11.09.2010

Palestra do presidente Lula na África: Universidade aberta do Brasil em Moçambique

MAPUTO - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu sua alta popularidade ao fato de viajar bastante e "não ficar em seu gabinete lendo jornais e falando com jornalistas". A declaração foi feita nesta terça-feira durante palestra na aula inaugural da instalação do polo da universidade aberta do Brasil em Moçambique. Lula também defendeu um Estado forte, dizendo que a instituição é o pai, o tutor e o filho da sociedade. Para ele, é preciso que os países pobres, do eixo Sul, se unam e se fortaleçam para enfrentar os mais ricos.
Ao falar da pressão econômica dos países desenvolvidos, Lula conclamou os moçambicanos e os africanos em geral a se juntarem para a produção de alimentos, uma vez que têm solo e água para o desenvolvimento da agricultura. Ele lembrou que a população mundial está comendo mais e que, em seu entendimento, isso possibilitará aos países pobres obterem vantagens econômicas com o comércio de seus produtos.
- A gente começa a perceber que o mundo vai precisar de mais alimentos. Ninguém come minério de ferro, ninguém come chip, ninguém come telefone celular. Nós comemos comida. E comida plantada na terra, que precisa de solo e de água. E quem tem mais solo e água do que nós, na América Latina e na África? - questionou.
Para o presidente, os mais ricos tentam desvalorizar os produtos dos mais pobres, e supervalorizar o que fazem.
- O cidadão com fome não consegue nem apertar a tecla do celular. Eles tentam desvalorizar aquilo que temos potencial de produzir e supervalorizam o que eles produzem. E nós aceitamos - observou.
Lula disse que não se pode mais tratar os países mais pobres como se fossem inferiores. E usou sua popularidade para justificar por que, em sua opinião, o Brasil está tendo mais destaque internacional atualmente.
- Não pensem que o presidente Lula tem muita popularidade porque fica no gabinete lendo jornal e conversando com jornalista. A minha popularidade é resultado do meu trabalho, de viajar, de conversar com o povo, de não ter medo de discutir qualquer assunto em qualquer momento - declarou.
Lula: quem tem que investir na educação é o Estado, não o mercadoO presidente disse que a educação é fundamental para que os países se desenvolvam. Segundo Lula, é o Estado que tem de investir na educação da população e não o mercado, como, em sua concepção, pensava-se na década de 90.
- Não existe possibilidade de ninguém, individualmente, ficar dando oportunidade para os outros. É o Estado quem tem de dar - opinou.
- Não permitam que aqui em Moçambique aconteça o que aconteceu no Brasil nos anos 90, em que alguma meia dúzia começou a dizer que o problema da educação seria resolvido pelo mercado. Quem vai resolver o problema da educação é o Estado, que tem de assumir a responsabilidade, porque é o Estado que é o pai, o tutor, o filho, o irmão, que é a razão da nossa existência e nós somos a razão da existência do Estado - discursou.
Lula defendeu a universidade aberta instalada em seu governo e aproveitou para criticar os países desenvolvidos, como a França e a Inglaterra, que mantiveram colônias na África. Para ele, o modelo adotado pelo Brasil, que nos quatro cursos oferecidos em Moçambique terá participação igualitária de professores brasileiros e moçambicanos, é a melhor forma de ajudar outros países. Isso porque, segundo Lula, não é um modelo imposto ao contrário do que fazem os países ricos.
- Dando certo (a experiência da universidade aberta aplicada a países africanos), nós iríamos mostrar aos governos de outros países, como França e Inglaterra sobretudo, que tem muitos países na África que falam inglês e francês, que eles também pudessem produzir nos países de língua inglesa e francesa, a universidade aberta - sugeriu.
- No Brasil, pelo menos no meu governo, nós temos o hábito de debatermos um pouco mais que em outros lugares. Nós não gostamos de fazer a coisa de cima para baixo.
A ida a Moçambique é a última viagem que o presidente Lula faz à África antes do fim do mandato. De lá, ele segue para a Coreia do Sul, onde participará da reunião do G20 .

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