Bajonas Teixeira destaca a má vontade da Globo na publicação sobre o arquivamento das denuncias fabricadas envolvendo o senador Lindbergh Farias; "é estranho um desmentido tão curto porque, além de terem sido muitas as matérias na imprensa em que Lindbergh aparecia como acusado, elas geralmente vinham recheadas de longos parágrafos e contavam centenas, às vezes até milhares, de palavras"; afirma o colunista
6 DE MAIO DE 2018
Por Bajonas Teixeira, no O Cafézinho- Numa matéria não muito longa, na verdade numa 'reportagem' de apenas 65 palavras, a Globo deu a notícia de que a PGR pediu para arquivar inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o senador Lindbergh Farias. Na íntegra:
"BRASÍLIA – A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu na sexta-feira o arquivamento de inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Ele era acusado de irregularidades na gestão do Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Nova Iguaçu (Previni), quando foi prefeito da cidade (2005-2010). Mas Dodge disse que, após longa apuração, não foram encontradas provas contra ele."
É estranho um desmentido tão curto porque, além de terem sido muitas as matérias na imprensa em que Lindbergh aparecia como acusado, elas geralmente vinham recheadas de longos parágrafos e contavam centenas, às vezes até milhares, de palavras.
Quem lê as 65 palavras acima, tem a impressão de tratar-se de uma notícia que a empresa, a Globo, não queria dar. E, não querendo dar, deu de má vontade, com o máximo de economia discursiva e o mínimo de informação para o leitor. Quase um antigo telegrama ou, atualizando, não muito mais que uma tuitada rancorosa.
É ainda mais alarmante quando lembramos que essa é a segunda denúncia contra Lindbergh que a PGR pede o arquivamento em pouco mais de um ano. A primeira foi relativa ao inquérito originado da denúncia, em colaboração premiada, do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Ou seja, a primeira denúncia, que Janot pediu para arquivar em janeiro de 2017, se originou das "revelações" de Paulo Roberto Costa, efetivo ladrão que se locupletou com a Petrobras e que, feita a sua denunciação premiada modelo Red Bull, ganhou asas e foi curtir sua prisão em presídio de sua propriedade, isto é, em sua mansão particular, fruto dos trabalhos de desvios de recursos da Petrobras.
Desfeita a denúncia, contudo, não se desfez a delação premiada de Paulo Roberto. E por que não? Porque seria colocar em dúvida a palavra do denunciante e, assim, pôr em dúvida a própria denunciação premiada tão decisiva para comprometer o PT e Lula. Enfim, seria colocar em dúvida toda a república de Curitiba.
A falsidade da denúncia fabricada contra Lindbergh, não é prova de que o denunciante, para se livrar da prisão e de um pena muito longa, mentiu contra o senador do PT, um alvo desejado pela Lava Jato. Ao contrário, é como se o arquivamento se desse por incapacidade da justiça de encontrar as provas necessárias. É como diz o subtítulo da matéria:
"Senador era acusado de irregularidades quando foi prefeito de Nova Iguaçu, mas PGR não conseguiu provar suspeita".
A lógica geral que rege as arbitrariedades, casuísmos e exceções que comandam a justiça no Brasil hoje, que inclui sobretudo a prisão como tortura preliminar, aperitivo prisional, é de que os denunciantes tem sempre razão. Tanto é assim que como "prêmio" da delação, conservam a propriedade dos bens de luxo que só através da corrupção poderiam ter adquirido.
Paulo Roberto Costa, por exemplo, cumpre sua parcela domiciliar de prisão em um luxuoso condomínio situado na aprazível Itaipava, na região serrana do Rio, e dispondo no condomínio em que é proprietário (um dos imóveis estava a venda por R$ 14 milhões), para cumprir o seu RDD (Regime Domiciliar Diferenciado) de quadras de tênis, baias para cavalos, um clube, dois restaurantes.
Enfim, é o contexto geral da politização da justiça brasileira que explica as 65 palavras do texto do jornal O Globo. Escrevemos há poucos dias dois artigos sobre a nova fase da Globo, que resolveu assumir o poder judiciário no Brasil. Seis dias depois, Gilmar Mendes, insigne espadachim da justiça oportuna, brindou o país com uma sentença exemplar, correta até na boca de um ministro de picadeiro: "A Globonews é a terceira turma do STF".
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