Quando foi lançado nos Estados Unidos, em 1987, o mais famoso medicamento antidepressivo do mundo chegou a ser apontado, pela revista Scientific American, como um “anjo que ilumina as trevas da alma”. O Prozac foi o primeiro de uma série de remédios que visam alterar o nível de serotonina, uma substância química do cérebro relacionada à sensação de prazer. Com as mudanças das últimas duas décadas no modo como a ciência médica encara a depressão, esses medicamentos se tornaram campeões de venda.
O número de pílulas consumidas no mundo inteiro pulou de 4 bilhões, em 1995, para 10 bilhões, em 2004, um aumento de 150%. No Brasil, também se registrou um salto. Há três anos, 20,6 milhões de comprimidos foram vendidos no país. No ano passado, foram 24,4 milhões (um aumento de 18,5%).
Por isso, um estudo lançado na semana passada na Public Library of Science Medicine (Biblioteca Pública da Ciência Médica) causou grande impacto. O pesquisador Irving Kirsch, da Universidade de Hull, no Reino Unido, e seus colegas revisaram os estudos clínicos de vários antidepressivos e concluíram que, nos casos de depressão leve, seus efeitos não são melhores que os de placebos. (Os placebos, pílulas sem substância ativa, são usados em um grupo separado de pacientes para avaliar quanto da melhora se deve ao remédio e quanto apenas ao efeito psicológico de ser atendido e medicado.)
Kirsch utilizou estudos que a indústria não havia divulgado. Os laboratórios foram obrigados a liberá-los pela Food And Drug Administration, o órgão regulador de medicamentos dos Estados Unidos. A indústria rebateu a conclusão, dizendo que Kirsch analisou poucos estudos. Além disso, outro estudo, lançado também na semana passada pelo Escritório Nacional de Pesquisas Econômicas dos Estados Unidos, afirma que o uso de antidepressivos ajuda a diminuir a taxa de suicídios.
Essa discussão provavelmente terá vida longa. E dá força a uma questão de fundo: s por que buscamos com tamanha avidez a felicidade? Boa parte do sucesso dos remédios está não numa epidemia de depressão, como apontou o psiquiatra Derek Summerfield em um recente artigo no Journal of the Royal Society of Medicine, mas numa “epidemia de receitas de antidepressivos”.
Os antidepressivos são um avanço extraordinário, diz o psiquiatra paulista Renato Del Sant, diretor do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas. “Mas, para receitá-los, é preciso uma avaliação longa e precisa. Hoje, os psiquiatras estão mais preocupados em acompanhar os avanços da neurociência do que em se debruçar no histórico do paciente, muitas vezes até por falta de tempo. Por isso, o diagnóstico está cada vez mais superficial.”
Nessas horas, confunde-se tristeza com depressão. E dá-lhe remédio. É como se quiséssemos abolir de nossa vida toda e qualquer contrariedade. “Eu não tenho problemas de depressão, apenas de mau humor e timidez”, diz um internauta da comunidade Confissões de um Prozaquiano, que tem 160 membros no site de relacionamento Orkut. “Uso pelo estresse do dia-a-dia mesmo. É um santo remédio.” O próprio Del Sant é um exemplo contra o abuso. No ano passado, uma de suas filhas, Carlota, sofreu um acidente de trânsito e está em coma até agora. Já passou por 16 cirurgias. “Eu, minha mulher, Solange, e minha outra filha, Lorena, estamos profundamente tristes. Muitas vezes, choramos. Sentimos falta da nossa Carlota. Mas não estamos depressivos.”
Assustado com a enorme indústria que se formou em torno de nossa necessidade de ser felizes acima de tudo, um dos pioneiros do estudo da felicidade, o psicólogo americano Edward Diener – por muito tempo alcunhado de Doutor Felicidade – voltou atrás. Não à toa, seu próximo livro, em parceria com o filho, Robert Biswas-Diener, terá o título de Rethinking Happiness (Repensando a Felicidade). Diener não renega sua tese central, de que as pessoas felizes vivem mais (por ter sistemas imunes mais fortes) e são mais bem-sucedidas. Mas ele aprofundou suas pesquisas. Em geral, os estudos sobre o tema comparam pessoas felizes com pessoas infelizes. Desta vez, Diener comparou pessoas felizes e pessoas extremamente felizes. Aí, o resultado é outro. Os extremamente felizes vivem menos que os moderadamente felizes, e são menos bem-sucedidos.
