
Luana é uma das 6 milhões de brasileiras (10% a 15% das mulheres em idade fértil) que, segundo a Associação Brasileira de Endometriose (SBE), sofrem da doença que atinge a cavidade fora do útero. Uma das explicações para a causa do problema é que ocorreria, por meio das trompas, um refluxo do endométrio (tecido liberado por meio da menstruação), causando a implantação anormal desse tecido em outras regiões, como trompas, ovários, bexiga, intestino e pelve.
Em adolescentes, as dores incapacitantes associadas a outros sintomas como os de Luana, devem ser um dos primeiros sinais de alerta para pais e os próprios médicos, afirma o ginecologista do Hospital Sírio Libanês, João Dias, membro da SBE. “É comum a queixa de cólicas menstruais, que melhoram e desaparecem com analgésicos. Nas portadoras de endometriose as dores são intensas, não passam com medicamentos, causando incapacidade funcional, como falta à escola ou ao trabalho”, afirma.
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Veja mais dicas sobre a endometrioseEm alerta
Quando a adolescente deve procurar um ginecologista para uma avaliação sobre endometriose:
- Quando tem dor. Na maioria das vezes, a cólica é fisiológica, acontece com o processo de contração do útero a partir de uma substância liberada durante a menstruação. Estima-se que 40-60% das adolescentes tenham dor menstrual.
- A diferença entre a dor fisiológica e a causada por endometriose está na intensidade. As cólicas que levam a faltas às atividades corriqueiras, como academia, devem ser relatadas a um ginecologista.
- Quando a adolescente é ansiosa. Alguns indícios sugerem que mulheres com alto grau de estresse e ansiedade estão propensas a desenvolver a doença. Ela também estaria relacionado a fatores imunológicos: quanto maior o estresse, menor a imunidade, que é a responsável em criar defesas contra diversas doenças.
- A adolescente que menstruou muito cedo, tem enjôo e vômito e fluxo menstrual muito intenso deve ser avaliada por um ginecologista. Outro alerta é para aquelas jovens nas quais o tratamento das cólicas com pílulas contraceptivas não surtem efeito na melhora dos sintomas.
Fontes: ginecologistas João Dias e Maurício Simões Abrão.
A doença pode progredir lentamente até a idade adulta, quando o comprometimento dos órgãos pélvicos poderá ser acentuado. Pesquisas internacionais, segundo o ginecologista Simões Abrão, que dirige o setor de Endometriose do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo e presidente da SBE, indicam que 70% das adolescentes com cólicas incapacitantes que não melhoram com analgésicos e anti-inflamatórios podem ter a doença. “No Brasil fica em torno de 50%.”
Com base nesses números, a SBE mantém uma campanha permanente para que pais, pacientes e médicos fiquem atentos aos sintomas. Estudo brasileiro apresentado no Congresso Mundial de Endometriose, em 2008, mostrou que o período entre o início dos sintomas, o diagnóstico da doença e o tratamento é de oito anos. Quando a queixa de dor começa na adolescência, esse intervalo aumenta para 12 anos. “Nesse período, é possível o surgimento de problemas intestinais e infecções urinárias, levando à piora da qualidade de vida”, afirma Abrão.
Por isso, aumentar o conhecimento das mulheres é muito importante. “Em muitos casos, o diagnóstico tardio pode causar infertilidade. Isso acontece quando há acometimento das trompas, órgão que conduz o óvulo ao útero, além se associar a alterações hormonais e imunológicas que dificultam a gestação.
PREVENÇÃO
Tratamento depende de abordagem correta
A melhor prevenção é a mulher ficar atenta à dor, seja durante a menstruação ou nas relações sexuais, e procurar um médico ginecologista. O diagnóstico é clínico, considerando os sintomas, e complementado por exames por imagem, como ultrassom transvaginal e ressonância magnética. Segundo Abraão, no Brasil foram desenvolvidos métodos mais eficientes de usar o ultrassom, preparando a paciente com o uso de laxantes, para se diagnosticar formas mais agressivas da doença.
Endometriose não tem cura, mas pode ser tratada cirurgicamente, por meio de videolaparoscopia ou com medicações que bloqueiam a produção dos hormônios femininos.
