5.20.2016

Controle a pressão e saia do gatilho da doença mais mortal do País



Nivia de Souza 

Leitor, como você está? Espero que muito bem.
Quero começar este encontro apresentando 2 pessoas totalmente diferentes, que poderiam ser seus parentes, vizinhos ou até mesmo você.
Verônica J., 63 anos: contadora, mãe de 2 filhos, voltou a fumar há pouco mais de uma década, logo após a menopausa. Durante um bom tempo, foi usuária da pílula anticoncepcional. Costuma fazer aulas de zumba às quartas-feiras, mas, às sextas, não dispensa uns petiscos com chope geladinho. Sua ginecologista, com quem faz consultas anuais, a aconselhou procurar um cardiologista. A médica, porém, não foi ouvida. Depois de sentir muita dor de cabeça, Verônica sofreu AVC hemorrágico enquanto trabalhava.
Douglas F., 38 anos: engenheiro, pai de 3 filhos, usa uma calça número 48 e se incomoda com a barriga que costuma ficar para fora. Não frequenta a academia e, em um mesmo dia, não chega a dar os 10 mil passos diários necessários para ser considerado ‘saudável’. Também não liga muito para o cuidado com o diabetes e com a saúde em geral. Nunca colocou um cigarro na boca e também não bebe, porém faz praticamente todas as refeições fora de casa, abusando de fast food, frituras, refrigerantes diets, pães doces e cachorro-quente. Em uma segunda-feira de manhã, teve um AVC isquêmico.

Apesar de serem tão distintos, Verônica e Douglas têm em comum algo que vai além do fato de ambos terem sido vítimas (quase fatais) de um Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecidos como derrames.
Verônica e Douglas são hipertensos, ou seja, sofrem de pressão alta. Você sabe, leitor, o que isso realmente significa?

O sangue, quando passa por cada veia e artéria, exerce uma tensão sobre as paredes destes vasos. É como a água passando pela mangueira.

Quando esta tensão é igual ou acima do considerado normal (14 por 9, em repouso), a pessoa é enquadrada como vítima de hipertensão.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), a pressão alta acomete 1 em cada 4 pessoas.

Esta condição é popular e democrática; qualquer pessoa pode apresentar, independentemente de idade, cor, peso e temperamento.

Durante o processo de envelhecimento, é comum que aconteça esse aumento na pressão arterial.

É um processo silencioso e, por vezes, traiçoeiro. Até porque, você, meu vizinho, a Verônica e o Douglas podem estar com os índices pressóricos em desalinho sem se darem conta disso.


Sinal de alerta


Leitor, eu não quero com isso lhe causar nenhum desespero. Até porque o terrorismo mais atrapalha do que ajuda.

O meu objetivo – e o da Jolivi também – é te alertar para esse problema de saúde que pode ser um gatilho para doenças cardiovasculares – entre elas, o AVC, que acometeu nossos amigos Verônica e Douglas.

Segundo o nosso consultor, dr. Leonardo Aguiar, anualmente, 68 mil pessoas morrem após ter um derrame no Brasil, tornando esta a nossa primeira e principal causa de morte.

No mundo todo, esse número é de 6 milhões.

Além dessa estatística ser triste e estar bem próxima da gente por abranger quem nos é querido, é revoltante saber que a pressão alta é uma condição altamente evitável.

Há também aquelas pessoas que sobrevivem ao AVC. O que, óbvio, é desejável, mas, muitas vezes as sequelas são horríveis.

O dr. Léo me disse que as consequências de um derrame podem ser incapacitantes, o que resulta não só em impactos na vida do paciente e de seus familiares, mas para a sociedade em geral.

Assim, podemos dizer que a hipertensão é um problema de saúde de pública, e seu combate exige muito mais do que sair do consultório médico com receitas vitalícias de medicamentos, que prometem fazer o controle.

Só medicar os hipertensos não adianta, e a coleção de mortes e sequelados pelo AVC nos comprova isso.


Silêncio nada inocente


O dr. Léo me disse que, comumente, o organismo humano precisa dessa alteração de pressão para realizar algumas atividades, que nos exigem maior ou menor esforço.

“Quando o corpo não consegue efetuar o controle dessa pressão e os níveis permanecem elevados por um tempo maior que o necessário, começam a ocorrer lesões nos órgãos-alvo, como por exemplo rins, coração e cérebro”, contou o médico.

Então, apenas quando esses órgãos são lesionados, seu organismo vai te contar que algo não está bem.

“O problema é que, muitas vezes, estes sinais podem ser letais, como, por exemplo, os AVCs”, ponderou o dr. Léo.


Verônica e Douglas


Como comentei com vocês, nossos amigos sofreram um AVC em dias comuns de suas vidas. Cada um deles, entretanto, teve um tipo de derrame.

A Verônica teve um hemorrágico. Isso quer dizer, leitor, que ela teve um sangramento no cérebro por conta de um vaso rompido. Este tipo é mais grave que o isquêmico, que acometeu Douglas.

Por sua vez, o AVC isquêmico é fruto de uma interrupção no fluxo de sangue em alguma área específica do cérebro. Essa falta de sangue, por consequência, causa ausência de oxigênio, danos neurológicos e pode até paralisar o paciente.


