Boa parte dos pacientes engorda quase tudo que emagreceu após a cirurgia. Bons hábitos alimentares ajudam a manter a paz com a balança.
Um estudo sobre cirurgia bariátrica descobre por que gordinhos que
fazem a cirurgia de redução de estômago voltam a ganhar peso. Boa parte
dos pacientes emagrece quando faz a cirurgia, depois volta a engordar,
ganha quase todo o peso que perdeu.
O que explica isso é a diminuição de um hormônio que fica no intestino e avisa ao cérebro que estamos saciados. Se esse aviso demora a chegar, a pessoa continua comendo.
Há quase 10 anos, Camila pesava 127kg. O excesso de peso, além de incomodar, provocava risco para a saúde. Ela fez a cirurgia para reduzir o estômago em junho de 2007. Em um ano e meio, já tinha perdido 59 kg.
“Quando eu fiz a redução do estomago, eu achei que eu jamais fosse voltar a engordar e que eu poderia comer de tudo. Não preciso fazer mais nada, porque vou ficar magra para o resto da vida”, afirmou a pedagoga Camila Tomaiolo.
Mas não foi bem assim. As roupas voltaram a ficar apertadas, o peso na balança subiu. Quando ela viu, estava com 100 kg novamente. “No início, você comia uma pequena porção de legumes, de arroz, a carne e estava ótimo, mas depois com o tempo foi aumentando essa vontade e a quantidade”, contou.
Rosemary engordou muito depois que teve o segundo filho. Ela chegou a pesar 135 kg. A obesidade trouxe problemas de pressão alta e apneia. A redução de estômago ajudou a mandar embora 60 kg, mas a comemoração não durou muito. Ganhou de novo, 30 kg. “Eu como. Daqui a meia hora, se você me oferecer alguma para eu comer, eu vou comer, porque parece que eu tenho fome”, afirmou a dona de casa.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP acompanhou, por cinco anos, 24 pacientes que fizeram cirurgia para redução do estômago. Todos eles perderam peso nos primeiros dois anos, 14 mantiveram o peso depois disso, dez voltaram a ganhar peso. Os pesquisadores descobriram que uma das causas para esse aumento de peso foi a mudança na produção de um hormônio produzido pelo nosso intestino.
Funciona assim: a comida passa pelo nosso esôfago e cai no estômago. O alimento chega então no intestino fino, no delgado, e quando vai parar na região final dessa área, são enviados sinais para o cérebro. Quem manda esses sinais é um hormônio intestinal chamado GLP-1, que vai indicar que já estamos saciados. Na operação de redução, a comida chega mais rápido nessa parte final do intestino e a produção desse hormônio é estimulada.
Segundo o médico que coordenou a pesquisa, os pacientes que tiveram ganho de peso depois da perda inicial bem-sucedida, mostraram, depois de dois anos, uma queda na produção desse hormônio intestinal.
“Isso abre uma pequena perspectiva de entender um pouquinho melhor esse processo complexo onde vários fatores interferem no reganho de peso após a cirurgia. Na medida que a gente conhece um pouco melhor todo esse mecanismo, certamente se abrem novas perspectivas. Utilização de medicamentos que atuam nesse sentido, eventualmente, de resgatar essa capacidade de produção do organismo”, disse o diretor da Unidade de Cirurgia Bariatrica/HC, Marco Aurélio Santo.
O que já se sabe com certeza é que os bons hábitos alimentares contribuem muito para manter a paz com a balança. Elaine fez a cirurgia do estômago há cinco anos; não ganhou peso nem mesmo depois de ter filho. As fotos apresentadas na reportagem do antes e do depois impressionam: de 110 kg para 63 kg.
“É se alimentar com os alimentos corretos, tomar café, alimentação de três em três horas, frutas, verduras, legumes, pouco doce, pouca fritura, pouco carboidrato. Sempre com atividade física”, contou a assistente contábil Elaine Nascimento dos Santos.
A pesquisa brasileira foi publicada na revista internacional Obesity Surgery, uma das mais importantes sobre o tema. A cirurgia é só o primeiro passo, o acompanhamento depois também é muito importante.
Conheça as 10 coisas que você precisa saber sobre este procedimento.
1 - Gastroplastia, também chamada de cirurgia bariátrica, cirurgia da obesidade ou ainda de cirurgia de redução do estomago é - como o próprio nome diz - uma plástica no estômago (gastro = estômago e plastia = plástica). Ela tem como objetivo reduzir o peso de pessoas com o IMC muito elevado.
