10.20.2011

Humanidade está mais inteligente e menos violenta

Comportamento

Tese é defendida pelo renomado psicólogo canadense Steven Pinker, em artigo publicado na edição desta quarta-feira na revista 'Nature'

Combatentes líbios: mesmo com guerras, humanidade está mais pacífica, diz o psicólogo Steven Pinker Combatentes líbios: mesmo com guerras, humanidade está mais pacífica, diz o psicólogo Steven Pinker (Zohra Bensemra / Reuters)
"Apesar de atualmente nos sentirmos constantemente rodeados pela violência, em séculos anteriores a situação era muito pior." — Steven Pinker, psicólogo canadense
"A afirmação popular de que o século XX é 'o mais sangrento da história' é uma mera ilusão que dificilmente pode ser apoiada em dados históricos."
A sensação de que nunca houve tanta violência como nos tempos modernos é ilusória e dificilmente resistiria à pesquisa histórica. Segundo um estudo publicado nesta quarta-feira na revista Nature, nunca houve, proporcionalmente, tão poucos assassinatos e tão pouca violência, de um modo geral. O defensor da tese é o renomado psicólogo canadense Steven Pinker. De acordo com ele, em termos históricos, as pessoas estão cada vez mais inteligentes, e em consequência disso, menos violentas.

Pinker argumenta que o aumento da inteligência, verificável em pontuações cada vez mais altas nos teste de raciocínio, é responsável pelo declínio da barbárie nos últimos séculos. Outros fatores são a alfabetização e o cosmopolitismo, que estimulam a troca de informações e a realização de acordos entre distintas sociedades. "Apesar de atualmente nos sentirmos constantemente rodeados pela violência, em séculos anteriores a situação era muito pior. Impérios em colapso, conquistadores maníacos e invasões tribais eram comuns", afirma Pinker.
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Dados corroboram a tese — A arqueologia forense e estudos demográficos sugerem que antes dos Estados modernos em torno de 15% dos indivíduos morriam de maneira violenta, uma proporção cinco vezes maior à registrada no século XX, apesar de suas guerras, genocídios e crises de fome.
Nesse sentido, Pinker aponta que a afirmação popular de que "o século XX é o mais sangrento da história" é uma mera ilusão e não se apoia em dados históricos. Segundo ele, de um modo geral, a barbárie diminuiu não só com relação a conflitos armados, mas também a comportamentos sociais. "Nos últimos séculos, a humanidade abandonou progressivamente práticas como os sacrifícios humanos, a perseguição de hereges e métodos cruéis de execução como a fogueira, a crucificação e a empalação", diz o psicólogo.

No século XIV, na Europa Ocidental, 40 em cada 100.000 pessoas morriam assassinadas, enquanto atualmente essa taxa se reduziu a 1,3 pessoa. No Brasil, ainda há cidades que apresentam taxas de homicídios muito superiores aos da Europa medieval: Recife (PE), Vitória (ES) e Maceió (AL) têm taxas de 90,5; 87 e 80,9 homicídios por 100.000 habitantes respectivamente. Mas o estado de São Paulo, por exemplo, reduziu a taxa de homicídios de 35,27 em 1999 para 9,6 no primeiro semestre de 2011. A taxa nacional é de 25 homicídios por 100.000 habitantes.


Moral? Não, mais inteligência — Pinker atribui essa evolução ao aperfeiçoamento da racionalidade e não a questões morais, que, argumenta, já serviram para legitimar todo tipo de castigos sangrentos. "A propagação de normas morais tornou frequentes as represálias violentas por faltas como a blasfêmia, a heresia, a indecência e as ofensas contra os símbolos sagrados", afirma.

O estudo ressalta que com o tempo o ser humano foi refreando a agressividade, presente desde os primeiros Homo sapiens. "A racionalidade humana precisou de milhares de anos para concluir que não é bom escravizar outras pessoas, exterminar povos, encarcerar homossexuais e iniciar guerras para restaurar a vaidade ferida de um rei", diz o psicólogo.

O autor do estudo apoia sua tese sobre o aumento da inteligência em pesquisas anteriores, que mostram como o Quociente Intelectual (QI) médio aumenta a cada geração. "As empresas que vendem testes de inteligência têm que normalizar seus resultados periodicamente. Um adolescente médio de hoje em dia marcaria um QI de 130 se voltasse a 1910, enquanto uma pessoa daquela época não passaria da pontuação 70 atualmente", explica Pinker.
(Com Agência EFE)

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