Estudo liga reprodução assistida a maior risco de malformação em bebês
Pesquisa francesa indica que 4,24% das crianças geradas com a ajuda de técnicas apresentam malformações.
BBC
Um estudo feito por cientistas franceses indica que o uso de técnicas de reprodução assistida pode aumentar a probabilidade de bebês nascidos com malformações.
A pesquisa, coordenada pela geneticista Géraldine Viot, da Maternité Port Royal, em Paris, França, aponta um índice de 4,24% de nascimentos com malformações graves entre bebês gerados com o uso de técnicas de reprodução assistida.
O índice de nascimentos com malformações na população em geral é estimado entre 2% e 3%.
Para Viot, os dados indicam que casais que pensam em usar técnicas de reprodução assistida para ter filhos deveriam ser informados sobre os riscos associados ao uso destes métodos.
A especialista acredita que a maioria dos médicos trabalhando em clínicas que oferecem os tratamentos costuma informar os pacientes sobre os riscos apenas quando perguntados especificamente.
Estudo
Segundo os cientistas, este é o maior estudo feito até hoje sobre o assunto.
Viot e seus colegas fizeram uma pesquisa em 33 clínicas francesas que oferecem tratamentos para reprodução assistida - isso equivale a cerca de um terço do número total de centros oferecendo este tipo de serviço na França.
Médicos e casais foram convidados a preencher questionários.
No total, 15.162 bebês nasceram nessas clínicas entre 2003 e 2007. O número de nascimentos com malformações foi comparado a dados de registros nacionais e de outros estudos publicados.
"Encontramos malformações sérias em 4,24% das crianças", disse Viot. Segundo a pesquisadora, a maioria dos estudos anteriores indicava um índice menor, entre 2% e 3%.
O estudo encontrou incidências altas de problemas cardíacos e malformações no sistema urinário e genital. Esse tipo de problema foi mais prevalente em meninos.
Entre as malformações menos sérias, foram encontrados angiomas e tumores benignos sob a pele. Essas anomalias foram duas vezes mais frequentes em meninas.
Fatores como a idade dos pais das crianças nascidas com malformações foram levados em consideração. O estudo verificou que não havia grande variação entre as idades dos pais dessas crianças e as dos pais dos bebês sem problemas.
Causas
As origens dos problemas são provavelmente múltiplas.
"Precisamos de mais pesquisas para entender o relacionamento entre esses problemas e o meio usado para a cultura do embrião, o momento da transferência do embrião, os efeitos da estimulação do ovário, o uso do ICSI - onde o esperma é injetado diretamente no óvulo - e o congelamento dos gametas e embriões", disse.
"Calculamos que, na França, cerca de 200 mil crianças tenham nascido com a ajuda de técnicas de reprodução assistida e, portanto, um índice de malformações dessa magnitude é uma questão de saúde pública", afirmou a pesquisadora.
Viot e sua equipe pretendem dar continuidade ao estudo com a análise de outros 4 mil questionários de crianças nascidas em 2008. Já crianças nascidas em 2003, hoje com 7 anos, terão seu desenvolvimento motor monitorado.
"Ao acompanhar todas essas crianças, esperamos entender mais sobre não apenas o que pode dar errado após os tratamentos com técnicas de reprodução assistida, como também por que elas dão errado", disse.
Os pesquisadores também estão tentando compreender as causas da infertilidade nos pais das crianças que apresentaram as malformações graves.
O objetivo é tentar estabelecer a causa da malformação e se ela estaria vinculada à infertilidade dos pais ou ao tratamento usado.
Saiba ainda que:
Cientistas japoneses descobrem como talidomida provoca malformação em fetos
Hoje, remédio é empregado em até 60 tipos de tratamento.
Droga voltou ao mercado nos anos 70 sob rigorosa legislação.
Cientistas japoneses desvendaram como a talidomida interfere no desenvolvimento de fetos e provoca malformação. A descoberta abre as portas para o desenvolvimento de alternativas seguras ao remédio que mantenham eficácia terapêutica, mas sem efeitos adversos.
A droga foi proibida na década de 60 depois de milhares de crianças nascerem com atrofia dos membros ou problemas cardíacos. Voltou ao mercado na década seguinte - sob rigorosa legislação -, pois constitui uma boa alternativa para tratamento de doenças como hanseníase, lúpus, câncer na medula óssea e artrite reumatoide.
Hoje, a talidomida chega a ser indicada para até 60 tipos de tratamentos, que incluem alívio dos sintomas de portadores do HIV e diminuição do risco de rejeição em transplantes de medula. Contudo, o acesso é restrito a pacientes cadastrados nos programas públicos de saúde.
O estudo mostrou como a talidomida liga-se a uma enzima chamada cereblon, muito importante nos dois primeiros meses do feto para o desenvolvimento dos membros. A ligação torna inativa a enzima, o que provoca a malformação.
"Agora queremos identificar os mecanismos químicos da talidomida responsáveis pelos efeitos anticâncer", afirma o coordenador da pesquisa, Hiroshi Handa, do Instituto de Tecnologia de Tóquio. Dessa forma, os cientistas esperam criar derivados da talidomida que não reajam com a enzima cereblon, mas sejam eficazes no tratamento das doenças.
Estado de São Paulo
G1.com
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