2.27.2011

Emagrecedores – Anvisa propõe banir certos medicamentos, mas médicos se opõem, saiba mais sobre o assunto

POR TRAS DA NÃO PROIBIÇÃO É CAPAZ DE TER ALGUM INTERESSE COMERCIAL TANTO DA  CLASSE MÉDICA, COMO DA INDUSTRIA FARMACÊUTICA..QUANTO A PREOCUPAÇÂO COM A SAÚDE PÚBLICA PARECE SER UM FATOR IRRELEVANTE.(boaspraticasfarmaceuticas)  

A batalha da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para banir do mercado brasileiro todos os remédios para emagrecer que atuam no sistema nervoso central (sibutramina e os derivados de anfetamina) teve mais um “round” nesta semana.
Em audiência pública – acompanhada por policiais federais fortemente armados em função de ameaças recebidas pelo presidente interino da agência, Dirceu Barbano – médicos e farmacêuticos apresentaram os seus argumentos contra a proibição. A Anvisa também teve o seu espaço para apresentar o relatório técnico que fundamenta a sua proposta de proibir a venda desses medicamentos.
A decisão deve sair no fim de março, ou “até que todos os argumentos tenham sido expostos e analisados”, de acordo com Barbano. Para entender melhor a polêmica, o R7 elaborou um guia com perguntas e as diferentes respostas a elas.
Porque tirar os medicamentos do mercado brasileiro?
Anvisa: É a favor da retirada porque relatório da Câmara Técnica de Medicamentos aponta que os riscos cardiovasculares e psiquiátricos que os medicamentos trazem são maiores do que os benefícios. De acordo com os estudos, a perda de peso é pequena e só acontece no início do tratamento. O uso prolongado desses medicamentos traz poucos benefícios e grandes riscos.
Médicos: São contra a retirada porque defendem que os médicos devem ter autonomia para indicar o tratamento certo para cada paciente. Todos os medicamentos têm contraindicações, mas o problema, nesse caso, é que não há alternativas de tratamento. O médico, portanto, administraria os riscos do tratamento. Além disso, de acordo com os médicos, em muitos casos, o risco de não tratar um paciente obeso é maior do que os riscos dos remédios (risco cardíaco, aterosclerose, evolução à diabetes).
Quais são as opções de tratamento caso os remédios sejam banidos?
Câmara Técnica de Medicamentos: Há alternativas. A obesidade tem vários fatores e o tratamento não pode ser baseado apenas no medicamento. Tirar o apetite do paciente (efeito do medicamento) não irá resolver o problema. Mas acrescentar mais um fator de risco (o do uso do medicamento) a essa pessoa que já está com maiores chances de problemas vasculares não é indicado. Há recomendação internacional de que os riscos são muito maiores do que os benefícios.
Médicos: Se os medicamentos forem banidos do mercado, 15 milhões de pacientes que têm IMC (índice de massa corporal) acima de 30 e não têm indicação de cirurgia ficarão sem opção de tratamento.
Quais são os riscos do tratamento com esses remédios?
Anvisa: Os principais são o aumento de riscos cardiológicos e de distúrbios psicóticos.
Médicos: Há riscos importantes, que podem ser administrados, com análise do histórico do paciente e com o uso de várias terapias associadas. Nenhuma doença crônica é tratada com apenas uma terapia (medicamentosa ou não). É possível reduzir a dose dos medicamentos, juntá-los e ter uma eficácia muito maior e efeitos colaterais menores. Além disso, para alguns pacientes, o risco de não tratar a obesidade é maior do que a dos medicamentos. Um exemplo dado pelos médicos é que pacientes com risco cardíaco jamais serão submetidos a tratamento com sibutramina.
É possível uma decisão que não seja a retirada dos produtos do mercado?
Anvisa: Não, pois o uso desses medicamentos já vem sendo restrito (hoje é preciso a receita B2, que tem dados do comprador, do prescritor e da farmácia e vale por 30 dias). Mas o aumento da restrição não foi suficiente para reduzir o uso abusivo desses medicamentos e os riscos que trazem.
Médicos: Sim. A Anvisa tem que se restringir ao controle indiscriminado da droga. E isso ela tem condições de fazer. Já foram detectados os maiores prescritores dessas drogas no país e os conselhos regionais de medicina tomaram providências. A Anvisa deve controlar o uso indiscriminado do produto, mas tirar a oportunidade de o paciente se tratar e tirar a autonomia do médico é uma violência.

