimes, como celulares das vítimas e as roupas usadas por ele no dia das
mortes.O trajeto do apartamento até a delegacia, onde o jovem prestou depoimento durante três horas e meia na noite de sábado, foi feito no mesmo carro do delegado Ranolfo. Em um primeiro momento, o suspeito negou ser o autor das mortes. Só confessou mais tarde, no depoimento formal. “Ele friamente, pormenorizadamente, detalhou toda a sua ação, contando detalhes”, diz Ranolfo.
Chamou a atenção da polícia o fato de o jovem escolher as vítimas de forma aleatória. E também a frieza com que as matava. “Ele sentava no banco de trás, mandava parar o carro em um determinado lugar e, então, desferia dois tiros na cabeça da vítima. Ele sequer anunciava o assalto”, conta a delegada Melina Bueno Corrêa, responsável pelo depoimento.
Conforme o chefe da Polícia Civil, o jovem permaneceu “tranquilo” durante todo o interrogatório e praticamente não demonstrou remorso. “Ele disse para mim que não conseguiu dormir depois dos fatos em Santana do Livramento. Mas depoisguiu matando. Não mostrou arrependimento e em nenhum momento chorou”, diz Ranolfo.
'Ele estava sempre brincando', diz gerente que ia contratar o jovem
A motivação dos crimes foi financeira. O jovem contou a polícia que precisava pagar uma dívida de R$ 1.250, do aluguel e condomínio onde morava, no bairro Santa Cecília, de classe média. “O apartamento dele é bem localizado, bem mobiliado, com televisão de LCD, refrigerador de inox”, conta Ranolfo. Com os crimes, o jovem obteve R$ 870 em dinheiro.
Menos de uma semana antes de ser preso, o suspeito arrumou emprego em uma escola de informática na Zona Norte de Porto Alegre. Desde a segunda-feira (8), ele passava por um processo seletivo e de treinamento. Segundo o gerente comercial da unidade, que prefere não se identificar, o jovem era postulante a um cargo de vendedor de cursos e não de instrutor de informática para crianças, como foi divulgado pela polícia.
Nos cinco dias que trabalhou no local, o jovem mostrou competência, dinamismo e bom relacionamento com as pessoas. Foi descrito pelo gerente como um rapaz “alegre” e com um futuro promissor. “Ele se mostrou muito interessado. Sempre solícito, muito educado, conversava com todo mundo. Chamei a atenção dele algumas vezes e ele nunca respondeu, nunca demostrou agressividade”, lembra o gerente.
Falante e proativo, o autor de uma série de crimes que chocou o estado e provocou revolta e protestos de taxistas na capital estava conquistando a simpatia e a amizade dos novos colegas de trabalho com brincadeiras. “Ele estava sempre fazendo piadas, era motivo de risada, de alegria. Era bastante sociável, queria conquistar o grupo. Talvez tenha sido dissimulado. Ou é muito bom ator”, opina o gerente.
Quando o rapaz não apareceu para trabalhar no sábado, o responsável pela escola queria saber o que havia ocorrido e ligou para ele, pela manhã. O jovem disse que o amigo com quem dividia o apartamento estava com problemas e que não sabia se poderia ir trabalhar. Depois, desligou o telefone. O gerente só soube o que aconteceu no domingo (14), pela televisão. “Foi uma grande surpresa para todos. Fui conferir o nome dele no currículo e custei a acreditar que ele tinha feito aquilo”, lembra.
Na cidade natal, perplexidade e histórico de pequenos problemas
Perplexos também ficaram algumas pessoas que conheceram o jovem em Santana do Livramento, onde ele nasceu e morou até os 19 anos. “Acho que todos nós da cidade estamos chocados. A gente tem dificuldade de entender como uma pessoa pode matar três taxistas santanenses e depois repetir isso em outro local”, questiona uma vizinha da família, que mora no bairro Cohab Armour.
Irmã de um dos taxistas assassinados na cidade, a vendedora Neida Rolim Lencina, de 59 anos, era vizinha de uma antiga namorada do rapaz na cidade, antes de ele se mudar para a capital. “O conheci da esquina, como vizinho. Faz um ano que ele se foi. Ele ia e vinha. Parecia tão calmo, não me entra na cabeça ele ter feito isso com essas famílias. Por fora isso, mas por dentro ele é um assassino frio”, desabafa a irmã de Ênio Rolim Lencina, de 55 anos, a terceira vítima do jovem.
