Um menino de 5 anos nascido na década de 1970 podia se sentir seguro para encarar os valentões da escola se tivesse 1,08 metro – a altura média entre seus coleguinhas na época. Hoje, são necessários pelo menos 4 centímetros a mais para se garantir. A espichada, que se repetiu em outras faixas etárias e equiparou o crescimento de nossas crianças à média mundial, é um indicador de que o prato dos brasileiros nunca esteve tão cheio. Nos últimos 20 anos, o número de desnutridos crônicos caiu de 19,6% para 6,8%.
Só que o crescimento vertical dos brasileirinhos veio também acompanhado de um vertiginoso crescimento lateral. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, nos últimos 30 anos, triplicou o número de crianças com idade entre 5 e 9 anos acima do peso recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, 33,5% pesam mais do que deveriam. Pelo menos 14% delas já são consideradas obesas.
Alarmados com estatísticas como essas, autoridades de saúde pública, médicos e nutricionistas de vários países passaram os últimos anos esquadrinhando o comportamento e os hábitos das famílias. Descobriram como os costumes alimentares – bons ou ruins – pesam na balança. Acabaram produzindo recomendações para pais que querem rechear o prato e a vida dos filhos de saúde. Nesta edição especial Corpo & Mente, ÉPOCA traz medidas simples e eficazes para melhorar a alimentação das crianças. Apresentamos as raízes psicológicas dos maus hábitos alimentares, descrevemos os cardápios adequados para as crianças e discutimos, por meio de exemplos, como é possível fazer uma boa educação do paladar.
Hoje, o cardápio da maior parte das crianças está desajustado. Elas comem pouco daquilo que deveriam: leite e derivados, frutas e verduras, arroz e feijão. E excessivamente daquilo que não deveriam. O refrigerante substituiu o leite, os lanches tomaram o lugar das refeições, doces e balas são ingeridos a toda hora... O resultado é uma nova forma de desnutrição na abundância. “É o que chamamos de fome oculta”, diz a nutricionista Fernanda Pisciolaro, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. “As crianças estão carentes de micronutrientes, como vitaminas e minerais, e não de energia.” A sensação é de barriga cheia, mas o corpo sente a falta de nutrientes importantes.
A mudança dos hábitos alimentares está ligada ao aumento da renda das famílias nos últimos anos. O número de crianças obesas e acima do peso aumenta à medida que a renda das famílias cresce (leia o quadro abaixo). Os ponteiros da balança sugerem que, vencida a primeira batalha – pôr comida no prato de milhões de brasileiros –, é preciso atacar um novo problema: a qualidade da alimentação.
Ao se tornar acessíveis, os alimentos industrializados promoveram uma revolução negativa. “O consumo desses produtos virou sinônimo de status”, diz o pediatra Claudio Leone, da Universidade de São Paulo. As refeições ganharam o reforço de massas prontas, empanados de carne, hambúrgueres. Conquistaram as crianças pelo sabor e os pais pela praticidade. “Ficou mais fácil alimentar filhos lançando mão da oferta gritante de alimentos industrializados”, diz a nutricionista Cristina Pereira Gaglianone, da Universidade Federal de São Paulo, atualmente na Universidade Central da Flórida, nos Estados Unidos.
O empenho em aprimorar a alimentação infantil deriva de estudos científicos que mostram como a dieta equilibrada faz mais do que apenas garantir silhuetas esbeltas. Ela também influencia o desenvolvimento da inteligência. Neste mês, pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, publicaram um estudo que relaciona os hábitos alimentares à inteligência. Numa pesquisa com 4 mil crianças de 8 anos, concluíram que aquelas cuja alimentação era rica em açúcar e gordura tinham 2 pontos a menos no quociente de inteligência. O efeito foi preponderante nas crianças que tinham alimentação pior até os 3 anos, fase em que o desenvolvimento cognitivo é acelerado.
