Há quem defenda protestos mais organizados, continuação da luta e fim das passeatas
O Dia
Rio - Com as caras pintadas, os jovens foram às
ruas por um País melhor. Carregando cartazes e bandeiras, eles
reivindicam mais investimentos na saúde e na educação e querem o fim da
corrupção. Nas manifestações que arrastaram milhões de pessoas pelo
Brasil afora, protagonizaram imagens históricas e deram exemplo de
cidadania.
Mas o protesto pacífico deu lugar, nos
últimos dias, a atos de vandalismo e violência praticados por um pequeno
grupo infiltrado nas passeatas. Agora, os jovens se dividem quanto ao
rumo do movimento. Há quem defenda que as manifestações devem continuar,
mas organizadas, como a estudante Luísa Studart. Já o médico Gabriel
Madrid deseja que as passeatas sigam como estão, enquanto a estudante
Clara Dias quer o fim das manifestações e pede reflexão.
Em momento de decisão, opinião de jovens se divide quanto ao futuro da mobilização popular
Foto: Foto: Alexandre Brum / Agência O Dia
Confira a diversidade de opiniões
A favor da continuação dos protestos
“Após as declarações da presidenta Dilma, tive
certeza de que não podemos voltar a ‘dormir’. Já aguardamos muito tempo,
abusaram demais. É preciso continuar acordado, atento, vigiando quem
está no poder. Como assim o governo vai trazer médicos do exterior? Já
temos bons médicos no País. O que falta é investimento na saúde pública.
Na clínica onde trabalho, um paciente com uma simples gripe aguarda
cerca de 5 horas para ser atendido. E fica parecendo que os culpados
somos nós, os médicos de plantão.
Nos hospitais, os doentes são atendidos no chão. É
vergonhoso. A demanda é enorme. Parece que os governantes não conhecem
os problemas do Brasil, sinceramente.
A redução do valor da passagem de ônibus nem era o
mais importante dos problemas, mas serviu para nos despertar. Após essa
conquista, o foco deve ser a saúde e a educação. E não é porque o
cidadão não precisa do Serviço Único de Saúde ou porque não estuda — ou
não tem filhos que estudem — numa escola pública que não vai protestar.
Temos que pensar no coletivo. Vou continuar protestando, pacificamente,
por aquilo que eu acredito. E eu acredito — e tenho fé — na mudança do
Brasil”. GABRIEL MADRID é médico e tem 26 anos Pelo fim das manifestações
“É preciso parar para refletir. Diante do que
tenho visto, lido e ouvido minha cabeça trabalha a mil, com angústias e
até medo. Sempre fui a favor de manifestações e defendi que os
estudantes deveriam ser mais ativos e interessados sobre a situação
política do País. Mas as manifestações não foram como eu sempre esperei.
O que começou a me preocupar de fato foi o rumo
das manifestações. Como podem haver atos tão hostis a quem levanta
bandeira de partido político? As gerações anteriores lutaram pela
liberdade de expressão. E quer eu concorde ou não com os partidos, não
posso negar que eles ajudaram a escrever a história do nosso País. Não
consigo entender uma manifestação que lutava pelos direitos da população
ferir tão gravemente a liberdade de expressão. Então, pergunto: o que
há de errado na presença dos partidos? Será que é contra isso que
devemos lutar?
Portanto, antes de manter as manifestações do
jeito que estão, gostaria de fazer um convite aos jovens e a toda
sociedade brasileira: vamos ampliar a discussão e desenvolver nossa
capacidade de pensar, desconfiar e questionar. Temos o privilégio de
viver um tempo em que as informações se propagam tão rápida e
facilmente. Mas sejam críticos em relação ao que escutam, veem e leem”. CLARA DIAS é Estudante de Farmácia e tem 23 anos Passeatas devem continuar, desde que organizadas
“Acreditava na beleza do protesto até estar lá.
Continuo acreditando na importância da população ter aberto os olhos e
visto finalmente que na inércia não dava para continuar. Mas não vai ser
do dia para a noite que se reivindicará a solução de todos os
problemas.
Achei que estaria fazendo parte de uma massa
empenhada para o bem, para fazer história e mudar alguma coisa. Me
decepcionei ao perceber que, muito além do país, é preciso que mude o
ser humano. Que não é mais por 20 centavos, todos sabemos, mas muita
gente na rua nem sabia pelo que exatamente se levantava cartaz. Ou seria
um Carnaval fora de época? Meu parecer daqueles momentos não me trouxe
para casa feliz. Diferente disso, angustiada.
Não é questão só da polícia e dos vândalos, não é
questão de quem governa, agora é a humanidade. Não é assim que se
protesta. Não é sem organização que se atinge objetivos. Para os nossos
queridos governantes, reprimir tá tranquilo. Transformar tudo no caos
acontece em segundos. Não é assim que uma causa ganha força.
Pelo contrário, se enfraquece, perde a razão. Vi
pessoas preparadas para a batalha e outras como se tivessem se perdido
do trio do Chiclete com Banana. Cheguei a acreditar que finalmente as
palavras ‘política’ e ‘democracia’ haviam entrado no vocabulário da
massa. Engano o meu. A causa é justa, só falta ser feita de maneira
eficiente. Com consciência e paz”. LUÍSA STUDART é estudante e tem 18 anos Reportagem: Alessandro Lo-Bianco, Athos Moura, Aurélio Gimenez, Marcello Víctor, Maria Luisa Barros e Víctor Correa
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