11.26.2008

ESTATINAS:GRANDE SUPRESA DA MEDICINA MODERNA


Pesquisadores dinamarqueses descobriram que estatinas, drogas amplamente usadas para controlar o colesterol, podem ter outro efeito benéfico: diminuir o risco de morte por pneumonia.

Cientistas examinaram registros médicos de 29 mil pacientes dinamarqueses hospitalizados por pneumonia durante um período de seis anos. Usando bases de dados regionais de prescrição médica, eles descobriram 1.372 pessoas que receberam prescrições de estatinas no período de quatro meses após dar entrada no hospital. Então, os pesquisadores calcularam as taxas de mortalidade para usuários e não-usuários de estatina.

Após controlar fatores como idade, sexo, doenças cardíacas, derrames, doenças pulmonares, diabetes e outros 15 distúrbios, eles descobriram que entre os usuários de estatina as chances de morte foram reduzidas em 31% nos primeiros 30 dias após a entrada no hospital e em 25% em 90 dias.

O estudo, publicado em 27 de outubro no "The Archives of Internal Medicine", inclui um grande número de pacientes e registros bastante precisos de diagnósticos, datas de alta hospitalar e uso de estatina, o que traz ao estudo uma força considerável.

Investigações anteriores sobre os efeitos das estatinas na pneumonia produziram resultados diversos, e as razões para os resultados dinamarqueses não estão claras. Um artigo publicado junto com o estudo sugere que as drogas modificam a produção de certas proteínas que causam a resposta inflamatória.

Essas mesmas proteínas também podem ser usadas por bactérias para ajudá-las a entrar nas células e se reproduzirem. Ao diminuir a produção dessas substâncias, as estatinas podem reduzir o número de bactérias que podem entrar nas células.

Um estudo publicado online em 9 de novembro no "The New England Journal of Medicine" sugere que as propriedades antiinflamatórias das estatinas podem ser úteis na diminuição do risco de doenças cardíacas, derrame e morte até em pacientes com colesterol baixo.

A idade média dos usuários de estatina no estudo dinamarquês era de 73 anos e mais de 60% tomavam simvastatina, uma droga vendida nos Estados Unidos como Zocor.

Os usuários de estatina podem ser uma população em geral mais saudável que teve melhores cuidados preventivos do que não-usuários, e, portanto, teriam mais chances de sobreviver à pneumonia em qualquer caso. Mas, como afirmam os autores, o sistema de saúde universal da Dinamarca faz com que essa conclusão seja pouco plausível.

Ainda assim, Reimar W. Thomsen, autor responsável pelo estudo, recomendou cuidado na interpretação da descoberta. "Nossos resultados mostram que a chance de sobrevivência à infecção pode ser melhor se você já está tomando estatinas", afirmou, "mas é muito cedo para fazer recomendações em relação ao uso de estatinas para prevenir infecção. Só se deve tomar estatinas para as indicações atuais." Thomsen é professor clínico associado de epidemiologia do Hospital Universitário Aarhus, em Aalborg, Dinamarca.

Outros especialistas acharam o trabalho convincente. "Esse é um estudo rigoroso", disse Eric M. Mortensen, que já conduziu pesquisas na mesma área.

"O estudo solucionou alguns dos problemas de trabalhos anteriores, eu concordo com suas conclusões", disse Mortensen, professor assistente de medicina do Health Science Center da Universidade do Texas em San Antonio, que não esteve envolvido no estudo dinamarquês.

O governo dinamarquês financiou o estudo e não houve nenhum envolvimento da indústria farmacêutica.

Estatinas não deveriam ser dadas a pessoas saudáveis, dizem médicos
Medicamento salva vidas em pacientes cardíacos.
Mas quem não tem nada tomar a droga pode ser exagero.


Seria hora de colocar o medicamento estatina, de redução de colesterol, em todos os armarinhos de remédios?

A julgar por recentes manchetes, você pode achar que sim. Na última semana, pesquisadores do coração relataram que milhões de pessoas saudáveis poderiam se beneficiar com o uso da estatina – mesmo sem ter colesterol alto.

