12.24.2014

As mentiras da Veja sobre gravidez e partos no Brasil


Parto normal vs. cesárea: desmascarando as mentiras do menino maluquinho da revista Veja

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Colunista da Veja, Rodrigo Constantino (foto) produziu um texto histérico e mentiu deliberadamente sobre estudo “Nascer Brasil” (Pragmatismo Político)
Carolina Brulher, Mãe em Treinamento
Há alguns dias, a Fiocruz publicou o estudo “Nascer Brasil” onde acompanhou 24 mil mulheres e analisou alguns dados importantes sobre gravidez/parto. Concluiu o que todos já sabemos: embora o índice de cesarianas no Brasil seja de 56% (46% na rede pública e 88% na rede privada) a maior parte das mulheres iniciam o pré-natal desejando o parto normal (70%).

A pesquisa lembrou ainda dos riscos provenientes da cesárea e os motivos desse índice tão alto: conveniência dos médicos, desinformação da mulher. Nada de novo, também.

A Associação de Ginecologia Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ) apressou-se em tentar desmentir a pesquisa. O médico Raphael Câmara, representante desta entidade, cumprindo seu papel corporativo, concedeu entrevista à Globo News usando todas as armas para desqualificar a pesquisa feita pela Fiocruz. Entre muitos contra-ataques, disse que não há provas científicas e nem estudos que comprovem os malefícios da cesárea indicados pelo estudo da Fiocruz.

A mesma associação enviou uma carta exclusivamente (!) ao blog do Rodrigo Constantino (!), da revista Veja (!), repetindo os argumentos do Dr. Raphael Câmara de que não existem provas científicas das conclusões da pesquisa a Fiocruz e, ainda, acusando a pesquisa de estar contaminada por ideologia (!). Rodrigo Constantino publicou a carta com o título de “É preciso fazer uma cesariana para extirpar o comunismo da Fiocruz”.

A SGORJ e Rodrigo Constantino mentem deliberadamente. A um, por ignorar que a Guerra Fria acabou; a dois, por fingir que não sabem dos diversos estudos científicos que concluíram basicamente o mesmo que este estudo da Fiocruz (acusado de ser comunista).

Estarrecida com o ataque de pelancas do corporativismo da SGORJ e com a síndrome de adolescente pirracento de Rodrigo Constantino, a Professora Dra. Carla Andreucci Polido, da UFSCAR, ginecologista obstetra, apressou-se em apresentar (mais uma vez) uma série de estudos científicos a corroborar o resultado da pesquisa da Fiocruz.

Constantino e SGORJ, deliberadamente, omitem que:
1. Em 8.026.415 mulheres submetidas a um parto vaginal ou a uma cesariana, a taxa de mortalidade perinatal na cesárea foi 2,4 vezes maior que no parto vaginal (“Neonatal Mortality for Primary Cesarean and Vaginal Births to Low-RiskWomen: Application of an ‘‘Intention-to-Treat’’ Model. MacDorman et al., BIRTH, 2008.);
2. A pesquisa na Coorte prospectiva (WHO Global Survey) com 97.095 nascimentos, concluiu que na cesariana a chance de antibioticoterapia é até 5 vezes maior que nos partos normal e natural, até 3 vezes maior a chance de morbidade materna na cesariana eletiva, até 5 vezes maior a taxa de mortalidade materna, até 4 vezes maior a chance de histerectomia e até 2 vezes maior a chance de internação na UTI ou internação maior que 7 dias (“Maternal and neonatal individual risks and benefits associated with caesarean delivery: multicentre prospective study, Villar et al., BMJ, 2007.”);
3. Um estudo em 24 países, com 373 instituições de saúde e 290.610 nascimentos, concluiu que mulheres submetidas a cesarianas apresentaram 5,93 mais chances de morbidade grave. (“Caesarean section without medical indications is associated with an increased risk of adverse shortterm maternal outcomes: the 2004-2008 WHO Global Survey on Maternal and Perinatal Health. Souza et al., BMC, 2010″);
4. A taxa de cesariana acima de 15% não é justificada do ponto de vista médico. (“Searching for the Optimal Rate of Medically Necessary Cesarean Delivery. Ye J1, Betrán AP, Vela MG, Souza JP, Zhang J., BIRTH Abril 2014″);
5. Constantino e SGORJ mentem deliberadamente ao alegar que as mulheres brasileiras preferem a cesárea por medo da dor: o aumento nas taxas de cesarianas no Brasil deve-se, também, a um grande número de cesarianas indesejadas na saúde suplementar. (Potter et al., BJOG, dez 2001);
6. O menino maluquinho e o médico corporativista também decidiram não contar que médicos da saúde privada no Brasil, com frequência, convencem suas pacientes a agendar cesarianas por motivos inexistentes ou irreais. (Potter et al., BIRTH, dez 2008).
Por fim, comprovada o festival de mentiras e omissões deliberadas da VEJA/Constantino e da SGORJ/Raphael Câmara, é bom dizer que:

 i) a Unicef/OMS/ONU recomenda que não mais que 15% dos partos sejam feitos via cirurgia;

 ii) a CPMI do Congresso Nacional chegou às mesmas conclusões de todos estes estudos internacionais e nacionais, o que levou a aprovar um profundo relatório denominado “Parirás com dor” (autoria do coletivo Parto do Princípio – Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa) onde, além da problemática da cesariana, aborda o complexo tema da violência obstétrica (vale a leitura); e iii) depois de muita luta das mulheres e da comunidade científica internacional, esta semana foi protocolado, pelo mandato do deputado federal Jean Wyllys, do PSOL-RJ (talvez aqui seja o nascedouro da paranoia do Rodrigo Constantino) o Projeto de Lei 7633/2014, que visa garantir à gestante o direito ao parto humanizado, conforme sua vontade, à mínima interferência médica, acompanhamento, correta informação sobre procedimentos e direitos, e ao abortamento seguro, nos casos já previstos em lei, concedendo à mulher o protagonismo do parto ante a todas as informações necessárias para que a mulher tenha condições de escolher o tipo de parto.

Constantino, no início do seu texto disse que não iria entrar no mérito da discussão porque não entendia do assunto. Esse fato, que fala por si, esclarece boa parte dos equívocos e alucinações de sua coluna: na ânsia de usar a Veja para nos salvar de mais essa “ameaça comunista” (o direito das mulheres não sofrerem violências durante o pré-parto, parto e pós-parto), produziu um texto histérico, com argumentos vazios e repetitivos, que mostraram-se incapazes de rebater os dados da pesquisa que pretendia invalidar.


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