Produção Coisa Mais Bonita, de Flaira Ferro, gerou debate sobre liberdade sexual feminina
Por: Viver/Diario - Diario de Pernambuco
Vídeo foi dirigido por Déa Ferraz e contou com oito mulheres na frente das câmeras. Foto: YouTube/Reprodução |
A cantora pernambucana Flaira Ferro tem recebido ataques sexistas nas redes sociais a respeito do novo clipe, gravado para a música Coisa mais bonita e lançado nesta terça-feira (13). A produção, dirigida por Déa Ferraz (Câmara de espelhos), promove o debate acerca da emancipação sexual feminina a partir da masturbação e do orgasmo e é estrelada por diversas mulheres que se tocam em frente às câmeras.
"Isso é a prova de que Fernando Ferro (pai desta doente devassa) é um péssimo pai: educou a filha dentro de uma libertinagem lésbica que destrói a saúde mental", escreveu o usuário do YouTube Manoel Carlos, que voltou a se posicionar: "Esse mundo lésbico é doentio mesmo...". "Saudades quando a mulher se dava ao respeito", disse o perfil chamado apenas de Silva. "Pense num show de horrores. Está tudo muito feio", criticou a página Pink & Blue.
"Sinceramente, me dói ver o rumo que o Brasil está tomando. Dói ainda mais ver uma senhora, que deveria, mais que os jovens, dar exemplos, estar no meio desse, fazendo isso...", comentou Jaziel Mascarenhas. "Você que acha bonito, é um direito seu. Mas isso me dói na alma. O Brasil tem entrado numa decadência moral ética e cultural absurda", continuou ele. "No Recife tem mulher bonita, mas essas do clipe estão 'enfeiando' o negócio, como diria meu caro Gil Brother", publicou Rafael Adelino.
As críticas, contudo, estão em meio a muitos elogios tanto à faixa (produzida por Pupilo e gravada entre o Rio de Janeiro, São Paulo e o Recife) quanto ao trabalho visual do clipe. "No meu sagrado feminino, ninguém melhor do que eu para tocar. Flaira, gratidão imensa por esta música, bem como por outras tantas tuas!", exaltou Maty Tavares. "Empoderamento, autoconhecimento, respeito, liberdade de gozo. Eita que coisa mais bonita!", destacou Hilda Brandão.
Debate
Já Fernanda Guimarães, que se apresentou como uma admiradora do trabalho de Flaira, ponderou: "Se antes a mulher era condenada ao expor sua necessidade pelo gozo, hoje ela é condenada quando não expõe a necessidade de que gozar é algo que diz respeito ao empoderamento. Precisamos tomar muito cuidado com a maneira que conduzimos o feminismo: ele, quando deturpado, pode ferir o sagrado que constitui o ser mulher".
"Acredito que não é preciso sair por aí gritando que gozar é bom, pois acredito que isso não empodera a mulher, nem reivindica o direito sagrado de não ser considerada pior do que os homens, mas a faz repetir o mesmo erro dos homens. Eu, na frase que diz que 'não há nada mais bonito do que uma mulher que brilha, do que uma mulher que goza', alteraria para não há nada mais bonito do que uma mulher que vibra, do que uma mulher que chora. Pois vibrar nos faz nos sentir mais vivas e chorar nos revela o quão minúsculas somos, mas, claro, NUNCA menor do que os homens: apenas pequenos nesse mundão de meu Deus", completou ela.
"A sexualidade feminina ainda é tabu"
"A sexualidade feminina ainda é tabu"
Ao Viver, Flaira declarou estar prestando atenção no debate gerado a partir do clipe sem se preocupar com os ataques. “A quantidade de comentários positivos é infinitamente maior que a de comentários negativos e eu estava ciente, quando coloquei o clipe no ar, de que teria todos os tipos de reação porque é uma coisa que ainda é tabu, a sexualidade feminina. Ainda dói no âmago de muita gente essa possibilidade de emancipação da mulher”, refletiu.
“Confesso que nem me agarro a esses comentários, me interesso muito mais em ver os homens que estão compartilhando, que estão repassando a mensagem e se sensibilizando com essa questão que é muito série, a repressão do corpo da mulher, e eu estou focando mesmo no que está vindo de bom, que é muito maior e muito melhor. A intenção era essa, gerar a discussão, provocar mesmo e acaba que muitos desses homens acabam falando por si mesmos. Comentários negativos dessa ordem acabam mostrando muito mais da pessoa que está comentando do que a de fato a realidade”, completou.
De acordo com a cantora, "a ideia foi questionar a importância da autoestima da mulher, que está relacionada ao quanto ela conhece o próprio corpo, ao quanto ela aprende a se dar prazer e tem a capacidade de gozar, não só sexualmente, mas o gozo como pulsão criativa para a vida". "Percebi que, dentro da cultura patriarcal em que a gente vive, a mulher aprende a direcionar os próprios desejos para satisfazer o outro", disse ela.
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