Apesar de ser uma das doenças mais estudadas na atualidade, o que acontece é um número repetitivo de cirurgias. Mas, para o especialista, isso acontece porque a abordagem do tratamento, em muitos casos, não é a mais correta. “Tenho observado que as ações relacionadas à doença melhoraram muito nos últimos cinco anos.”
Se houver ainda dificuldade para engravidar e desconforto nas relações sexuais é preciso investigar, pois podem ser sintomas de endometriose, doença que acomete quase 5 milhões de mulheres no Brasil
São Paulo, junho de 2008. Considerada pelos médicos como uma das doenças ginecológicas benignas mais freqüentes entre as mulheres jovens, a endometriose é caracterizada pela presença de células do endométrio - tecido que cobre a camada interna do útero - fora da cavidade uterina e acomete cerca de 10% a 15% das mulheres no menacme (período reprodutivo).
A endometriose foi relatada pela primeira vez no início do século passado (1917), no entanto, sua importância e o diagnóstico correto vêm crescendo nos últimos 15 anos. O diagnóstico é feito através do quadro clínico (sintomas específicos), de exame físico ginecológico adequado (toque vaginal), exames de imagem (como ultra-som trans-vaginal e ressonância nuclear magnética da pelve) e, finalmente, confirmado pela cirurgia laparoscópica, realizada por meio de pequenas incisões.
Entre os sintomas mais importantes, destacam-se as fortes cólicas menstruais, dores nas relações sexuais, dor pélvica crônica e infertilidade. O ginecologista Giuliano Borrelli, alerta que dores na região pélvica e cólica menstrual freqüente são, muitas vezes, os primeiros sintomas da endometriose. "Mas também dores para evacuar e sangramento nas fezes que aparecem ou pioram no período menstrual podem sinalizar o acometimento intestinal da doença, forma mais severa e de difícil tratamento", afirma o doutor. Da mesma forma que agride o intestino, pode também atingir outros órgãos como bexiga, vagina, colo do útero e ligamentos uterinos.
São conhecidas três formas diferentes de apresentação dessa doença: a primeira delas é a endometriose ovariana, que se caracteriza pela formação de cistos nos ovários (endometriomas). Essa variedade pode estar associada à infertilidade, porém, raramente é causa de dor importante. É considerada pelos médicos como a forma mais comum e que, na maioria das vezes, dependendo do tamanho, deve ser tratada cirurgicamente por meio da remoção dos cistos.
As outras formas de apresentação são a endometriose superficial, em que ocorre uma invasão de até 0,5cm de profundidade no peritônio de órgãos como bexiga, intestino, colo uterino; e a profunda, que infiltra 0,5cm ou mais o peritônio desses órgãos. Nesse último estágio os sintomas são mais exuberantes e os tratamentos cirúrgicos mais complexos. No caso do acometimento profundo do intestino, por exemplo, pode ser necessária a remoção de um segmento intestinal para o tratamento adequado.
Nenhum tratamento pode curar definitivamente a endometriose, a não ser a retirada de ambos os ovários, o que teoricamente acabaria com a fonte hormonal que mantém a doença ativa e faz proliferar os focos de endometriose. No entanto, este procedimento não é muito adequado para a grande maioria das portadoras da doença, que são jovens e sofreriam conseqüências danosas com a falta de estrogênio causada pela ausência dos ovários.
"Não existe cura para endometriose, é importante que as pacientes portadoras sejam diagnosticadas e tratadas precocemente antes que a doença atinja suas formas mais agressivas", afirma Borrelli. "É possível controlar os sintomas através de tratamentos clínicos e cirúrgicos, melhorando muito a qualidade de vida dessas jovens mulheres, mas, para isso, as pacientes devem ser acompanhadas por profissionais capacitados e treinados", completa o especialista.
Ao perceber qualquer um dos sintomas descritos acima, a mulher deve procurar um ginecologista especialista, com a finalidade de fazer investigação adequada e, principalmente, o diagnóstico precoce, para que possa ser corretamente orientada e tratada.
Dr. Giuliano Borrelli
Ginecologista do Hospital San Paolo, formado pela Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Especialista em Ginecologia e Obstetrícia e pós-graduando na área de endometriose no Hospital das Clínicas da FMUSP.
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