2 - Esse tipo de cirurgia está indicada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para pacientes com IMC acima de 35 Kg/m² que tenham complicações como apneia do sono, hipertensão arterial, diabetes, aumento de gorduras no sangue e problemas articulares, ou para pacientes com IMC maior que 40 Kg/m² que não tenham obtido sucesso na perda de peso após dois anos de tratamento clínico (incluindo o uso de medicamentos).
3 - Existem três tipos básicos de cirurgias bariátricas: restritivas, mistas e disabsortivas. As cirurgias que apenas diminuem o tamanho do estômago são chamadas do tipo restritivo (Banda Gástrica Ajustável, Gastroplastia Vertical com Bandagem ou Cirurgia de Mason e a Gastroplastia Vertical em “Sleeve”). A perda de peso se faz pela redução da ingestão de alimentos. Existem também as cirurgias mistas, nas quais há a redução do tamanho do estomago e um desvio do trânsito intestinal. Há, além da redução da ingestão, a diminuição da absorção dos alimentos. As cirurgias mistas podem ser predominantemente restritivas (derivação Gástrica com e sem anel) e predominantemente disabsortivas (derivações bileopancreáticas).
4 - Antes da cirurgia todo paciente precisa ser avaliado individualmente, devendo ser submetido a uma avaliação clínico-laboratorial que inclui - além da aferição da pressão arterial - dosagens da glicemia, lipídeos e outras dosagens sanguíneas, avaliação das funções hepática, cardíaca e pulmonar. A endoscopia digestiva e a ecografia abdominal são importantes procedimentos pré-operatórios. A avaliação psicológica também faz parte dos procedimentos pré-operatórios obrigatórios. Pacientes com doença psiquiátrica grave devem ser tratados antes da cirurgia.
5 - Na maioria dos pacientes, a cirurgia bariátrica - além de levar a uma perda de peso grande - traz benefícios no tratamento de todas as outras doenças relacionadas à obesidade. É possível uma melhora importante ou mesmo remissão do seu diabetes, do controle da pressão arterial, dos lipídeos sanguíneos, dos níveis de ácido úrico e alívio das dores articulares.
6 - Do ponto de vista nutricional, os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica deverão ser acompanhados pelo resto da vida, com o objetivo de receberem orientações específicas para elaboração de uma dieta qualitativamente adequada. Quanto mais disabsortiva for a cirurgia, maior a chance de complicações nutricionais, como anemias por deficiência de ferro, de vitamina B12 e/ou ácido fólico, deficiência de vitamina D e cálcio e até mesmo desnutrição, nas cirurgias mais radicais. Reposições vitamínicas são feitas após a cirurgia e mantidas por tempo indeterminado. A diarreia pode ser uma complicação nas cirurgias mistas, principalmente na derivação bileopancreática.
7 - A adesão ao tratamento deverá ser avaliada, pois alguns pacientes podem recorrer a preparações de alta densidade calórica e de baixa qualidade nutricional - que além de provocarem hipoglicemia e fenômenos vasomotores (sudorese, taquicardia, sensação de mal-estar) - colocam em risco o sucesso da intervenção em longo prazo, reduzindo a chance do indivíduo perder peso.
8 - A cirurgia antiobesidade é um procedimento complexo e apresenta risco de complicações. A intervenção impõe uma mudança fundamental nos hábitos alimentares dos indivíduos. Portanto, é primordial que o paciente conheça muito bem o procedimento cirúrgico e quais os riscos e benefícios da cirurgia. Desta forma, além das orientações técnicas, o acompanhamento médico, nutricional, psicológico e o apoio da família são aconselháveis em todas as fases do processo.
9 - Em pacientes que apresentaram uma perda de peso muito grande, uma cirurgia plástica para retirada do excesso de pele é necessária. A mesma poderá ser feita quando a perda de peso estiver totalmente estabilizada, ou seja, depois de aproximadamente dois anos.
10 - Mulheres que realizam cirurgia bariátrica devem aguardar pelo menos de 15 a 18 meses para engravidar. A grande perda de peso logo após a cirurgia pode prejudicar o crescimento do feto.