O amigo com quem o jovem dividia o apartamento em Porto Alegre confirmou à polícia essa tendência de envolvimento em brigas, com estranhos e também com conhecidos. “O relato do amigo foi no sentido de que, muitas vezes, ele acabava se envolvendo em brigas em festas e com pessoas dentro do seu círculo de amizades”, atesta o delegado Ranolfo.
Pequenos problemas comportamentais e disciplinares também levaram o jovem a ser expulso do Exército, em 2010. Ele servia na 2ª Bateria de Artilharia Antiaérea da cidade. “Foram faltas leves, como chegar atrasado, não se barbear direito, não vestir a farda corretamente. O somatório levou à expulsão. Fora o aspecto disciplinar, ele não apresentava nenhuma outra particularidade”, explicou o capitão Allan Dias Mercês. O jovem deu baixa depois de oito meses de serviço militar.
Filho de pais separados, o suspeito foi criado pela avó paterna. Ainda conforme o relato de pessoas próximas a família, os pais sempre foram distantes e ausentes – a mãe teria entregue a criança ainda bebê e formou outra família, enquanto o pai teria uma relação complicada com o rapaz e os dois pouco se falavam.
Ironicamente, o avô do jovem exerceu a profissão de taxista em Santana do Livramento por mais de 30 anos. Seu tio-avô também era motorista de táxi na cidade. Fato que provocou especulações de que ele poderia ter executado os taxistas antes de roubá-los em função de um trauma de infância ou para satisfazer algum desejo de vingança. Mas, até o momento, nada aponta para essa direção.
A crueldade dos homicídios – todos os motoristas foram executados pelas costas, sem chances de defesa – e a forma sequencial como que foram cometidos levou o delegado Ranolfo a caracterizar o jovem como um “serial killer”. Em uma entrevista, o governador Tarso Genro o definiu como um “psicopata”.
Para o ex-diretor do Instituto Psiquiátrico Forense (IPF) de Porto Alegre, no entanto, não é possível atestar qualquer distúrbio mental no suspeito sem antes fazer uma avaliação individual completa. “Todos querem encontrar uma explicação para a ação violenta desse rapaz. Mas esse diagnóstico é feito após um extensa e minuciosa avaliação, que envolve longas entrevistas”, explica o psiquiatra Gabriel Neves Camargo.
O psicanalista e também perito forense do IPF Paulo Oscar Teitelbaum diz que o termo é frequentemente usado de maneira equivocada. “É preciso fazer uma distinção entre o uso leigo e o diagnóstico dessa condição. Comportamento criminal é uma coisa e psicopatia é outra. É temerário fazer qualquer avaliação precipitada”, resume ele.
Segundo os dois médicos, a psicopatia consiste em um conjunto de traços de personalidade, como pouco apreço pela vida dos outros e dificuldades de se envolver emocionalmente, entre outros. A grande maioria dos indivíduos diagnosticados com essa doença mental não comete crimes ou têm comportamento violento. Do mesmo modo, a grande maioria de homicidas não são psicopatas, garantem eles.
À polícia, o jovem contou que a motivação era puramente financeira: matar para roubar. Ele afirmou que optou por assaltar taxistas porque eram vítimas mais “fáceis” e que executou todos eles porque queria se certificar de que não seria reconhecido. “Ele disse que saiu para matar, tanto que a primeira coisa que fazia era disparar e só depois ver o que as vítimas tinham para ser roubado”, diz a delegada Melina.
SAIBA MAIS:
- Matador confesso de taxistas presta novo depoimento à polícia no RS
-
'Agradeço a Deus e a um colega', diz
taxista que escapou da morte no RS - 'Foram faltas leves', diz capitão sobre conduta de matador de taxistas
- Prisão de assassino de taxistas choca vizinhos e traz alívio à categoria
-
'Não é uma pessoa normal', diz Tarso
sobre suspeito de matar taxistas -
Suspeito de matar taxistas no RS
sequer anunciava assaltos, diz polícia -
Suspeito de matar taxistas roubava
para pagar aluguel, diz polícia do RS
Nenhum comentário:
Postar um comentário