Edgar Safdié, apontado pela PF como o homem que seria acionado
por Rodrigo Rocha Loures para receber propina da JBS, foi sócio da
empresa que vendeu apartamento a FHC por 43% de seu valor de mercado.
Seu pai, Edmundo Safdié, foi réu por lavagem de dinheiro em favor de
Celso Pitta e teve seu banco envolvido no trensalão tucano
Jornal GGN - O Edgar que a Polícia Federal apontou
em relatório ao Supremo Tribunal Federal como principal suspeito de ter
sido acionado por Rodrigo Rocha Loures (PMDB) para receber propina da
JBS em esquema envolvendo Michel Temer foi sócio da empresa que vendeu,
em 2005, um apartamento ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
(PSDB).
Edgar Rafael Safdié e seu pai, Edmundo Safdié, falecido no ano
passado, controlavam a empresa Bueninvest, criada em 1990. Segundo
informações da junta comercial de São Paulo, Edgar só deixou a sociedade
em 2010, cinco anos após a venda de um imóvel em Higienópolis para FHC.
Em 2013 o GGN mostrou, em reportagem
de Luis Nassif, que havia indícios de subfaturamento no apartamento
adquirido pelo ex-presidente. Com pouco mais de 500 metros quadrados e
quatro vagas para automóvel, a unidade foi arrematada por R$ 1,1 milhão,
quando seu valor de mercado, à época, poderia chegar a R$ 2,5 milhões.
Ou seja, FHC teria desembolsado cerca de 43% do valor de mercado.
A reportagem embasou representação ao Ministério Público Federal em
São Paulo em março de 2016. A iniciativa foi dos deputados João Paulo
Rillo e Teonílio Monteiro da Costa, ambos da bancada do PT na Assembleia
Legislativa do Estado.
No pedido de investigação, os parlamentares destacaram que as
suspeitas sobre FHC não poderiam ser ignoradas diante da devassa imposta
ao ex-presidente Lula pela Lava Jato, por conta do sítio e do triplex
que foram reformados pela Odebrecht e OAS.
O procedimento investigatório criminal (PIC) chegou a ser
instaurado em julho de 2016, mas o procurador da República Gustavo
Torres Soares decicidiu arquivar a apuração contra FHC e Edmundo, por
sonegação fiscal, lavagem de ativos e falsidade ideológica, em 30 de
janeiro de 2017.
Soares alegou que relatórios solicitados à Receita Federal e ao
COAF (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) não apontaram
nenhum indício de fraude nas contas de FHC. Além de arquivar, o
procurador determinou o sigilo dos autos por causa das informações
fiscais do tucano.
Nesta quarta (21), a assessoria do deputado Rillo sinalizou ao GGN
que pretende recorrer da decisão de arquivamento e solicitar a
reabertura da investigação, com base nas revelações feitas recentemente
pela Lava Jato.
Apesar de não ser conclusivo, o relatório da Polícia Federal coloca
Edgar Safdié como suspeito de ser acionado por Rocha Loures para
operacionalizar o recebimento de propina junto a Ricardo Saud, executivo
da JBS. Em conversa gravada pelo delator, Loures afirma que Edgar seria
a "alternativa" para a transação, já que "outros caminhos estavam
congestionados".
À PF, Edgar negou que seja o homem procurado pela Lava Jato. Ele
admitiu que fez uma doação à campanha eleitoral de Loures em 2006 e que
tem relacionamento pessoal com o ex-assessor de Temer - a imprensa
divulgou troca de mensagens de ambos sobre aulas de ski para crianças -,
mas negou que tenha operado financeiramente para políticos ou
partidos.
O relatório destacou, contudo, que Edgar Safdié esteve com Loures
na véspera do encontro do peemedebista com Ricardo Saud. "De relevante,
apenas, a informação de que esteve reunido com Rodrigo da Rocha Loures
no dia 23/04/17, em São Paulo, véspera do nome 'Edgar' ter sido ofertado
para operar valores advindos da JBS. Não houve tempo hábil para um
maior aprofundamento dessa questão particular", diz trecho do documento.
TRENSALÃO TUCANO
Na reportagem de 2013, Nassif destacou que o pai de Edgar, Edmundo
Safdié, mantinha relações com tucanos que iam além de FHC. Edmundo
chegou a ser investigado pela Polícia Federal porque o banco Leumi
Private Bank da Suiça, antigo Multi Commercial Bank (da família Safdié),
mantinha uma conta com o codinome "Marilia", que abastecia o cartel dos
trens de São Paulo. Alstom e Siemens depositavam nela a propina do
esquema que desviou recursos públicos durante governos do PSDB no
Estado.
"Veterano conselheiro de políticos", Edmundo também foi réu por
lavagem de dinheiro para o ex-prefeito Celso Pitta, em processo
sigiloso.
Segundo informações recebidas pelo GGN, Edgar Safdié é hoje sócio de pelo menos 12 empresas:
* BUENA ESPERANCA PARTICIPACOES EIRELI
* OSCAR 585 DESENVOLVIMENTO IMOBILIARIO SPE LTDA.
* LCP - LATOUR CAPITAL PARTNERS DO BRASIL LTDA.
* LC1 DESENVOLVIMENTO IMOBILIARIO LTDA
* LATAM WATER PARTICIPACOES LTDA.
* LATOUR PROPERTIES PARTICIPACOES LTDA
* ILA GESTAO E ASSESSORIA HIDRICA LTDA.
* FLORIDA LATOUR I PARTICIPACOES LTDA
* LATOUR CAPITAL DO BRASIL LTDA
* OSCAR FREIRE PARTICIPACOES LTDA.
* LATOUR SECURITIES - SECURITIZACAO IMOBILIARIA S/A - EM LIQUIDACAO
* LATOUR REAL ESTATE INVESTIMENTOS LTDA
A IDENTIDADE DE EDGAR
A identidade de Edgar foi questionada a Michel Temer na lista de
perguntas enviada a ele pela Polícia Federal. Isso porque, na conversa
com Saud, Rocha Loures sinalizou que Edgar seria um homem de confiança
do presidente e que trabalha a partir de São Paulo. Temer, assim como
Loures, nada disse à PF sobre as revelações feitas pela JBS no
processo.
O GGN apontou, no início de junho, que Temer tem
outro Edgar entre seus amigos. Trata-se do advogado Edgar Silveira Bueno
Filho, que dividiu escritório com Temer nos anos 1990, em São Paulo.
O advogado é desembargador aposentado do Tribunal Regional Federal
de São Paulo e foi presidente da Ajufe (Associação dos Juízes Federais)
em 1993.
Hoje, ele apresenta-se como especialista em "agências reguladoras e
concorrenciais", justamente o assunto que causa dores de cabeça à JBS
em órgãos como o Cade - onde Temer deu aval a Joesley Batista para
sugerir mudanças, junto a Henrique Meirelles, de acordo com suas
conveniências. Leia mais aqui.
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