*Consultoria da Dra. Maria Edna de Melo (presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – ABESO – e do Departamento de Obesidade da SBEM gestão 2017-2018)
O que explica isso é a diminuição de um hormônio que fica no intestino e avisa ao cérebro que estamos saciados. Se esse aviso demora a chegar, a pessoa continua comendo.
Há quase 10 anos, Camila pesava 127kg. O excesso de peso, além de incomodar, provocava risco para a saúde. Ela fez a cirurgia para reduzir o estômago em junho de 2007. Em um ano e meio, já tinha perdido 59 kg.
“Quando eu fiz a redução do estomago, eu achei que eu jamais fosse voltar a engordar e que eu poderia comer de tudo. Não preciso fazer mais nada, porque vou ficar magra para o resto da vida”, afirmou a pedagoga Camila Tomaiolo.
Mas não foi bem assim. As roupas voltaram a ficar apertadas, o peso na balança subiu. Quando ela viu, estava com 100 kg novamente. “No início, você comia uma pequena porção de legumes, de arroz, a carne e estava ótimo, mas depois com o tempo foi aumentando essa vontade e a quantidade”, contou.
Rosemary engordou muito depois que teve o segundo filho. Ela chegou a pesar 135 kg. A obesidade trouxe problemas de pressão alta e apneia. A redução de estômago ajudou a mandar embora 60 kg, mas a comemoração não durou muito. Ganhou de novo, 30 kg. “Eu como. Daqui a meia hora, se você me oferecer alguma para eu comer, eu vou comer, porque parece que eu tenho fome”, afirmou a dona de casa.
O Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP acompanhou, por cinco anos, 24 pacientes que fizeram cirurgia para redução do estômago. Todos eles perderam peso nos primeiros dois anos, 14 mantiveram o peso depois disso, dez voltaram a ganhar peso. Os pesquisadores descobriram que uma das causas para esse aumento de peso foi a mudança na produção de um hormônio produzido pelo nosso intestino.
Funciona assim: a comida passa pelo nosso esôfago e cai no estômago. O alimento chega então no intestino fino, no delgado, e quando vai parar na região final dessa área, são enviados sinais para o cérebro. Quem manda esses sinais é um hormônio intestinal chamado GLP-1, que vai indicar que já estamos saciados. Na operação de redução, a comida chega mais rápido nessa parte final do intestino e a produção desse hormônio é estimulada.
Segundo o médico que coordenou a pesquisa, os pacientes que tiveram ganho de peso depois da perda inicial bem-sucedida, mostraram, depois de dois anos, uma queda na produção desse hormônio intestinal.
“Isso abre uma pequena perspectiva de entender um pouquinho melhor esse processo complexo onde vários fatores interferem no reganho de peso após a cirurgia. Na medida que a gente conhece um pouco melhor todo esse mecanismo, certamente se abrem novas perspectivas. Utilização de medicamentos que atuam nesse sentido, eventualmente, de resgatar essa capacidade de produção do organismo”, disse o diretor da Unidade de Cirurgia Bariatrica/HC, Marco Aurélio Santo.
O que já se sabe com certeza é que os bons hábitos alimentares contribuem muito para manter a paz com a balança. Elaine fez a cirurgia do estômago há cinco anos; não ganhou peso nem mesmo depois de ter filho. As fotos apresentadas na reportagem do antes e do depois impressionam: de 110 kg para 63 kg.
“É se alimentar com os alimentos corretos, tomar café, alimentação de três em três horas, frutas, verduras, legumes, pouco doce, pouca fritura, pouco carboidrato. Sempre com atividade física”, contou a assistente contábil Elaine Nascimento dos Santos.
A pesquisa brasileira foi publicada na revista internacional Obesity Surgery, uma das mais importantes sobre o tema. A cirurgia é só o primeiro passo, o acompanhamento depois também é muito importante.
10 Coisas que Você Precisa Saber sobre Cirurgia Bariátrica
O número de indivíduos com obesidade aumenta no mundo a cada dia e a cirurgia bariátrica vem se tornando um importante aliado no tratamento de pacientes com obesidade grau 3.Conheça as 10 coisas que você precisa saber sobre este procedimento.
1 - Gastroplastia, também chamada de cirurgia bariátrica, cirurgia da obesidade ou ainda de cirurgia de redução do estomago é - como o próprio nome diz - uma plástica no estômago (gastro = estômago e plastia = plástica). Ela tem como objetivo reduzir o peso de pessoas com o IMC muito elevado.