O padrão alimentar também pode favorecer a concentração e melhorar o desempenho escolar. Num estudo com 120 adolescentes, o psicólogo britânico David Benton, da Universidade Swansea, no País de Gales, concluiu que as meninas que consumiam mais junk food tinham deficiência de vitamina B1 e se mostravam irritadiças. Depois de dois meses recebendo 50 gramas diárias da vitamina (que atua no sistema nervoso), as meninas relataram mais disposição e facilidade para organizar as ideias.
Tornar o prato das crianças mais saudável pode ser a chave para prevenir o aparecimento de doenças no futuro. As generosas porções de açúcares e gorduras que fazem refrigerantes, biscoitos e salgadinhos irresistíveis ao paladar também alteram o funcionamento do organismo. Aumentam a quantidade de açúcar no sangue e favorecem o acúmulo de gordura nas artérias, fatores que podem levar a criança a desenvolver doenças como diabetes e hipertensão. “Muitas crianças não são obesas, mas estão com níveis de gordura elevados no sangue, por causa da dieta inadequada”, diz a pediatra Lilian Zaboto.
“A alimentação desregulada de hoje pode originar uma geração de adultos doentes no futuro”, diz a cardiologista Rosa Celia Barbosa, fundadora do projeto Pro Criança Cardíaca, no Rio de Janeiro. Ela nota nas crianças que chegam a seu consultório as consequências da alimentação inadequada. Dos 2 mil pacientes atendidos por sua equipe, pelo menos 50% apresentam nível de gordura no sangue superior ao recomendado. Nos Estados Unidos, o resultado de um estudo conduzido pela pediatra Geetha Raghuveer, pesquisadora da Universidade do Missouri-Kansas, causou surpresa. Geetha analisou a espessura interna das artérias que levam sangue do coração ao cérebro em 70 crianças com mais de 6 anos. Descobriu que, por causa do acúmulo de gordura, as paredes dos vasos tinham 0,45 milímetro, espessura compatível com a de adultos de 40 anos.
Tais estudos sugerem um futuro tenebroso, caso a obesidade infantil não seja contida. Trata-se, porém, de uma realidade que felizmente podemos mudar. A melhor receita para ensinar as crianças a comer direito é uma mistura de educação e informação. Um bom começo você encontra nos links abaixo.
Só que o crescimento vertical dos brasileirinhos veio também acompanhado de um vertiginoso crescimento lateral. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostrou que, nos últimos 30 anos, triplicou o número de crianças com idade entre 5 e 9 anos acima do peso recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Hoje, 33,5% pesam mais do que deveriam. Pelo menos 14% delas já são consideradas obesas.
Alarmados com estatísticas como essas, autoridades de saúde pública, médicos e nutricionistas de vários países passaram os últimos anos esquadrinhando o comportamento e os hábitos das famílias. Descobriram como os costumes alimentares – bons ou ruins – pesam na balança. Acabaram produzindo recomendações para pais que querem rechear o prato e a vida dos filhos de saúde. Nesta edição especial Corpo & Mente, ÉPOCA traz medidas simples e eficazes para melhorar a alimentação das crianças. Apresentamos as raízes psicológicas dos maus hábitos alimentares, descrevemos os cardápios adequados para as crianças e discutimos, por meio de exemplos, como é possível fazer uma boa educação do paladar.
Hoje, o cardápio da maior parte das crianças está desajustado. Elas comem pouco daquilo que deveriam: leite e derivados, frutas e verduras, arroz e feijão. E excessivamente daquilo que não deveriam. O refrigerante substituiu o leite, os lanches tomaram o lugar das refeições, doces e balas são ingeridos a toda hora... O resultado é uma nova forma de desnutrição na abundância. “É o que chamamos de fome oculta”, diz a nutricionista Fernanda Pisciolaro, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica. “As crianças estão carentes de micronutrientes, como vitaminas e minerais, e não de energia.” A sensação é de barriga cheia, mas o corpo sente a falta de nutrientes importantes.
