7.02.2015

Foi mais fácil parir do que achar o médico’, diz cadeirante


Giovanna Balogh


Mãe recebe o filho no colo assim que ele nasce (Foto: Elias Freitas Fotografias)
Mãe recebe o filho no colo assim que ele nasce (Foto: Elis Freitas Fotografias)
Ela tinha apenas sete anos quando foi atropelada por um caminhão. Devido à gravidade dos ferimentos, os médicos tiveram de amputar totalmente as suas duas pernas. A deficiência física nunca foi, no entanto, um impedimento para seguir uma vida normal. “Não ter as pernas sempre foi um desafio. Desde criança nunca aceitei ser deixada de canto”, diz.
Hoje, com 33 anos, Lurdes Soares, que prefere ser chamada de Lulu, diz que ser cadeirante não a impediu de brincar quando era criança, nem de trabalhar e fazer coisas corriqueiras na vida adulta, como ir ao mercado, pegar um ônibus sozinha ou sair com as amigas. Para ela, não seria diferente na hora de ser mãe. Como sempre sonhou com o parto normal, não quis que o nascimento do filho fosse de uma forma diferente.
No ano passado, um teste de gravidez com um positivo inesperado deu um susto em Lurdes e no namorado, com quem está há oito anos. Ela conta que engravidou ao trocar de anticoncepcional.
Como sempre sonhou em ser mãe, ela brinca que o filho só antecipou um pouco a sua chegada. “Antes de sonhar em engravidar já queria ter meu filho de parto normal. Nunca pensei em fazer cesárea, somente se fosse necessário. A cirurgia não era uma opção para mim”, comenta.
Lulu usou água morna para aliviar as contrações (Foto: Elias Freitas Fotografias)
Lulu usou água morna para aliviar as contrações (Foto: Elis Freitas Fotografias)
Lulu diz que passou bem a gravidez toda e que a única dificuldade que teve foi encontrar o médico que a respeitasse e permitisse que ela tivesse o parto normal. O médico só foi achado quando já estava com 30 semanas de gestação. “Passei por quatro médicos e todos eram unânimes em indicar a cesárea. Me davam várias explicações alegando que eu não conseguiria o parto normal. Falavam que a bacia não abriria, que eu não conseguiria por ficar muito tempo sentada, entre outras desculpas”, comenta.
Após encontrar uma equipe humanizada – entre profissionais particulares e voluntários – Lulu conta que entrou em trabalho de parto com  40 semanas e mais cinco dias de gestação. “As contrações começaram a ficar mais intensas por volta das 20h do dia 7 de junho. Fui para o hospital durante a madrugada e estava apenas com três centímetros de dilatação”, conta Lulu, que trabalha em um call center de um hospital em Várzea Grande (MT).
Para aguentar as dores da contração, Lulu recebia massagens e usava uma banheira com água bem quentinha. “Foi lindo meu parto, natural, sem nenhuma intervenção. Foi uma explosão de sentimentos, chorei, gritei, ri, cantei. Pari lindamente”, comenta Lulu, que contou com doulas [mulher que ajuda a gestante dando apoio emocional e auxiliando com massagens durante o trabalho de parto] e a presença constante do namorado.
“Não sabia o que era doula até engravidar. Elas são verdadeiros anjos e fundamentais para as mulheres nesse momento”, diz. O menino Derick nasceu somente às 14h do dia 8 de junho pesando 2.550 kg.
Os primeiros dias em casa com o pequeno têm sido como para qualquer mãe de recém-nascido, ou seja, dormir ‘picadinho’ e muito leite materno. “Meu filho é uma benção. Mama e dorme, não dá trabalho nenhum e pegou muito bem no peito logo nas primeiras horas de vida. Claro que tenho dormido menos, mas estou adorando”, comenta.
Contato pele a pele com o bebê (Foto: Elias Freitas Fotografias)
Contato pele a pele com o bebê (Foto: Elis Freitas Fotografias)

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