2 - Esse tipo de cirurgia está indicada, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para pacientes com IMC acima de 35 Kg/m² que tenham complicações como apneia do sono, hipertensão arterial, diabetes, aumento de gorduras no sangue e problemas articulares, ou para pacientes com IMC maior que 40 Kg/m² que não tenham obtido sucesso na perda de peso após dois anos de tratamento clínico (incluindo o uso de medicamentos).
3 - Existem três tipos básicos de cirurgias bariátricas: restritivas, mistas e disabsortivas. As cirurgias que apenas diminuem o tamanho do estômago são chamadas do tipo restritivo (Banda Gástrica Ajustável, Gastroplastia Vertical com Bandagem ou Cirurgia de Mason e a Gastroplastia Vertical em “Sleeve”). A perda de peso se faz pela redução da ingestão de alimentos. Existem também as cirurgias mistas, nas quais há a redução do tamanho do estomago e um desvio do trânsito intestinal. Há, além da redução da ingestão, a diminuição da absorção dos alimentos. As cirurgias mistas podem ser predominantemente restritivas (derivação Gástrica com e sem anel) e predominantemente disabsortivas (derivações bileopancreáticas).
4 - Antes da cirurgia todo paciente precisa ser avaliado individualmente, devendo ser submetido a uma avaliação clínico-laboratorial que inclui - além da aferição da pressão arterial - dosagens da glicemia, lipídeos e outras dosagens sanguíneas, avaliação das funções hepática, cardíaca e pulmonar. A endoscopia digestiva e a ecografia abdominal são importantes procedimentos pré-operatórios. A avaliação psicológica também faz parte dos procedimentos pré-operatórios obrigatórios. Pacientes com doença psiquiátrica grave devem ser tratados antes da cirurgia.
5 - Na maioria dos pacientes, a cirurgia bariátrica - além de levar a uma perda de peso grande - traz benefícios no tratamento de todas as outras doenças relacionadas à obesidade. É possível uma melhora importante ou mesmo remissão do seu diabetes, do controle da pressão arterial, dos lipídeos sanguíneos, dos níveis de ácido úrico e alívio das dores articulares.
6 - Do ponto de vista nutricional, os pacientes submetidos à cirurgia bariátrica deverão ser acompanhados pelo resto da vida, com o objetivo de receberem orientações específicas para elaboração de uma dieta qualitativamente adequada. Quanto mais disabsortiva for a cirurgia, maior a chance de complicações nutricionais, como anemias por deficiência de ferro, de vitamina B12 e/ou ácido fólico, deficiência de vitamina D e cálcio e até mesmo desnutrição, nas cirurgias mais radicais. Reposições vitamínicas são feitas após a cirurgia e mantidas por tempo indeterminado. A diarreia pode ser uma complicação nas cirurgias mistas, principalmente na derivação bileopancreática.
7 - A adesão ao tratamento deverá ser avaliada, pois alguns pacientes podem recorrer a preparações de alta densidade calórica e de baixa qualidade nutricional - que além de provocarem hipoglicemia e fenômenos vasomotores (sudorese, taquicardia, sensação de mal-estar) - colocam em risco o sucesso da intervenção em longo prazo, reduzindo a chance do indivíduo perder peso.
8 - A cirurgia antiobesidade é um procedimento complexo e apresenta risco de complicações. A intervenção impõe uma mudança fundamental nos hábitos alimentares dos indivíduos. Portanto, é primordial que o paciente conheça muito bem o procedimento cirúrgico e quais os riscos e benefícios da cirurgia. Desta forma, além das orientações técnicas, o acompanhamento médico, nutricional, psicológico e o apoio da família são aconselháveis em todas as fases do processo.
9 - Em pacientes que apresentaram uma perda de peso muito grande, uma cirurgia plástica para retirada do excesso de pele é necessária. A mesma poderá ser feita quando a perda de peso estiver totalmente estabilizada, ou seja, depois de aproximadamente dois anos.
10 - Mulheres que realizam cirurgia bariátrica devem aguardar pelo menos de 15 a 18 meses para engravidar. A grande perda de peso logo após a cirurgia pode prejudicar o crescimento do feto.
*Consultoria da Dra. Maria Edna de Melo (presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica – ABESO – e do Departamento de Obesidade da SBEM gestão 2017-2018)
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