Nova reprogramação produz ‘célula faz-tudo’ sem risco de causar câncer.
Brasileiros adicionam novo gene à lista dos promotores da conversão.
Stevens Rehen* Especial para o G1
Em época de Copa do Mundo é impossível não falar de futebol, Shinya Yamanaka que o diga. Na semana passada, o cientista iniciou sua palestra no Congresso da Sociedade Internacional para a Pesquisa sobre Células-Tronco em São Francisco (EUA)
Receita mais segura para gerar células-tronco de pluripotência induzida (iPS).
Em 2006, o cientista japonês Yamanaka surpreendeu o mundo ao anunciar a criação de células capazes de se transformar em qualquer tecido do corpo, utilizando para isso um punhado de pele, um vírus e 4 genes cujos produtos são encontrados exclusivamente em embriões.
Esse genes, quando introduzidos em fibroblastos oriundos de pequenas biópsias de indivíduos adultos, transformaram-nos em células-tronco tão versáteis quanto as cobiçadas células-tronco embrionárias.
Com o advento das iPS, uma verdadeira revolução foi iniciada e perspectivas até pouco tempo inimagináveis para as ciências biomédicas começaram a surgir. No futuro é provável que as células iPS facilitem a descoberta de novos medicamentos e sejam utilizadas para criar órgãos para transplante sob medida, sem o risco de rejeição.
O coquetel original de Yamanaka para a reprogramação celular incluía os genes oct-4, klf-4, sox-2 e C-myc. Este último é o calcanhar de Aquiles da técnica: é um importante facilitador do processo de reprogramação, mas leva à formação de tumores.
Desde a última Copa do Mundo Yamanaka tenta contornar esse problema, e pelo visto acaba de conseguir.
O novo coquetel de genes, apresentado pela primeira vez em sua conferência, inclui os mesmos oct4, sox2 e klf4, mas substitui o famigerado C-myc por um gene com função semelhante – porém não relacionado ao câncer –, o L-myc.
A equipe de Yamanaka fez essa substituição (C-myc pelo L-myc) e aproveitou para silenciar p53, um gene que interfere negativamente com o fenômeno de reprogramação. As células iPS geradas com a nova técnica são mais seguras do ponto de vista terapêutico do que a primeira versão de iPS, já que eliminam o problemático C-myc.
Além disso, passaram pelos testes de qualidade que indicam a capacidade de formar qualquer tecido do corpo, da mesma forma que células-tronco provenientes de embriões.
Deepak Srivastava, do Instituto Gladstone de São Francisco, também marcou um golaço ao anunciar a geração de cardiomiócitos a partir de fibroblastos de camundongos.
Ajudado por vírus com papel de cavalos de Tróia, levou para dentro das células da pele genes importantes para o desenvolvimento cardíaco. Em alguns dias apareceram as primeiras células pulsantes que lembraram um coração em plena atividade.
Em outras palavras, Srivastava converteu pele em coração sem um entreposto, sem precisar que os fibroblastos da pele retornassem ao estágio embrionário, como acontece no caso das iPS.
Imagine que, a longo prazo, o coquetel desenvolvido por Srivastava e equipe poderá ser injetado em pessoas com problemas cardíacos, favorecendo a regeneração de um coração combalido.
Em janeiro desse ano, Marius Wernig, da Universidade da Califórnia, havia anunciado façanha semelhante, transformando células da pele de camundongos em neurônios. Tanto Srivastava quanto Wernig ainda não conseguiram repetir o feito com células humanas, mas para muitos, entre os quais este que vos escreve, é questão de tempo.
Brasileiros identificam novo gene conversorQuem também fez bonito recentemente foi a equipe do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Terapia Celular de Ribeirão Preto.
O time de pesquisadores liderado por Dimas Covas descreveu um novo gene capaz de facilitar a reprogramação de células da pele. Tcl1a está presente em células-tronco embrionárias e foi associado à progressão de linfomas. Quando combinado a C-myc e sox-2, “forçou” a reprogramação parcial de fibroblastos humanos. O processo demora pouco mais de duas semanas. É metade do tempo necessário para uma reprogramação plena utilizando-se a receita original descrita por Shinya Yamanaka.
Apesar das células da equipe da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto não poderem ser consideradas iPS genuínas, o trabalho acrescenta um novo gene na lista daqueles que promovem a reprogramação celular.
Não menos importante, trata-se do primeiro artigo científico do país sobre o tema, dentre os 526 publicados em todo o mundo até hoje.
G1.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário