Prestes a completar dois meses e ainda sem serem esclarecidos, os assassinatos da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco (PSOL) e do motorista dela, Anderson Gomes, podem ter ganhado uma importante testemunha. Segundo reportagem publicada pelo site do jornal O Globo na noite desta terça-feira (8), um homem que integrou uma milícia carioca procurou a polícia para relatar que o vereador Marcelo Siciliano (PHS) e o miliciano e ex-policial militar Orlando de Curicica, que está preso, queriam a morte de Marielle. A vereadora foi assassinada com quatro tiros na cabeça no dia 14 de março, quando deixava, de carro, um evento político no Estácio, Centro do Rio. Anderson, que dirigia o veículo, foi atingido por três disparos nas costas.
Ao jornal, Siciliano afirmou não conhecer Orlando e classificou o conteúdo dos depoimentos como “notícia totalmente mentirosa”.
Em troca de proteção, segundo O Globo, a testemunha prestou três depoimentos à Divisão de Homicídios (DH) da Polícia Civil, nos quais detalhou como a execução de Marielle Franco foi planejada e forneceu nomes de quatro homens que teriam sido incumbidos do crime, além de informar datas, horários e locais de reuniões entre Siciliano e Orlando desde junho de 2017. Conforme O Globo, mesmo detido no presídio de Bangu 9 desde outubro do ano passado, o miliciano ainda comanda um grupo paramilitar na Zona Oeste carioca.
A testemunha teria dito aos investigadores que presenciou um encontro entre o vereador e o miliciano em um restaurante no Recreio dos Bandeirantes, também na Zona Oeste, no qual ouviu Marcello Siciliano e Orlando de Curicica falando sobre a vereadora. “Eu estava numa mesa, a uma distância de pouco mais de um metro dos dois. Eles estavam sentados numa mesa ao lado. O vereador falou alto: ‘Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando’. Depois, bateu forte com a mão na mesa e gritou: ‘Marielle, piranha do Freixo’. Depois, olhando para o ex-PM, disse: ‘Precisamos resolver isso logo’”, relatou o homem, segundo O Globo.
Ele teria citado como motivo da desavença entre Marielle Franco e Marcello Siciliano a atuação da vereadora em comunidades da Zona Oeste nas quais milícias têm interesse, mas que ainda seriam dominadas por traficantes. “Ela peitava o miliciano e o vereador. Os dois chegaram a travar uma briga por meio de associações de moradores da Cidade de Deus e da Vila Sapê. Ela tinha bastante personalidade. Peitava mesmo. Orlando era o braço operacional do vereador na Zona Oeste. O vereador continuou a contar com o apoio da quadrilha mesmo depois que o miliciano ser preso ano passado”, disse o homem, conforme o jornal.
Ainda segundo O Globo, a testemunha declarou que a ordem para o crime foi dada um mês antes dos assassinatos, de dentro da cadeia de Bangu. Orlando de Curicica teria determinado que homens de sua confiança clonassem um carro e encarregado um homem identificado como Thiago Macaco de levantar detalhes sobre a rotina de Marielle.
A testemunha teria sido obrigada a trabalhar como “segurança” do miliciano por cerca de dois anos. O homem teria sido ameaçado de morte e coagido a partir do momento em que Orlando tomou a comunidade onde ele trabalhava instalando equipamentos de TV a cabo. “Fui coagido: ou morria ou entrava para o grupo paramilitar. Virei uma espécie de segurança dele. Também ficava responsável por levar o filho para a escola; acompanhava a mulher de Orlando para compras em shoppings”, relatou, conforme O Globo.
Ainda conforme o jornal, a testemunha revelou que os assassinatos do ex-assessor de Marcello Siciliano Carlos Alexandre Pereira Maria, o Alexandre Cabeça, de 37 anos, e do policial militar reformado Anderson Claudio da Silva, de 48 anos, foram “queima de arquivo” relacionada às mortes de Marielle Franco e Anderson Gomes.
Siciliano negou, na noite de terça, que tivesse interesse na morte de Marielle. Em nota divulgada por sua assessoria de imprensa, o vereador se disse revoltado com a acusação. “Expresso aqui meu total repúdio à acusação de que eu queria a morte de Marielle Franco. Ela é totalmente falsa. Não conheço Orlando da Curicica e acho uma covardia tentarem me incriminar dessa forma. Marielle, além de colega de trabalho, era minha amiga. Tínhamos projetos de lei juntos. Essa acusação causa um sentimento de revolta por não ter qualquer fundamento. Eu, assim como muitos, já esperava que esse caso fosse elucidado o mais rápido possível. Agora, desejo ainda mais celeridade”, afirmou.
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