Por Fernando Castilho
por
Fernando Castilho
às
20:20
Muitos
já escreveram sobre o depoimento de Dirceu a Moro. Vai aqui uma outra
leitura que demonstra que os papeis parecem ter se invertido naquela
ocasião.
Zé
Dirceu deu um depoimento de mais de 2 horas ao juiz Moro.
Confesso
que havia de minha parte uma grande expectativa, uma vez que estavam
enfim frente a frente o inimigo público número um da Nação e o
justiceiro eleito pela grande mídia e pela classe média brasileira.
Logo
no começo foi possível ver um Dirceu magro, envelhecido e com certa
aparência de cansaço. Seria logo engolido por Moro.
Mas
para minha surpresa, Dirceu foi respondendo pausadamente e com muito
preparo a todas as questões que lhe eram formuladas.
Aos poucos fui percebendo que as perguntas a ele dirigidas eram
frágeis, quase simplórias.
Já
tinha lido alguns despachos de Sérgio Moro que me chamaram a atenção
por uma certa dificuldade em escrever em bom Português.
Alguém
poderá alegar preconceito meu, uma vez que nosso idioma passa
constantemente por transformações. Porém, ao contrário do comum
dos brasileiros, um juiz não pode escrever mal, sob pena de ser mal
interpretado em seus despachos.
Mas
voltando às perguntas.
Moro
à certa altura pergunta a Dirceu se ele tinha alguma divergência
com relação à delação premiada de Fernando Moura que o isentou
do esquema da Lava Jato ao que Dirceu responde de imediato que não.
Mas é claro que não. Se ele foi isentado, como iria invalidar a
delação?
Moro
faz até 5 vezes as mesmas perguntas, demonstrando que, ou não se
preparou direito para o embate ou realmente não tinha o que
perguntar a alguém que ele certamente já sabe que não está
envolvido na Lava Jato. É que a vaidade o impede de simplesmente
soltar o preso o que seria ruim para sua imagem.
Ele
e o promotor do Ministério Público, de voz adolescente trêmula demonstraram não conhecer
o Zé Dirceu de antes de 2005, ano que estourou o Mensalão. Não
conhecem sua história.
Por
não conhecer sua história não conseguem compreender que alguém dê
consultorias à empresas sem que elabore planilhas, tabelas, gráficos
e relatórios como faria qualquer técnico médio.
Não
sabiam que o trabalho de Dirceu era, aproveitando-se de seu
relacionamento com políticos importantes e governos de esquerda da
América Latina e Cuba, abrir oportunidades para que empresas
brasileiras pudessem disputar concorrências lá fora, com
consequente entrada de divisas para o país e contratação de mão
de obra brasileira.
À
certa altura Moro lhe pergunta se não enriqueceu com isso, ao que Zé lhe responde que seu objetivo de vida nunca foi enriquecer.
Incompreensível para lacaios do capital.
O
promotor foi ainda mais primário. Indagou o por quê de Dirceu ter
parado de dar consultorias. Ele responde: ora, porque eu estava
preso! O promotor não sabia disso?
Além disso, ao final, indagou sobre a pensão às filhas de Dirceu, coisa totalmente alheia à Lava Jato.
Moro
revelou também desconhecer que Dirceu não é ministro nem deputado
desde 2005.
À
certa altura um dos inquiridores o chama por excelência, ao que
Dirceu responde que dispensa o termo uma vez que não é mais
deputado.
Dirceu
foi humilde do começo ao fim. Nem ao perceber a fragilidade dos que
o ouviam, mudou de comportamento.
Mas
Moro sentiu que lhe escapava a capacidade de desestabilizar o homem e
induzi-lo ao erro. Por isso, fez questão de demonstrar sua
autoridade quando Zé Dirceu ao responder a alguém, virou-se de
costas. Lembrou então ao depoente que não se vira as costas para um
juiz, ao que Zé reagiu com um pedido de desculpas.
Outra
pergunta que demonstra cabalmente o despreparo de Moro foi quando ele
indagou a Dirceu sobre seu patrimônio em dinheiro. Este lembrou-lhe que seu sigilo bancário havia sido quebrado, o que só
demonstrou o volume de dívidas que vem se acumulando mês a mês.
Ao
final, quando Moro deu a palavra a Dirceu para as últimas
considerações, la crème de la crème: a mídia sempre martelou que
as relações entre ele e Lula estavam muito abaladas pelo fato de o
ex-presidente nunca tê-lo defendido, certo? Pois Dirceu afirmou a
Moro que Lula não tem qualquer envolvimento em esquemas de propinas
da Petrobrás.
Quando digo que desconfio
que Moro e o promotor desconhecem a história de Dirceu é porque foram
surpreendidos. Esperavam entrevistar um homem destruído psicologicamente
mas não esperavam que ele tivesse aquela fibra moldada em anos de
treinamento de guerrilha, vida clandestina, privações de toda ordem.
E Dirceu não se utilizou disso para crescer frente a eles. Eles é que se assustaram e se apequenaram diante do mito.
Por
tudo isso, a impressão que se tem foi de que Moro prestou um
depoimento a Zé Dirceu.
Nesse
depoimento, Moro revelou que é um juiz despreparado, não conhece
História, não se aprofundou em saber qual trabalho Dirceu
desempenhou em suas consultorias e nem tinha perguntas objetivas que o
pudessem incriminar.
A
impressão que fica é que, devido à juventude e imaturidade, Moro e
o promotor do MP estiveram juntos jogando games na véspera do
depoimento.
E após o depoimento, Moro deve ser condenado a libertar Zé Dirceu.
Se continuar preso será a prevalência da vaidade de Moro sobre a Justiça.
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