Embora muitos médicos louvem o estudo como um grande avanço, uma espiada mais de perto na pesquisa sugere que as estatinas (como Crestor, da AstraZeneca, e Lipitor, da Pfizer) estão longe de ser pílulas mágicas. Ao mesmo tempo em que claramente salvam vidas de pessoas que já sofreram infartos ou outras doenças cardíacas graves, para pessoas saudáveis os benefícios potenciais continuam pequenos.

Muitos médicos que acreditam no uso dos medicamentos para doenças cardíacas dizem que elas não precisam ser prescritas a pacientes saudáveis. No lugar disso, o foco deveria seguir sendo encorajar o comportamento saudável e a realização de exames contra tradicionais fatores de risco, como pressão e colesterol altos.

“As estatinas têm muitos efeitos biológicos que parecem ser bastante significativos,” disse Valentin Fuster, diretor do programa cardíaco no Centro Médico Monte Sinai em Manhattan e antigo presidente da Associação Americana do Coração. “Mas não acho que a resposta seja um remédio mágico para evitar a doença. O remédio é mudar a mudança de comportamento.”

Resultados de Júpiter

Ainda assim, o mais novo estudo, chamado Júpiter, promete estimular o interesse por exames de sangue contra algo chamado proteína C-reativa, ou CRP (da sigla em inglês). O exame, que pode custar de 20 a 50 dólares, mede a inflamação. Estudos mostraram que pacientes com alto nível de CRP correm mais riscos de ataques cardíacos, mesmo tendo colesterol normal.

Os pesquisadores buscaram homens com mais de 50 e mulheres com mais de 60 anos com CRP elevado, mas sem colesterol alto. O objetivo era determinar se as estatinas poderiam melhorar sua saúde.

Mas de quase 90 mil pessoas examinadas, apenas 17.802 foram selecionadas. Isso significa que 80% dos recrutas foram excluídos por uma variedade de razões – outra condição inflamatória como a artrite, uso de medicamentos, pressão alta, histórico de câncer e muito mais.

“Se você extrapolar isso, significa que não há muitas pessoas exatamente como aquelas que estudamos,” disse Nieca Goldberg, diretora do programa cardíaco feminino no Centro Médico Langone da Universidade de Nova York.

“Mas vejo que muitas pessoas vão querer um exame de CRP,” ela continuou. “Minha maior preocupação é que haverá muitas pessoas que não são compatíveis aos critérios do estudo, mas baseado nisso elas farão exames de sangue e tratamento com estatinas.”

Exageros

E graças à forma como os resultados de Júpiter foram relatados, muitas pessoas saudáveis estão passíveis de obter uma visão exagerada dos benefícios das estatinas. Enquanto os pesquisadores relataram uma impressionante de 50% no risco de problemas sérios no coração entre usuários de estatinas, na verdade todas as pessoas no estudo tinham um baixo risco desde o início.

Apenas 1,8% dos participantes que tomaram um placebo sofreram algum problema cardiovascular grave durante o período do estudo. Entre os usuários de estatina, a taxa caiu para 0,9%. Em outras palavras, o risco absoluto de um problema cardiovascular grave (em oposição ao risco relativo) foi reduzido em menos de um ponto percentual.

“Diferenças absolutas em riscos são mais clinicamente importantes que reduções relativas em riscos ao se decidir sobre a recomendação de um tratamento por medicamentos,” disse a publicação "The New England Journal of Medicine" num editorial que acompanhava o relato do estudo.

Um importante indicador da utilidade de um medicamento é o “número necessário para tratar,” uma medida de quantas pessoas precisam tomar uma pílula para que apenas uma seja efetivamente ajudada. Há desacordos sobre o que foi mostrado por Júpiter. O editorial no "The New England Journal of Medicine" concluiu que tratar 120 pessoas por cerca de um ano ajudaria uma pessoa. Os autores do estudo, usando critérios distintos, chegaram a um número de 95.

Alguns pesquisadores acham que o número é na realidade bem menor. Extrapolando os dados para cinco anos, os autores do estudo concluíram que apenas 25 pessoas saudáveis precisariam tomar estatina para evitar um problema sério de coração.

Como resultado, alguns médicos dizem que começarão os exames de CRP e oferecerão tratamento a base de estatinas a pacientes que apresentarem níveis altos.