Medindo a pressão


Alguns problemas de saúde só podem ser avaliados ou evidenciados por meio de exames médicos específicos, realizados em laboratórios e hospitais.

A nossa pressão arterial, diferentemente, pode ser medida em casa.

(Olha aí, querido leitor, um ponto a favor da prevenção e do controle da hipertensão)

Obviamente, você deve adquirir um medidor de pressão, que é facilmente encontrado em farmácias e lojas especializadas.

Muitos deles são digitais, o que facilita o processo.

Para saber tintim por tintim como medir sua pressão em casa, entre neste link, no site da Jolivi.

Aceite e cuide-se


Pois bem.

De acordo com um artigo publicado no início de maio de 2016, muitas pessoas têm dificuldade em aceitar o diagnóstico de hipertensão.

A autora do texto, a endocrinologista Naomi Fisher, professora de medicina da Harvard Medical School e diretora do Serviço de Hipertensão do Brigham and Women’s Hospital, cita 3 fatores que tornam essa compreensão uma das dificuldades do gerenciamento da hipertensão.
1) A falta de sintomas torna o problema irreal;
2) Como ela está conectada a problemas sérios, como os AVCs, ao invés de tranquilizar os pacientes, os médicos acabam por criar medo. A hipertensão só é algo comprometedor se não tratada;
3) A dificuldade de se identificar uma causa também floresce questionamentos para o diagnosticado, principalmente para aqueles que têm hipertensão como uma causa genética ou por conta do envelhecimento.

Como todos sabemos não dá para desejar interromper o processo de envelhecimento, não é?

Portanto, gerenciar os outros fatores de risco da hipertensão é totalmente possível. 
 

Mas, como?


Para fazer as recomendações de controle e gerenciamento da hipertensão, eu conversei com o dr. Léo, que tem sempre em mente o conceito de co-criação de saúde.

Ou seja, o paciente, você, a Verônica, eu e o Douglas precisamos ter uma participação ativa nos tratamentos de saúde.

A primeira dica é ter o hábito de medir sua pressão. Isso faz com que você faça o controle antes de algum órgão mandar a fatura.

Ingredientes da pressão controlada:

A alimentação, como você já deve imaginar, leitor, tem um papel essencial no gerenciamento e controle.

Eu acho que você deve estar pensando que farei uma lista de diversas restrições alimentares. Pelo contrário! Até porque controle tem muito mais a ver com equilíbrio do que com proibições.

A única restrição que vou citar é sobre o sal. Evitar seu consumo é primordial para controlar a pressão, uma vez que, devido à uma característica química dele, o volume de sangue dentro das veias e artérias aumenta após a ingesta.

Aos poucos, ir diminuindo a quantidade de sal adicionada – mesmo que você ainda não sofra com a hipertensão –, é uma dica bacana e que vai acostumando, lentamente, seu paladar familiarizado com o sabor salgado.

“Devemos lembrar que existem alimentos que nos enganam, pois possuem altíssimo teor de sódio como, por exemplo, conservas e embutidos”, avalia o consultor.

O dr. Léo indica que você dê preferência para os grãos integrais, pois eles são ricos em fibras.

Quer exemplos? Olha só: arroz integral, milho (lembre-se de não adicionar sal na pipoca), aveia, quinoa.

A próxima dica do nosso consultor é abusar dos vegetais, que são ricos em minerais e fibras. “Não pense neles apenas como acompanhamentos”, indica. A trinca tomates, cenouras e brócolis rendem pratos saborosos, criativos e coloridíssimos.

As nozes também são aliadas poderosas, pois elas contêm tipos de gorduras que são bons para a nossa saúde. Por conta do alto teor calórico, consuma com moderação como lanche intermediário.

Fique atento também ao consumo de bebidas alcoólicas, pois elas também possuem a capacidade aumentar a sua pressão.

Não se reprima:

Praticar atividade física também faz parte desse processo, leitor. Qual a modalidade que você escolheu? Aulas de spinning ou musculação? Aulas de tênis ou de boxe?

O exercício vai mexer e influenciar diretamente com todo o seu sistema cardiovascular.

De acordo com um artigo publicado em 2003 na revista do Departamento de Hipertensão Arterial da Sociedade Brasileira de Cardiologia ( SBC), “por meio do treinamento físico, é possível para o paciente hipertenso diminuir a dosagem de seus medicamentos anti-hipertensivos ou mesmo ter sua pressão arterial controlada sem a adoção de medidas farmacológicas”.


Remédio para sempre?


Pois é, leitor. Aposto que você conhece hipertensos que acham que estão condenados a usar medicação de controle para o resto da vida.

É claro que, dependendo da situação e da gravidade do caso, o remédio se faz necessário sim.

Porém, ele não e nem nunca será a única saída para o controle. Com uma alimentação realmente saudável, prática de exercícios e acompanhamento médico, é possível ir diminuindo os remédios, ganhando em qualidade de vida e até abandoná-los.

“Não é a medicação que promove mudanças na sua vida. Quem sente e vive o problema e é capaz de tomar a decisão é você”, fala dr. Léo.

Vamos abordar mais, num futuro próximo, essa relação de “dependência” entre hipertensos e medicamentos (indústria farmacêutica). Porque cuidar da pressão arterial não precisa estar centrado em comprimidos, como a medicina ocidental vem pregando em suas campanhas.

 








 

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