Sua conclusão: há um nível de felicidade ótimo, além do qual ela se torna mais prejudicial que benéfica. Segundo ele, numa escala de 0 a 10, sendo 0 o sujeito miserável e 10 a pessoa inabalavelmente contente, o melhor é uma nota 8, nível médio de felicidade. Ele garante uma existência aprazível e traz uma margem de insatisfação que evita a letargia.
Como diz Diener, há uma lista enorme de pessoas que querem que você seja mais feliz – não importa quanto você já seja. Essa lista inclui os ativistas da psicologia positiva, uma corrente que se tornou preponderante nos Estados Unidos no fim da década de 90 e afirma que, em vez de apenas curar doenças, a medicina da mente deve tratar de elevar nosso bem-estar. Também inclui os autores de livros com receitas para sermos mais contentes, os políticos em quem você votou (porque a probabilidade é que os reeleja), os profissionais de auto-ajuda, os técnicos de laboratórios que buscam drogas cada vez mais eficazes para combater a tristeza. Até sua mãe, “porque ela o ama e provavelmente se sentirá um fracasso se você for uma pessoa infeliz”. Há, no entanto, uma corrente cada vez mais vigorosa contra essa indústria da felicidade. Ela inclui quatro vertentes de combate:
1. Felicidade tem limite
Nesse campo estão os argumentos apresentados por Diener: ser feliz demais não é bom. O contentamento em excesso torna as pessoas menos capazes, menos saudáveis, menos atentas a riscos. Além do pragmatismo de Diener, há uma questão de essência. “Cedo ou tarde na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável”, escreveu o escritor italiano Primo Levi, um sobrevivente de um campo de extermínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial. “Poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza, eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer ‘infinito’.”
Há ainda uma terceira forma de entender os limites da felicidade. Só conseguimos ter a percepção de um sentimento em comparação com outros estados de ânimo. Como demonstram vários estudos, é a variação do humor que nos causa espasmos de alegria ou de tristeza. “Felicidade em excesso é indesejável, porque leva a uma capacidade menor de apreciá-la”, diz o historiador inglês Stuart Walton, autor de Uma História das Emoções, publicado no ano passado no Brasil. No livro, Walton examina as emoções que considera primordiais (como medo, raiva, tristeza e felicidade) e as relaciona à vida moderna. “Se você tem algo o tempo todo, não pode dizer se aquilo é bom ou ruim”, diz. “É preciso descartá-lo para saber se a tal coisa lhe oferece ganhos ou perdas.” Portanto, quem diz que é 100% feliz pode não estar falando a verdade. Felicidade, por definição, não é um estado de espírito permanente. Fosse assim, as pessoas seriam mais fortes na vida.
“A felicidade pode chegar com um amor, com uma conquista, com um fato que transformou de maneira positiva o indivíduo”, diz Walton. “Mas ela não fica para sempre. De uma hora para outra, pode e provavelmente vai partir.” Assim como a infelicidade.
2. Sem obstáculos, não há vitória
Uma segunda defesa da tristeza pode ser resumida pelo famoso ditado do filósofo alemão Friedrich Nietzsche: “O que não me mata me torna mais forte”. Ele aponta para o valor da adversidade. Como disse Paulo, em sua Carta aos Romanos: “O sofrimento produz resistência, a resistência produz caráter e o caráter produz a fé”.
Algumas pessoas que passam por grandes traumas, como a perda de um ente querido, relatam que se tornaram mais completas depois de passar pela experiência, afirma o psicólogo Jonathan Haidt, da Universidade de Virgínia, nos EUA, em seu livro The Happiness Hypothesis (A Hipótese da Felicidade). “Quem passa por episódios traumáticos aprende a se conhecer melhor e passa a valorizar as coisas que realmente têm importância”, escreveu Haidt. Elas dão mais valor à amizade, à família, ao tempo livre, apreciam o que têm e entendem melhor seus limites.
“Só quem vive emoções profundas e passa pela dor e pelo sofrimento é capaz de se realizar na plenitude. O homem é um ser ambíguo”, diz o filósofo brasileiro Franklin Leopoldo e Silva, que no ano passado publicou um livro chamado Felicidade – Dos Filósofos Pré-Socráticos aos Contemporâneos.
Não é por algum ingrediente precioso que o sofrimento molda o caráter. Para Haidt, isso acontece porque nós somos seres viciados em contar histórias. O que sabemos sobre nós mesmos é um relato que continuamente reescrevemos, escolhendo o que lembrar do passado e o que projetar para o futuro. As adversidades nos ajudam a criar histórias melhores. (Ou você acha que a Branca de Neve seria um bom conto se a bruxa nunca a tivesse envenenado? Hamlet teria feito sucesso se não vivesse atormentado pelo drama do assassinato de seu pai?)
É claro que os traumas, assim como podem “purificar”, podem matar. Ou estragar uma vida inteira. Crianças são especialmente suscetíveis. Algumas pesquisas mostram que a melhor época para enfrentar um grande desafio na vida é a que vai do início da adolescência até os 20 e poucos anos – quando é assim, a probabilidade de o episódio servir de estímulo, em vez de fator de paralisia, é maior.
Os estudos modernos estão de acordo com as teses levantadas há meio século por um dos maiores estudiosos de mitologia do mundo, o americano Joseph Campbell. No livro O Herói das Mil Faces, ele descreve um esquema comum a quase todos os grandes mitos da humanidade, incluindo as grandes religiões. Para se tornar um herói, a personagem recebe um “chamado”, tenta rejeitá-lo, é obrigada finalmente a aceitar a missão, viaja, passa por alguma provação, encontra alguém ou algum objeto mágico que lhe forneça uma revelação, volta mais forte, vence o obstáculo inicial e, com isso, liberta os demais, ou lidera-os no caminho da redenção. Pense em seu herói favorito, ou na história de Moisés, Jesus, Maomé, Buda, e compare com o roteiro de Campbell.
Por que é sempre assim? Para Campbell, essa trajetória faz parte de nossa psique. Em nossa formação individual, passamos também por um enredo parecido. Somos os heróis de nossa história. Quando o obstáculo é feroz demais, ou quando nos perdemos no deserto, estabelece-se o quadro neurótico. Nesses casos, o remédio é indicado. Mas tomá-lo antes de ter a oportunidade de confrontar nossos demônios é desperdiçar a oportunidade de crescer.
Marvin Minsky, um dos pais da inteligência artificial e pesquisador do MIT, nos EUA, uma das universidades mais renomadas do mundo, resumiu a questão de forma precisa. “Se pudéssemos deliberadamente controlar nossos sistemas de prazer, seríamos capazes de reproduzir o prazer do sucesso sem a necessidade de realizar coisa alguma – e isso seria o fim de tudo.”
3. A alegria ou a vida
Um terceiro ponto de defesa da tristeza vem da teoria evolucionista. Os sentimentos negativos, como angústia, tristeza e pessimismo, fazem parte de nossa natureza. A seleção natural os favoreceu porque, se não os tivéssemos, seríamos presas fáceis de adversidades. Imagine um homem pré-histórico extremamente feliz e despreocupado, saindo desarmado no meio da selva. Se esse ancestral existiu algum dia, ele morreu, provavelmente comido por um grande felino. O que sobreviveu, e deu origem à espécie humana, foi seu primo preocupado, atento – por vezes angustiado e rabugento. É assim com todos os animais. O estado de tensão é uma condição necessária à vida.
No livro Felicidade, o economista Eduardo Giannetti aponta outros riscos que o contentamento exagerado traria para a sobrevivência da civilização. Segundo Giannetti, a invenção de uma pílula que provesse todos os cidadãos de felicidade provocaria danos irreparáveis ao mundo. Na ausência de sentimentos negativos como culpa, vergonha, remorso e arrependimento, todos eles neutralizados pelo tal remédio, haveria um enfraquecimento do respeito às normas morais de convivência. As pessoas não se sentiriam psicologicamente inibidas para praticar atos terríveis porque, ao tomar a pílula, deixariam de sentir culpa ao prejudicar alguém. O resultado seria o caos completo, que muito provavelmente resultaria no aniquilamento do mundo tal qual o conhecemos.
4. A angústia dos gênios
O ponto mais polêmico dos novos defensores da tristeza é o vínculo entre realização criativa e a angústia. Não se trata, aqui, de defender um pouco menos de felicidade. É o próprio poder de um estado melancólico que está sendo reavaliado. Não faltam exemplos de pensadores, artistas e realizadores estimulados por estados de depressão, angústia ou tristeza – constante ou, ao menos, temporária. Do presidente americano Abraham Lincoln, que aboliu a escravidão e venceu a Guerra de Secessão, autor de alguns dos melhores discursos políticos da História, a Woody Allen, que diz ter dirigido dezenas de filmes sob o signo da melancolia, de John Lennon a Elis Regina, de Fernando Pessoa a Salvador Dalí, os casos se multiplicam.
Teriam eles produzido o que produziram se não fossem atormentados? Ludwig van Beethoven teria composto a Nona Sinfonia se, em vez de usar a música para aquietar o espírito, tomasse antidepressivos? Beethoven era uma espécie de infeliz crônico, mal que foi agravado por seu problema de surdez. O brasileiro Alberto Santos Dumont desenhava projetos de aeronaves quando estava triste. Segundo seus biógrafos, é provável que ele sofresse de depressão profunda.
“Há estudos que comprovam a relação entre as oscilações de humor e a criatividade”, afirma Luiz Alberto Hatem, vice-presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. “Van Gogh e Wagner, quando deprimidos, produziam menos obras artísticas, mas de maior qualidade. É durante as fases de dor e depressão que surgem as produções mentais, os questionamentos que não povoam a vida mental habitual.”
Uma das idéias que Giannetti discute em seu livro é que a felicidade completa pode trazer paz e alívio, mas ao custo de aniquilar o que a humanidade tem de melhor – a capacidade de criar, ousar e experimentar. É uma reflexão derivada de um famoso dito do filósofo inglês John Stuart Mill: “É melhor ser um Sócrates insatisfeito que um porco satisfeito”.
A reflexão pode ser estendida até para países. Em seu ensaio A Democracia na América, publicado em 1835 e 1840, o pensador francês Aléxis de Tocqueville escreveu, numa comparação entre a agitação dos Estados Unidos e a letargia européia: “Chega-se a pensar que a sociedade (européia), tendo consolidado todas as benesses, não anseia por mais nada, exceto descansar e usufruir o que conquistou”. O direito à busca da felicidade está inscrito na Declaração da Independência dos Estados Unidos. É uma formulação sábia. Essa busca parece tornar as pessoas mais ativas. É um estado diferente do de quem já está contente.
Esta é, aliás, uma filosofia que impregna o mundo do trabalho. A frase mais célebre do fundador da empresa de chips Intel, Andrew Grove, é: “Só os paranóicos sobrevivem”. Refere-se a um mundo de tanta concorrência que, se você não está atento o tempo todo, é ultrapassado.
Desde os anos 90, isso se traduziu no mundo do trabalho em dois conceitos onipresentes. O primeiro é o combate à “zona de conforto”. Esta seria aquela situação em que o profissional está tão bem que não se sente desafiado a progredir. Daí, também, outro célebre jargão do mundo do trabalho: o de que as pessoas devem ser motivadas por desafios. O segundo é a idéia do “estresse positivo”. É um conceito que veio da medicina. Assim como descobriram que existe um colesterol bom e um colesterol ruim, os pesquisadores também identificam um estresse positivo – que leva à ação –, oposto do estresse negativo, que traz a apatia. Entre um e outro, em geral, a diferença é o tamanho do desafio, diante das condições para realizá-lo.
Na vida prática, portanto, já se sabe que um porcentual de tristeza, estresse, angústia é necessário para realizar um bom trabalho. E por que um bom trabalho é preferível a um trabalho medíocre, sem sofrimento? Para muita gente, não é. Mas é importante lembrar que felicidade não é nosso único ideal. Queremos todos ser felizes, claro, mas também queremos deixar um legado, educar bem os filhos, vencer uma competição ou outra. Cabe a cada um traçar seus objetivos, e entender quanto de sacrifício eles podem demandar.
Nessa equação, tornar-se refém da felicidade é um erro. Vivemos numa sociedade imediatista, que nos impõe uma urgência em resolver os problemas de forma rápida e prática, sem ter de suportar a dor e a tristeza. “As pessoas não têm paciência para a infelicidade”, diz o filósofo Renato Janine Ribeiro. “Num mundo altamente competitivo, estar triste pode ser interpretado como sinal de fraqueza, e isso ninguém quer.” A busca da felicidade tem o potencial de nos tornar infelizes.
