O Senhor prometera aos seus discípulos que, passado um pouco de tempo, estaria com eles para sempre. O Senhor cumpriu sua promessa nos dias em que permaneceu junto dos seus após a ressurreição, mas essa presença não terminará quando subir com o seu Corpo glorioso ao Pai, pois pela sua Paixão e Morte nos preparou um lugar na casa do Pai, “onde há muitas moradas” (Jo 14,2). “Voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que, onde eu estou, estejais também vós” (Jo 14, 3).
Na ressurreição, contemplamos o Cristo totalmente glorificado pelo Pai na força do Espírito. É este o mistério da ressurreição. Mas há mais: ao ser glorificado, Ele, que é uma pessoa divina, é entronizado com todo o poder no Céu e na Terra: Ele, ressuscitado, é constituído Senhor do universo, Senhor da história, Senhor da nossa vida. É isso que a Escritura e a Tradição querem dizer ao afirmar que Ele está “sentado à direita de Deus Pai”: Ele recebeu o senhorio sobre tudo. Agora tem o senhorio do Verbo, como Filho feito homem, que recebe tal poder. Ou seja, um de nós está na comunhão da Trindade, Ele é o Senhor do Céu e da Terra, é Senhor dos Anjos e está no topo de todas as coisas. É o que dirá a oração após a comunhão da Missa de hoje: “Deus eterno e todo-poderoso... fazei que nossos corações se voltem para o alto, onde está junto de vós a nossa humanidade”.
A Ascensão aos Céus é o último mistério da vida do Senhor aqui na Terra. É um mistério redentor, que constitui, com a Paixão, a Morte e a Ressurreição, o mistério pascal. Convinha que os que tinham visto Cristo morrer na Cruz entre os insultos, desprezos e escárnios, fossem testemunhas da sua exaltação suprema.
Comentando sobre a Ascensão, ensina São Leão Magno: “Hoje não só fomos constituídos possuidores do paraíso, mas com Cristo ascendemos, mística, mas realmente, ao mais alto dos céus, e conseguimos por Cristo uma graça mais inefável que a que havíamos perdido”.
A Ascensão fortalece e estimula a nossa esperança de alcançarmos o Céu e incita-nos constantemente a levantar o coração, a fim de procurarmos as coisas que são do alto. Agora a nossa esperança é muito grande, pois o próprio Cristo foi preparar-nos uma morada. A esperança do céu encherá de alegria o nosso peregrinar diário. Imitaremos os apóstolos que, segundo São Leão Magno, “tiraram tanto proveito da Ascensão do Senhor que tudo quanto antes lhes causava medo, depois se converteu em alegria. A partir daquele momento, elevaram toda a contemplação das suas almas à divindade que está à direita do Pai; a perda da visão do corpo do Senhor não foi obstáculo para que a inteligência, iluminada pela fé acreditasse que Cristo, mesmo descendo até nós, não se tinha afastado do Pai e, com a sua Ascensão, não se separou dos seus discípulos”.
São Lucas exprime essa realidade nos Atos dos Apóstolos, afirmando que Jesus “foi elevado ao céu” e “uma nuvem O encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-Lo”. O “subir”, aqui, tem um sentido qualitativo: subiu para uma vida superior, para uma plenitude que não é deste mundo. O Verbo Encarnado e Ressuscitado está totalmente imerso no mundo de Deus. Assim podemos significar a nuvem que O encobre. Agora já não podemos mais vê-Lo com os olhos da carne e sim da fé.
Portanto, a felicidade da vida eterna consistirá antes de tudo na visão beatífica. Essa visão não é somente um conhecimento intelectual perfeitíssimo, mas também comunhão de vida com Deus, Uno e Trino. Ver a Deus é encontrar-se com Ele, ser feliz N’Ele. Da contemplação amorosa das três Pessoas divinas brotará em nós uma alegria ilimitada. Serão satisfeitas, sem termo e sem fim, todas as exigências de felicidade e de amor do nosso pobre coração.
A missão que Ele deixa à Igreja, “vós sereis testemunhas de tudo isso”, continua hoje. E comemorar o 50º Dia Mundial das Comunicações Sociais, com o tema “comunicação e misericórdia: um encontro fecundo”, nos faz continuar a evangelização através de todos os meios que estão e que estarão no futuro ao nosso dispor. Isso para que “em seu nome, sejam anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações”.
Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
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