“Na verdade isso foi um resultado bastante impressionante,” disse Steven E. Nissen, diretor de medicina cardiovascular da Clínica Cleveland. “Eu, por exemplo, estarei realizando exames de CRP em mais pacientes. Se estiver elevado, vamos tratar deles.”

Médicos dizem que uma preocupante tendência surgiu no estudo. No grupo da estatina, 3% das pessoas desenvolveram diabetes durante o período do trabalho, em comparação a 2,4% do grupo do placebo.

Além disso, como o estudo foi interrompido prematuramente (para que aqueles no grupo do placebo pudessem começar a tomar estatinas por seus supostos benefícios cardíacos), ele não rendeu muitas percepções sobre a segurança de longo-prazo dos medicamentos. Tampouco ficou claro se os benefícios iniciais no grupo das estatinas teria se segurado por um período mais longo ou se outros riscos teriam aparecido.

“Este estudo não indica que devamos colocar estatinas na água potável ou fortificar os cereais com o medicamento,” disse Goldberg, da Universidade de Nova York. “Existem milhões de pessoas que nunca fizeram testes de colesterol, mas todo mundo quer a novidade. Eles querem acreditar que a novidade será a resposta definitiva.”


Estatinas podem diminuir chances de morte por pneumonia

Estudo dinamarquês parece contradizer achados anteriores. Resultado mostra que estatinas fazem mais que combater o colesterol.
11h23

Maus gerentes podem prejudicar saúde dos funcionários, diz estudo

Estudo sueco sugere que chefes insensíveis elevam risco de males cardíacos nos empregados.


Fonte: Globo.com

ESTATINAS


Estatina, a grande surpresa da medicina

Lançadas comercialmente em meados da década de 80, as estatinas causaram uma revolução na prevenção e no tratamento do colesterol alto, um dos piores inimigos do coração. Até então, a única arma eficaz contra esse problema era a combinação de dieta balanceada com exercícios físicos – uma receita que não funcionava para todo mundo, já que a quantidade de colesterol no organismo tem um forte componente genético. "Antes das estatinas, era muito mais difícil manter baixos os níveis de colesterol dos pacientes. Com elas, foi possível atacar o problema de forma agressiva, mas também bastante segura", diz o cardiologista Otávio Rizzi Coelho, professor da Universidade Estadual de Campinas e presidente da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.

A Estatina e o Colesterol


Para entender como elas agem, é preciso conhecer um pouco o inimigo contra o qual as estatinas se lançam ferozmente: o colesterol. Essencial ao bom funcionamento do organismo, 60% dele são produzidos principalmente no fígado. Os outros 40% vêm dos alimentos de origem animal. O colesterol é usado na formação das membranas da célula, na produção da vitamina D e na síntese de vários hormônios. Há dois tipos de colesterol: o HDL e LDL. O primeiro é o "colesterol bom", que remove o excesso de gordura da circulação sanguínea. O outro é o "colesterol ruim", que deposita gordura na parede das artérias, o primeiro passo para o entupimento delas. Na tentativa de se livrar dessas placas, o sistema imunológico organiza um contra-ataque, o que desencadeia um processo inflamatório. Quanto mais inflamada, maiores são os riscos de a placa explodir e obstruir uma artéria.



LDL (lipoproteína de baixa densidade), conhecido como colesterol RUIM, pode aderir às paredes dos vasos sangüíneos, dificultando a passagem do sangue. Quanto mais elevado for o nível de LDL no sangue, mais elevado é o risco de doença cardíaca.
HDL (lipoproteína de alta densidade), também conhecido como colesterol bom, ajuda a remover o excesso de colesterol do sangue. Quanto mais elevadas as taxas de HDL, melhor. O ideal é que elas sejam superiores a 40 mg/dL.