O conselho de Diener para nos orientar é: “Seja um pouco como a Mona Lisa”. Ele diz que uma recente análise das expressões da mais famosa pintura de Leonardo da Vinci estabeleceu que seu sorriso enigmático revela 83% de felicidade e 17% de infelicidade. É justamente nesse espaço de tristeza, diz Diener, que reside seu poderoso encantamento.
A depressão impulsiona a criatividade
Ao longo da História, gênios realizaram suas grandes obras em estado extremo tormento. Descobriu-se recentemente a ligação entre a depressão e a criação. Os criadores, quando estão deprimidos, são capazes de grandes feitos. É nessa hora que eles produzem menos e com maior qualidade - e alcançam a maestria.
Ludwig Van Beethoven (1770-1827)
Um dos maiores gênios musicais da História, o compositor erudito alemão era atormentado pela depressão, agravada por seu problema de surdez e por amores impossíveis que colecionava.
Friedrich Nietzsche (1844-1900)
O filósofo alemão era depressivo e suicida. Aos 40 anos, teve crises de loucura, sendo internado em um sanatório. A doença não o abandonou até a morte.
Vincent Van Gogh (1853-1890)
O pintor holandês sofreu de depressão durante toda a vida. Expressava seu desequilíbrio nas pinceladas irregulares e cores sombrias que marcaram algumas de suas fases. Matou-se com um tiro no peito.
Edvard Munch (1863-1944)
Sofreu de depressão e foi internado em um sanatório. Chegou a dizer que sua saúde mental era a catalisadora de sua pintura. O quadro O Grito é um ícone do expressionismo.
Alberto Santos Dumont (1873-1932)
Suspeitou-se que o aviador tivesse esclerose múltipla ou depressão profunda. Mas ele sofria de bipolaridade. Os transtornos constantes o levaram a cometer suicídio.
Fernando Pessoa (1888-1935)
Triste e melancólico na vida e na obra, o escritor português multiplicou seu “eu” em diversas personalidades literárias. O Livro do Desassossego é o retrato dessa depressão. Entregou-se à bebida e morreu de complicações hepáticas.
Clarice Lispector (1920-1977)
No fim da década de 60, com o filho doente de esquizofrenia e em dificuldades financeiras, a escritora caiu em depressão. A melancolia se reflete em seus escritos.
João Cabral de Melo Neto (1920-1999)
O escritor pernambucano, autor de Morte e Vida Severina, sofria de uma doença degenerativa que lhe causava depressão. Era atormentado por uma constante dor de cabeça e sua segunda mulher, Marly, o ajudava a escrever.
Woody Allen (1935-)
Em 2005, o diretor americano deu entrevistas dizendo que fez mais de 30 filmes como uma forma de “distração” contra uma forte depressão que tem desde muito jovem.
Janis Joplin (1943-1970)
A cantora americana de blues sofria de depressão desde a adolescência, quando foi alvo de piadas dos colegas. Dizia que cantar era sua salvação. Bebia muito. Morreu por overdose de heroína.
Jim Morrison (1943-1971)
O vocalista do grupo The Doors vivia em depressão, o que se refletia em suas letras. Era fã de Nietzsche. Nos shows, bebia e xingava a platéia. Quando soube da morte de Janis Joplin, disse que seria o próximo. Foi encontrado morto numa banheira, em Paris.
Elis Regina (1945-1982)
Sofria de bipolaridade, alternando depressão e euforia. A maior intérprete da música brasileira morreu de overdose de cocaína com álcool.
Fonte: Época
A tristeza é um sentimento intrínseco ao ser humano. Todas as pessoas estão sujeitas a tristeza. É a ausência de satisfação pessoal quando o indivíduo se depara com sua fragilidade. Enquanto a depressão é a raiva e a vingança digerida na pessoa. Na prática, é uma tentativa de devolver para os outros o que existe de pior em si.
A raiva existente na depressão é resultado da total falta de vitalidade e motivação. Existe também uma infantilização, onde o indivíduo induz o ambiente a ampará-lo e dedicar atenção exclusiva a ele. A depressão inibe a coragem de enfrentar os desafios; regride a busca do prazer e contamina o ambiente a sua volta.
