7.17.2012

A imbecilização do mundo


Sugestão. Jante formigas vivas enquanto assiste ao nosso gladiador. Foto: David Becker/AP/AE
Os mais celebrados mestres da culinária vanguardista, ou seja, aqueles que empregam produtos da Nestlé e figuram em uma classificação anual divulgada pela revista Restaurants (20 mil exemplares de tiragem, destinada aos refinados do mundo), acabam de encerrar em Copenhague um simpósio exaltante. Festa entre amigos, corrente da felicidade, rea­lizada à sombra do Noma, primeiro da lista da Restaurants, do chef René Redzepi. Entre as novidades apresentadas, formigas vivas nutridas com citronela e coentro, de sorte a assumir um gosto suavemente acidulado, para o agrado de todos os paladares, segundo os participantes do evento. Cuja contribuição à imbecilização global é de evidência solar.
Há atenuantes. A quem interessa ler a Restaurants qual fosse o Novíssimo Testamento ou comer formigas vivas, ou até espuminhas de camarão, a preços estratosféricos, está claro? A minoria de imbecilizados, é a conclusão inescapável, em um mundo onde a pobreza fermenta e muitos morrem de fome. Mundo capaz de grandes progressos científicos, presa, ao mesmo tempo, de uma crise econômica monstruosa, provocada pela sanha de poucos em detrimento dos demais semelhantes. Bilhões.
As atenuantes, como se vê, são medíocres, embora não exija esforços mentais brutais perceber que imbecil é quem come formigas vivas em lugar de um mero trivial. Somos o que comemos, dizem os sábios, donde a inevitabilidade das ilações quando se multiplicam as provas da cretinização global. Neste mar a vanguarda da gastronomia ao alcance dos bolsos recheados é um lambari.
O Brasil não escapa, e nem poderia. Somos uma nação vincada pela ignorância e pela prepotência da minoria reacionária, a preferir que as coisas fiquem como estão para ver como ficam e a reputar sagrada a classificação da Restaurants. Aqui manda a moda, mas, neste mar, a dita cultura de massa é o próprio vento a enfunar as velas. Sem contar a desorientação diante do mistério da vida e o medo da morte. Deixarei de falar de esperanças impossíveis. Vou para miudezas, de certa forma, para falar de situações recentes. E então, digamos, Anderson Silva.
É brasileiro o número 1 do MMA, o vale-tudo do octógono, a luta que assinala o retorno aos gladiadores. Li, pasmem, na primeira página do Estadão. Só falta o Coliseu. Também faltam os leões, mas não nos surpreenderemos se, de uma hora para outra, irromperem na arena. Os índices de audiência são altíssimos, obviamente, e haverá quem se ufane de ser brasileiro ao se deparar com a ferocidade de Anderson, nosso Hércules. E fique feliz porque a transmissão do MMA iguala o Brasil aos Estados Unidos e ao Japão. No resto dos países tidos como civilizados, a luta é proibida.
Vale recordar que a tevê nativa ostenta tradições valiosas. Por exemplo: o nosso Big Brother, ao repetir experiências globais, bate recordes de grosseria. Acrescentem-se os programas populares do fim de semana, os seguidores do Homem do Sapato Branco e os tempos da celebração da dança da garrafinha em horário nobre. Aproveito para sublinhar que a pensata “nobre” me deslumbra.
A aposta na parvoíce da plateia é constante. Inesgotável. Praticada pela mídia nativa com singular esmero, produziu o efeito de comprometer a saúde intelectual dos seus autores. Não fogem do destino inúmeros políticos, vitimados por sua própria incompetência. Permito-me escalar nestas linhas o presidente do PT, Rui Falcão, e o novo presidente da CUT, Vagner Freitas. Em perfeita sintonia, ambos anunciam sua inconformidade em relação ao possível “julgamento político do mensalão”. Peculiar visão, a dos cavalheiros acima. O processo tem e terá inevitáveis implicações políticas, e não cabe a eles exercer qualquer gênero de pressão sobre o Supremo.
Enquanto evita-se discutir com toda legitimidade uma questão premente, isto é, a inegável suspeição quanto à participação do julgamento do ministro Gilmar Mendes, Falcão e Freitas oferecem munição de graça à mídia nativa, ela mesma tão interessada em politizar o processo. Os meus melancólicos botões garantem que os políticos de antanho, vários bem mais à esquerda dos senhores citados, eram também mais espertos.
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Sua opinião

  1. thiago disse:
    "Quem é, não muda", escreve como se fosse um ser humano iluminado e conhecedor. "Grande aquele que não é". Falas de um Preto brasileiro que toma marteladas bem treinadas na cabeça e que aguenta todas elas por um dia melhor do que aquele vivido. É fácil 'chaqualhar' sua gavetinha de altores e temas pré moldados e construir um texto para imbecis ler. Quero ver cozinhar feijão com arroz, misturar com farinha e engolir tudo isso com muito suor de mais de 25 anos de treino e filosofia que em nada é inferior a sua. São os Poposões sentados que não se movem se quer pra fazer o próprio café e querem ditar realmente o que é bom ou ruim pra todo o restante. E provavelmente conhece a fundo o BBB.
  2. Como Aprender a Morrer , Nietzsche é o Tal(mud) disse:
    Em uma sociedade onde a força bruta for cultivada, a violência e a brutalidade acabarão por prevalecer , não lembro quem cunhou a frase, não é minha , mas compreendo estes fenômenos discutidos por todos e pelo Sr Carta - gosto demais de lê-lo , que presente da Itália ao Brasil ! - como nihilismo puro . O motivo ? Nietzsche avisou em sua obra , ainda mal lida , mal compreendida e dificilmente apreendida : "foi a morte de deus" ..... que significa isso no mundo ? A moral cristã está sendo arruinada , como o rsultado da "morte de deus" . Mas aí vem o insondável, que é um convite ao ideal antigo greco-romano, o ideal heróico apolíneo . Vou mais por Dionísio, São Denis em Paris , o ideal da festa , mas Nietzsche já sublinhava que há muita festa na aniquilação , pois a vida é por aniquilação .... Sobre a nivelação do todo pelo mais baixo possível, bem isso é a industrialização, o novo pecado capital do motor a combustão e suas devidas conseqüencias . Saciléa e Pankration . Darcy Ribeiro sonhou com uma Roma tropical no Brasil, eu enxergo no futuro visível mais um período de mudança como foi o helenismo e depois, uma nova síntese , mundializada , mais chinesa , não vejo problemas com isso . Os chineses já tem seus gladiadores em treinamento visíveis com seus amigos brasileiros "porradeiros" , sou a favor , mesmo que não goste . O que não faz mal aos outros não pode ser proibido (provérbio chinês), se querem BB e Vale Tudo ou similares, que levem o que querem e cuidado , não me fez mal, pode tudo , afinal tudo é permitido , deus morreu , outra moral nascerá, não sem um parto doloroso, visível e cada vez mais destruidor desde que Nietzsche deu essa derradeira ferida narcísica na judeo-cristandade , Deus morreu!....... Ah, eu acho que o islâ contém menos mentiras como religião do que as 2 outras anteriores, doentias demais . Mas até Allah corre o risco de morrer também , tudo que é sólido se desmancha no ar (Marx?), assim é a natureza, portanto "pereat mundus, fiat philosophia, fiam pholosophus, fiam" !

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