As estatinas atuam em várias frentes. Inibem a ação de uma enzima essencial à produção de colesterol, o que acaba por reduzir os níveis de LDL no sangue. Elas aumentam ainda o descarte do colesterol ruim pelo fígado. Além disso, o remédio funciona como antiinflamatório, evitando o rompimento das placas de gordura. Esse efeito foi comprovado em meados dos anos 90. Ao acompanharem pacientes com algum risco cardiovascular, os pesquisadores notaram que quem tomava estatina apresentava níveis menores da proteína C-reativa ultra-sensível, considerada um importante indicador de doenças do coração. Quanto maiores os níveis desta proteína, maior é a probabilidade de ocorrência de infartos e derrames. As estatinas reduzem, em média, 30% a morte por essas causas. Outra característica do remédio que contribui para tal resultado é o seu poder anticoagulante. Ele diminui o ritmo de aglutinação das plaquetas sanguíneas. Quanto mais intenso esse processo, maiores são os riscos de formação de coágulos, que podem levar também ao entupimento arterial. "Cerca de 90% dos pacientes respondem muito bem ao tratamento", diz o médico José Ernesto dos Santos, professor de clínica médica da Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto - e um dos maiores estudiosos de estatinas do Brasil.

O futuro das Estatinas

Ainda não foi completamente desvendado como as estatinas ajudam a prevenir e tratar outros males. Em alguns casos, como o do diabetes, a proteção oferecida pelo medicamento está claramente associada à redução dos riscos cardiovasculares. Em outros, supõe-se que as estatinas ataquem a raiz do mal. É o caso da doença de Alzheimer, que se caracteriza pela morte dos neurônios, em decorrência do depósito de placas tóxicas de proteína no cérebro. Como o colesterol está envolvido na formação dessas placas, é de esperar que a redução de seus níveis baixe também a quantidade de placas. Por seu poder anticoagulante, as estatinas facilitariam também a irrigação cerebral, mantendo a saúde dos neurônios. Os efeitos podem se estender ainda a outras doenças, como os cânceres de fígado, próstata, mama e intestino. Nesses casos, os médicos não têm a menor pista do mecanismo de ação do remédio. Os indícios de que ele pode funcionar para esses doentes baseiam-se apenas na observação de que pacientes em tratamento com alguma estatina apresentam riscos menores de vir a desenvolver esses tumores.

Efeitos Colaterais

"Apesar de todos os possíveis benefícios, as estatinas têm efeitos colaterais e não devem ser tomadas indiscriminadamente", diz o cardiologista Raul Santos, do Instituto do Coração e do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. Elas podem prejudicar o trabalho de uma proteína responsável pela contração muscular. Quando isso acontece, o paciente apresenta dores musculares, de intensidade variável. Nos casos mais graves, as fibras musculares são destruídas. Essa destruição promove a liberação de uma outra proteína, que se acumula no rim e pode levar à insuficiência renal. As estatinas podem também, por motivos ainda desconhecidos, alterar o funcionamento do fígado. Essas reações adversas fizeram com que uma estatina, a cerivastatina, lançada no início da década de 90, fosse retirada do mercado em 2001. Esses quadros, no entanto, são muito raros. Mais comum é o desconforto abdominal provocado pelo remédio.

A história das Estatinas

A história da descoberta da estatina lembra muito a da penicilina. Em 1928, sem querer, o bacteriologista escocês Alexander Fleming viu que uma substância produzida por fungos era bactericida. Nascia assim o primeiro antibiótico, a penicilina. Em 1971, o microbiologista Akira Endo, pesquisador do laboratório japonês Sankyo, estava em busca de um novo antibiótico quando observou que certos fungos também eram capazes de produzir um potente inibidor da produção de colesterol. Ele funciona, descobriu-se, como uma defesa contra predadores herbívoros – ao ingerirem tais fungos, os animais podem morrer, já que a redução de colesterol neles, causada pela substância inibidora, é muito acentuada e leva a uma pane no sistema metabólico. Endo isolou e analisou esse composto, a partir do qual foi sintetizada em laboratório uma molécula que daria origem à matriz das estatinas. A primeira a ser lançada foi a lovastatina, em 1987. Atualmente estão a disposição dos médicos e pacientes produtos como a sinvastatina, a atorvastatina e a pravastatina. A última a chegar ao mercado brasileiro chama-se rosuvastatina. O princípio de todas é basicamente o mesmo. O que muda são determinadas características, que garantem uma potência cada vez maior e efeitos colaterais menores. "O desenvolvimento de novas estatinas é praticamente ilimitado, assim como o leque de doenças que elas podem ajudar a combater", diz o especialista José Ernesto dos Santos. Uma história sem final, mas feliz
Fonte : Revista Veja

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