A tristeza não chega aos limites citados na situação depressiva. Pelo contrário, é uma ferramenta valiosa para avaliação das metas de vida. Na infância, o modo de encarar a tristeza será definitivo para estabelecer a personalidade adulta.
Infelizmente, na cultura ocidental não valoriza-se os aspectos emotivos. Assim, um indivíduo se desenvolve crendo que a tristeza é um sentimento negativo, que fragiliza e expõe a personalidade. Por exemplo, uma pessoa insatisfeita num âmbito social sente-se triste, mesmo não tendo uma concepção nítida do que é a tristeza. Neste momento cria-se uma dívida com o próprio passado; o elemento sente que poderia ter aproveitado melhor as outras oportunidades que teve, e que agora o fazem um homem fracassado.
O descaso com os valores humanos acabam por expor o homem contemporâneo ao negativismo, e a busca excessiva pelos bens materiais e status social, compensa a carência sentimental, mas por outro lado, contamina e deturpa a noção de humanismo. Neste caso, a tristeza é apenas uma bússola que aponta a área emotiva mais afetada. Porém, outros sentimentos como o medo e a inveja funcionam como um alerta ao modo de vida desumano. A aceitação do fracasso e da fragilidade fica comprometida, já que o indivíduo direciona o motivo dos seus insucessos a outras causas, quando na verdade seriam apenas conseqüências. Portanto, fica claro que existe uma "auto-sabotagem".
O egoísmo exacerbado, no qual o homem é induzido desde a infância, produz um vazio pessoal. Porém, o bem-estar esta diretamente ligado a satisfação alheia. Se não houver a solidariedade, ou seja, a profunda preocupação com o próximo, o citado "vazio da personalidade" irá expandir-se. A tristeza ocupa este espaço e desmotiva o indivíduo a dar continuidade na busca de qualquer outro valor.
Outro fator que fortemente desencadeia a tristeza é a recusa. A dificuldade em aceitar o "não" torna-se desmotivante e abala a auto-estima. Por outro lado, a rejeição e a incapacidade frente a alguns obstáculos leva a quadros mais sérios e profundos da tristeza.
Várias correntes de discussão psicológica determinam os ganhos secundários do estado de sofrimento. É notório que o indivíduo que sofre, desperta comoção no ambiente, neste caso a atenção dispensada por outros faz com que o indivíduo sinta-se acolhido. Cultivar a tristeza é apenas fazer a manutenção desse estado de atenção e acolhimento despertada, é manter-se afastado e protegido da competitividade e ambição que norteiam a sociedade contemporânea. Mas na maioria das vezes, a solidariedade e o altruísmo são hipócritas, porque a necessidade da auto-superação e status social faz com que o sentimento de comoção seja verdadeiro, mas o apoio sincero é substituído pelo prazer na derrota alheia. Assim, esta afirmação é concretizada pelo fato de que o assistencialismo não supre as carências afetivas; é apenas um retórico inconsciente que absolve a obrigação da solidariedade.
Geralmente os indivíduos que sofrem de tristeza tem como característica básica de personalidade, impor a sua solidão pessoal para todas as pessoas que encontrarem no decorrer de suas vidas; como uma vingança contra seu sentimento que o martiriza. Assim, tornam-se retraídas, ciumentas e possessivas. Na questão sentimental, impõem ao parceiro uma eterna espera pela doação de seu lado afetivo.
Embora muitas vezes sofremos com determinados relacionamentos, sabemos que a perda pode nos custar ainda mais caro. O maior obstáculo para qualquer tipo de mudança é a desconfiança quase que absoluta em nosso potencial, gerando um receio imenso sobre se conseguiremos construir algo; se os ventos estarão ou não a nosso favor; se o destino ainda poderá nos reservar um mínimo de satisfação perante todo o pesadelo diário em que muitas pessoas vivem.
A face da tristeza
Quando uma pessoa está triste, percebe-se um certo alongamento na face como se estivesse sendo puxada para baixo. A cabeça pode inclinar-se um pouco em um dos ombros. Além disso, geralmente a pessoa tem o rosto pálido e sem cor. Surgem também rugas horizontais na testa. Os cantos interiores das sobrancelhas se erguem, e as pálpebras superiores podem se abaixar. Unida a esse conjunto, a boca tem os seus cantos levemente caídos. Quando o queixo se eleva fica ainda mais marcante a descida da boca.
Por Spectrum
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