Ritalina (metilfanidato) torna criança apática e sem criatividade.
Segundo o Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos, de 2000 a 2008, a venda de caixas de metilfenidato saltou de 71 mil para 1.147.000, um aumento de e 1.615%. De acordo com dados fornecidos pela consultoria IMS Health do Brasil, de julho de 2012 a julho de 2013 foram comercializadas 2,75 trilhões de caixas com metilfenidato.
Especialistas afirmam que os números podem indicar a prescrição desnecessária do medicamento. Na opinião de Ligia Sena, que tem pós-doutorado em Farmacologia, o diagnóstico, muitas vezes, é baseado apenas em relatos de pais e educadores que consideram as crianças “agitadas”, “curiosas”, ou “que falam demais”.
O metilfanidato, vendido com o nome de Ritalina ou Concerta, é uma droga que estimula o sistema nervoso central aumentando a concentração da dopamina e da noradrenalina, neurotransmissores do cérebro, e é indicada para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O problema é causado pelo mau funcionamento de estruturas neurais e tem como sintomas mais comuns a dificuldade de concentração, inquietude e impulsividade.
A Organização Mundial de Saúde estima que cerca de 4% dos adultos e de 5% a 8% de crianças e adolescentes em todo o mundo tenham TDAH. No entanto, os dados sobre o comércio da droga no Brasil indicam uma discrepância no uso.
“Hoje a gente está imerso em uma sociedade altamente medicalizada em que os problemas naturais do dia a dia são vistos como doença. Hoje a gente não diz ‘estou triste’, diz ‘estou deprimido’. Não tem mais crianças espontâneas, ativas, brincalhonas, tem crianças hiperativas”, defende.
Segundo ela, o consumo sem necessidade pode fazer com que as crianças fiquem prostradas, apáticas, quietas, mas também pode haver um “efeito paradoxo”: “Ás vezes ela fica mais agitada, ansiosa e aí a família entra em desespero porque nem a droga conseguiu controlar”.
Mas no geral, o que se percebe, segundo Ligia Sena, que é autora do blog Cientista que virou Mãe, é a perda da capacidade criativa, da eloquência, do interesse, e é aí que está o principal prejuízo. A droga, na opinião dela, interfere na personalidade e reduz o potencial inventivo de crianças que demonstram claramente ter um diferencial em relação às demais.
O problema, segundo ela, não está nas crianças, mas nos adultos: “Nós estamos cada vez menos hábeis a lidar com a infância da forma que ela é, com os anseios e necessidades naturais das crianças. A vida está muito corrida, estamos trabalhando muito e não temos mais tempo para brincar com nossos filhos ou para desenvolver um método educativo que acolha realmente essas crianças de uma forma igualitária”.
Ela afirma que o fato da sociedade atual desejar crianças mais calmas e comportadas tem a ver com o despreparo para perceber as diferentes necessidades de cada ser humano. “O fato de eu querer que a minha filha fique ali boazinha enquanto eu estou trabalhando é um interesse meu, não é um problema dela. As crianças não estão ficando doentes. O que está acontecendo é uma redução da habilidade de mães, pais, profissionais de saúde e educadores de lidar com as diferenças naturais das crianças, de respeitar as diferenças”, argumenta.
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