Emagrecedores – Pressionada, Anvisa recua e adia decisão sobre veto a medicamentos

Fonte: Estadão
Em audiência pública, proposta da agência foi bombardeada por representantes de entidades da saúde; encerradas as discussões, o diretor da Anvisa, Dirceu Barbano, admitiu que assunto será debatido até que todas as dúvidas sejam esclarecidas
Pressionada por entidades médicas e farmacêuticas, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) adiou a decisão sobre a intenção de proibir a venda de medicamentos usados para emagrecimento no Brasil, conforme o Estado revelou na semana passada.
Sob forte esquema de segurança – policiais federais armados acompanhavam a audiência pública -, a proposta da agência de proibição foi bombardeada com críticas e contra-argumentos. Depois disso, a Anvisa já não fala mais em um prazo para bater o martelo. Antes da reunião, a informação era de que uma resolução seria publicada em março.
“Não há prazo para definição”, admitiu ontem o diretor da Anvisa, Dirceu Barbano. “Vamos discutir o assunto até que todas as dúvidas sejam esclarecidas.” Ontem, após mais de cinco horas de debate, a representante da Anvisa Maria Eugênia Cury sinalizou a possibilidade de novas rodadas de discussão. “Talvez essa não tenha sido a última.”
A proibição da venda dos remédios dietilpropiona (anfepramona), femproporex, mazindol e sibutramina foi recomendada à Anvisa pela Câmara Técnica de Medicamentos (Cateme), grupo de consultores da agência. Em um relatório de 90 páginas, técnicos listam vários riscos dos remédios e colocam em dúvida a eficácia dessas drogas. “Quem contesta essas informações precisa apresentar dados convincentes que demonstrem o contrário”, defendeu Barbano.
No entanto, além de endocrinologistas, várias vozes se posicionaram contra a proposta de veto às substâncias: um neurologista, um professor universitário, uma deputada, um promotor de Justiça, membros dos conselhos regionais e federal de farmácia e até mesmo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“Essa queda de braço entre o órgão regulador e as sociedades médicas tem de acabar. Entendemos que o grupo analisado no estudo Scout (feito pelo fabricante da sibutramina com pacientes cardíacos) nem deveria ter sido incluído, pois os riscos eram conhecidos. A SBC entende que o debate tem de continuar, mas com especialistas”, disse Lázaro Fernandes de Miranda, representante do órgão.
A presidente da Associação Brasileira para Estudo de Obesidade (Abeso), Rosana Radominski, acredita que a retirada dos medicamentos trará prejuízo aos pacientes. “As pesquisas analisadas pela Anvisa são as mesmas que nós avaliamos para fazer o consenso. Nós, porém, tiramos conclusões distintas. Remédios podem ser usados, desde que com indicação correta.”
O presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem), Ricardo Meirelles, reconheceu que os medicamentos apresentam efeitos colaterais. “Mas são em pequena quantidade, diante do tempo da droga no mercado e do grande número de pessoas que fizeram uso da medicação.”
Tendencioso. Para os defensores do uso dos remédios, o documento da Anvisa pinçou apenas as conclusões negativas. Integrante da Cateme (que produziu o relatório), o médico Anthony Wong, da USP, discorda.
“Os riscos são incontestáveis. Tanto é que esses medicamentos estão proibidos na Europa e na Ásia”, disse. Nos Estados Unidos, a anfepramona mantém registro. Há também a fentermina, droga que não é vendida aqui.
De acordo com Wong, os anorexígenos são a segunda causa de internação psiquiátrica no Brasil, perdendo apenas para o álcool. O médico também disse que as drogas são usadas de forma excessiva.
De fato, levantamento divulgado no ano passado pela Anvisa apontou a prescrição exagerada desses medicamentos. Entre os maiores prescritores estavam médicos do trabalho e de segurança do trânsito.
Entre as alternativas apresentadas estava o aumento do controle na prescrição – incluindo a restrição das especialidades médicas com direito a fazer esse tipo de recomendação. Desiré Callegari, do Conselho Federal de Medicina, afirmou que a proposta é inviável, pois seria preciso alterar a lei. Para o endocrinologista Márcio Mancini, do HC, o debate foi satisfatório e a Anvisa não deve tomar uma decisão antes de ouvir a classe médica novamente. “Entramos no debate pessimistas e saímos aliviados.”
Sobre as Drogas
Anfetamínicos
São inibidores de apetite vendidos como dietilpropiona, femproporex e manzidol. Atuam no sistema nervoso, bloqueando a captação de dopamina e noradrenalina. Quanto maior a quantidade dessas substâncias circulando entre os neurônios, menor a sensação de fome.
Sibutramina
Atua em duas regiões do sistema nervoso: no centro do apetite e no da saciedade. Diminui a captação de noradrenalina e de serotonina, diminuindo a fome e proporcionando a sensação de saciedade.
Efeitos colaterais
Irritação, insônia, aumento da frequência cardíaca, boca seca e crise de pânico.

Presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, é ameaçado de morte, agência pediu reforço da PF para audiência pública sobre emagrecedores

O presidente interino da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Dirceu Barbano, foi ameaçado de morte por duas vezes nesta semana. As ameaças ocorreram poucos dias antes da audiência pública que discute, nesta quarta-feira (23) em Brasília, a proposta da agência de proibir a venda dos remédios para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, dietilpropiona e mazindol).
De acordo com uma fonte ouvida pelo R7, as ameaças tinham relação direta com a intenção da agência de proibir a venda dos medicamentos no Brasil. Foram descartadas, portanto, motivações pessoais para as ameaças.
Após os delitos, a agência pediu proteção da Polícia Federal para a audiência público de hoje. Com isso, todos os convidados tiveram de passar por um detector de metais antes de entrar no auditório onde ocorre a discussão.
Debate
A audiência promovida pela Anvisa discute com entidades médicas e profissionais de saúde a proposta da agência de proibir a venda no mercado brasileiro dos emagrecedores sibutramina e os derivados de anfetamina.
Se a proposta for aprovada, o único medicamento que continuaria liberado para o tratamento da obesidade no Brasil será o orlistate (Xenical), que atua diretamente no intestino, reduzindo em cerca de 30% a absorção de gordura.
O objetivo da audiência é reunir novos estudos e argumentos sobre os riscos e benefícios do uso dos medicamentos. Após receber os argumentos das entidades que são contra a proibição, como a Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e a Anfarmag (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais), os técnicos da Anvisa farão nova análise do tema.
O parecer final será dado pela diretoria colegiada da Anvisa (atualmente com três representantes). A previsão da agência é que a decisão seja tomada até o fim de março, mas não há data marcada.
De acordo com a Anvisa, estudos analisados pela agência apontam que o consumo de sibutramina aumenta o risco de problemas cardíacos. Em função disso, desde o ano passado a Anvisa impôs novas regras e endureceu seus critérios de venda: a sibutramina deixou de ser vendida como medicamento comum e passou a integrar a categoria dos anorexígenos, que exigem receita especial.
O principal argumento da agência para defender a proibição é que os benefícios do uso da sibutramina e os chamados anfetamínicos não superam os riscos. Segundo as revisões científicas feitas pela agência, não há estudos suficientes sobre a eficácia dos medicamentos: os realizados até agora apontam que a perda de peso ocorre apenas no curto prazo. Os maiores riscos dos medicamentos são cardiovasculares, de dependência e problemas psiquiátricos.
Anunciada há duas semanas, a proposta de proibir os emagrecedores causou reação imediata de médicos endocrinologistas que atuam no combate à obesidade. Entidades médicas defendem que a medida vai deixar cerca de 15 milhões de pacientes sem opção de tratamento.
De acordo com os médicos, para alguns pacientes é preciso indicar medicamentos que atuam no sistema nervoso central, uma vez que o controle da fome e da saciedade ocorre no cérebro. Esses pacientes, portanto, não conseguem perder peso com tratamento clínico convencional, que inclui reeducação alimentar e exercícios físicos.
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Com proibição a emagrecedores, médicos descartam tratar obesidade com remédios naturais


