3.07.2017

O caso de amor entre a Folha e João Doria e o exército de alienados


Por Pedro Breier, colunista do Cafezinho
O Uber Pool, modalidade do aplicativo que permite viagens compartilhadas entre usuários diferentes, proporciona uma interessante interação entre (até aquele momento) completos desconhecidos. Um motorista me relatou que já presenciou negócios sendo fechados entre passageiros, troca de telefones e até beijos ardentes durante a própria viagem. Bonito isso.
Pois há algumas semanas peguei um Uber Pool com um cidadão aparentando ter uns 20 e poucos anos. A conversa passou rapidamente da música para a política.
Quando ele percebeu que eu era de esquerda, adotou uma atitude provocadora, estilo discussão entre torcedores, e falou algo como: “Mas e o Doria hein, vocês não tem nada pra falar dele, o cara tá mandando muito bem!”.
Rebati falando de uma das decisões mais esdrúxulas tomadas por um prefeito na história da humanidade, a de aumentar o limite de velocidade nas marginais e, ato contínuo, mandar ambulâncias novas recebidas do governo federal – que poderiam prover localidades com defasagem de socorro – para as referidas estradas, pois fatalmente aumentariam os acidentes, ferimentos e mortes. Ele deu uma gaguejada, mudou de assunto e continuou no estilo provocador. No fim o debate foi até frutífero.
Lembrei deste episódio ao ler esta reportagem da Folha sobre a proposta de Doria de fechar farmácias em postos de saúde para distribuir os remédios através da rede particular.
É aparentemente uma reportagem bem feita, entrevistando pessoas a favor e contra a medida, explicitando os aspectos positivos e negativos. Só aparentemente.
Isso porque há um claro conflito de interesses nesta questão.
Doria é amigo pessoal de Sidney Oliveira, dono da rede de farmácias Ultrafarma. Tão amigo que publicou um vídeo fazendo propaganda de vitaminas vendidas na Ultrafarma em plena reunião do seu secretariado (o limite entre público e privado é bastante elástico para nosso amigo João, não?). Falei sobre essa bizarrice neste artigo.
Ora, acabar com a rede pública de farmácias e passar a distribuição de medicamentos para a rede privada significa, neste caso, transferir recursos do Estado para o amigo do prefeito – ou alguém acredita que esta distribuição vai ser gratuita? É uma proposta completamente suspeita, mas o leitor da Folha não saberá disso, porque o jornal é tucaníssimo.
A Folha conseguiu chamar o corte drástico na distribuição de leite para crianças pobres de “recriação do programa com foco nos mais pobres e sem adolescentes”. Ou a Folha realmente acredita que crianças acima de 7 anos são adolescentes ou faz um jornalismo chapa branca e mau caráter mesmo. Você sabe qual das opções é a correta.
Esse tipo de manipulação das notícias só é possível em um país com uma das maiores concentrações midiáticas do planeta, senão a maior. A falta de contraponto que chegue a grandes parcelas da população resulta em um exército de pessoas completamente alienados da realidade, crendo piamente que Doria faz um governo incrível, quando na verdade ele está cortando leite das crianças, aumentando a velocidade nas marginais sabendo que isso vai gerar mais mortes e ajudando o amigo dono de rede de farmácias.
Vai ser divertido assistir o desempenho eleitoral da direita depois que a mídia for democratizada no Brasil.

Nenhum comentário: