Como identificar um Transtorno Obsessivo Compulsivo
As manias, até mesmo as mais esquisitas, são quase sempre inofensivas. Em alguns casos, contudo, podem chegar a comprometer o desempenho profissional, escolar e os relacionamentos pessoais. Trata-se de um indicativo da necessidade de ajuda especializada. O que se imagina ser apenas uma mania pode sinalizar um processo de desenvolvimento do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o segundo distúrbio psíquico mais comum no planeta; perdendo apenas para a depressão. Segundo estimativas médicas, o TOC atinge entre 2,5% e 3% da população mundial. No Brasil, estima-se que 4,5 milhões de pessoas sofram com esse transtorno.
As manias que se tornam compulsões costumam funcionar como forma de aliviar a ansiedade e o desconforto causados pelos pensamentos repetitivos, idéias ou impulsos indesejáveis; as chamadas obsessões. Contudo, existem diferenças determinantes entre os simples costumes e os hábitos do TOC.
Segundo a psiquiatra Roseli Gedanke Shavitt, pesquisadora do Protoc (Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo) da Faculdade de Medicina da USP, ter alguma mania não indica que a pessoa sofra da doença. "Uma coisa é a pessoa ter um comportamento repetitivo. Pois, tem pessoas que são metódicas. No caso do TOC, a pessoa sente desconforto, ansiedade e sente-se escrava daquele comportamento. Ela tem determinada reação para se livrar daquela ansiedade", explica. "Mania é positiva se a pessoa vê um sentido daquilo na vida dela. Algo que seja feito para se viver melhor. É uma sensação agradável. No caso do TOC, por exemplo, pode existir o pensamento repetitivo de sujeira ou de contaminação. A pessoa sabe que não faz sentido aquela reação de lavar as mãos repetidas vezes ou algo assim, mas ela tem de fazer até se sentir bem."
Quase sempre os portadores de TOC têm consciência de que suas obsessões são irracionais e que as compulsões são prejudiciais, mas não conseguem controlá-las. De acordo com Roseli, os indivíduos com TOC muitas vezes sentem-se ridículos ou envergonhados diante da reação de outras pessoas, mas nada podem fazer. Pois, são vítimas de pensamentos repetitivos contra a própria vontade. "São idéias que invadem constantemente a consciência da pessoa. São perturbadoras e fora de seu contexto de vida. São pensamentos sobre sujeira e contaminação; medo de acontecimentos ruins para ele e pessoas queridas; blasfêmias e preocupações sexuais", explica a psiquiatra.
Tais pensamentos passam a tomar mais tempo da vida da pessoa, causando desconforto e comprometendo seu desempenho. Conforme Roseli, o período em que a pessoa se vê envolvida com sua mania é um fator de alerta para quem acredita que possa ter o transtorno e adverte: "É até discutível, mas as manias que tomem mais de uma hora por dia do tempo de uma pessoa, interferindo em sua rotina e trazendo sofrimento subjetivo, necessitam ser atentamente analisadas. Esse tempo superior a uma hora por dia, da pessoa envolvida com suas manias, funciona até como um ponto de corte, de alerta para os casos de TOC".
Como tem causa biológica (um desajuste na produção de serotonina, substância responsável pela transmissão de dados entre os neurônios), o TOC pode ser desencadeado por traumas, estresses e até mesmo por algumas bactérias. Já que é ocasionado por um fator biológico, o distúrbio não tem cura, mas é possível conviver bem com ele. O importante é diagnosticar o transtorno o quanto antes. De acordo com a pesquisadora do Protoc, os tratamentos mais comuns envolvem a administração de remédios e a psicoterapia comportamental.
A psiquiatra recomenda, ainda, que as pessoas que tenham dúvidas sobre seu comportamento ou que queiram saber mais detalhes sobre o TOC que procurem a Astoc (Associação de Portadores de Síndrome de Tourette, Tiques e Transtorno Obsessivo-Compulsivo) que presta um serviço de orientação e encaminhamento aos portadores do transtorno, assim como de seus familiares.
Por Deborah Izola
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