Ainda que alguns remédios emagrecedores venham a ser proibidos no Brasil, como quer a Anvisa (Agência Nacional Vigilância Sanitária), os chamados remédios naturais, como fitoterápicos e fórmulas manipuladas, não deverão se tornar uma alternativa no tratamento da obesidade.
A agência de vigilância realiza nesta quarta-feira (23) uma audiência pública para discutir se proíbe ou não os remédios usados para emagrecer que atuam no sistema nervoso central: a sibutramina e os derivados de anfetamina (femproporex, anfepranoma e mazindol).
Para algumas entidades, como a Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), a SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e a Anfarmag (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais), que devem comparecer à audiência de hoje, a medida vai dificultar o acesso ao tratamento da obesidade no Brasil.
O único remédio para o tratamento da obesidade que continuará liberado será o orlistate (Xenical e Lipiblock), que atua diretamente no intestino e reduz a absorção de gordura. Apesar dessa limitação, os médicos descartam usar os fitoterápicos no tratamento e preferem usar remédios não específicos contra a obesidade, mas que podem ajudar no tratamento.
De acordo com o médico Ricardo Meirelles, presidente da SBEM, os remédios naturais não têm efeito para ajudar a controlar o apetite.
- Os fitoterápicos não têm comprovação científica para ajudar a emagrecer.
Essa é a mesma opinião do endocrinologista Mário Kehdi Carra, membro da Abeso.
- Com relação aos fitoterápicos e suplementos alimentares, não tem trabalho nenhum no mundo de longa duração que comprove a eficácia.
Carra afirma que uma possível proibição da Anvisa vai levar os médicos a buscar medicamentos que não são testados especificamente para tratar a obesidade, mas que causam emagrecimento, como alguns antidepressivos.
- Se proíbe, você vai começar a procurar medicamentos de indicação de fora de bula.
De acordo com o endocrinologista Pedro Saddi, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), não se pode ter preconceito somente porque o remédio é fitoterápico, mas esses medicamentos “têm que ser submetidos ao rigor da ciência”.
- Nenhum deles foi ainda aprovado, tanto do ponto de vista de segurança quanto da eficácia.
É consenso entre os especialistas ouvidos pelo R7 que a medida da Anvisa vai prejudicar o tratamento da obesidade no Brasil. Para eles, uma mlehor fiscalização sobre o consumo dos medicamentos traria mais benefícios do que a proibição.
Saddi espera, no entanto, que a agência possa postergar a decisão e discutir melhor o tema.
Alternativas
O médico Fábio César dos Santos, especialista em clinica médica e cardiologia e presidente da Associação Médica Brasileira de Ortomolecular, também é contra a medida da Anvisa de proibir os emagrecedores no país.
A medicina ortomolecular, diz Santos, é uma prática integrativa que agrega a medicina convencional a métodos de medicina complementar.
Apesar do veto, Santos afirma que existem opções para o tratamento da obesidade, como o extrato de chá verde associado com rhodiola rosea (conhecida como raiz-dourada.).
- O chá verde atua como antioxidante e aumenta o metabolismo. A rhodiola também e antioxidante e inibe a proliferação de células gordurosas.
Ele cita também a faseolamina, um fitoterápico que inibe a absorção de carboidratos. Além deles, Santos indica dois aminoácidos: a fenialanina, que pode levar à sensação de saciedade, e o 5-HTP (5-hidroxitriptofano), que dá sensação de bem-estar.
Para Santos, a possível proibição dos emagrecedores pode abrir espaço para esses outros medicamentos.
- O que não pode ocorrer são associações malucas. Eles podem ser usados desde que estejam regulamentados pela Anvisa.

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