A mudança dos hábitos alimentares está ligada ao aumento da renda das famílias nos últimos anos. O número de crianças obesas e acima do peso aumenta à medida que a renda das famílias cresce (leia o quadro abaixo). Os ponteiros da balança sugerem que, vencida a primeira batalha – pôr comida no prato de milhões de brasileiros –, é preciso atacar um novo problema: a qualidade da alimentação.
Ao se tornar acessíveis, os alimentos industrializados promoveram uma revolução negativa. “O consumo desses produtos virou sinônimo de status”, diz o pediatra Claudio Leone, da Universidade de São Paulo. As refeições ganharam o reforço de massas prontas, empanados de carne, hambúrgueres. Conquistaram as crianças pelo sabor e os pais pela praticidade. “Ficou mais fácil alimentar filhos lançando mão da oferta gritante de alimentos industrializados”, diz a nutricionista Cristina Pereira Gaglianone, da Universidade Federal de São Paulo, atualmente na Universidade Central da Flórida, nos Estados Unidos.
O empenho em aprimorar a alimentação infantil deriva de estudos científicos que mostram como a dieta equilibrada faz mais do que apenas garantir silhuetas esbeltas. Ela também influencia o desenvolvimento da inteligência. Neste mês, pesquisadores da Universidade de Bristol, na Inglaterra, publicaram um estudo que relaciona os hábitos alimentares à inteligência. Numa pesquisa com 4 mil crianças de 8 anos, concluíram que aquelas cuja alimentação era rica em açúcar e gordura tinham 2 pontos a menos no quociente de inteligência. O efeito foi preponderante nas crianças que tinham alimentação pior até os 3 anos, fase em que o desenvolvimento cognitivo é acelerado.
O padrão alimentar também pode favorecer a concentração e melhorar o desempenho escolar. Num estudo com 120 adolescentes, o psicólogo britânico David Benton, da Universidade Swansea, no País de Gales, concluiu que as meninas que consumiam mais junk food tinham deficiência de vitamina B1 e se mostravam irritadiças. Depois de dois meses recebendo 50 gramas diárias da vitamina (que atua no sistema nervoso), as meninas relataram mais disposição e facilidade para organizar as ideias.
Tornar o prato das crianças mais saudável pode ser a chave para prevenir o aparecimento de doenças no futuro. As generosas porções de açúcares e gorduras que fazem refrigerantes, biscoitos e salgadinhos irresistíveis ao paladar também alteram o funcionamento do organismo. Aumentam a quantidade de açúcar no sangue e favorecem o acúmulo de gordura nas artérias, fatores que podem levar a criança a desenvolver doenças como diabetes e hipertensão. “Muitas crianças não são obesas, mas estão com níveis de gordura elevados no sangue, por causa da dieta inadequada”, diz a pediatra Lilian Zaboto.
“A alimentação desregulada de hoje pode originar uma geração de adultos doentes no futuro”, diz a cardiologista Rosa Celia Barbosa, fundadora do projeto Pro Criança Cardíaca, no Rio de Janeiro. Ela nota nas crianças que chegam a seu consultório as consequências da alimentação inadequada. Dos 2 mil pacientes atendidos por sua equipe, pelo menos 50% apresentam nível de gordura no sangue superior ao recomendado. Nos Estados Unidos, o resultado de um estudo conduzido pela pediatra Geetha Raghuveer, pesquisadora da Universidade do Missouri-Kansas, causou surpresa. Geetha analisou a espessura interna das artérias que levam sangue do coração ao cérebro em 70 crianças com mais de 6 anos. Descobriu que, por causa do acúmulo de gordura, as paredes dos vasos tinham 0,45 milímetro, espessura compatível com a de adultos de 40 anos.
Tais estudos sugerem um futuro tenebroso, caso a obesidade infantil não seja contida. Trata-se, porém, de uma realidade que felizmente podemos mudar. A melhor receita para ensinar as crianças a comer direito é uma mistura de educação e informação. Um bom começo você encontra nos links abaixo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário