Embora a obesidade na vida adulta esteja associada ao diabetes e à doença coronariana, não está claro se uma história mais longa de excesso de peso, a partir da adolescência, aumenta a probabilidade de desenvolver essas enfermidades. Na atual epidemia de obesidade, tem implicações práticas verificar se o aumento do índice de massa corpórea (IMC = peso/altura x altura) na transição da adolescência para a vida adulta contribui ou não para o aparecimento precoce de diabetes e de obstrução das coronárias.
Pesquisadores americanos e israelenses acabam de publicar no The New England Journal of Medicine os resultados do estudo Metabolic, Lifestyle and Nutrition Assessment in Young Adults (Melany), conduzido pelo Departamento Médico das Forças Armadas de Israel.- Participaram do estudo 37.674 militares do sexo masculino que tiveram o IMC calculado na apresentação para o serviço militar, aos 17 anos de idade. Novos cálculos do IMC foram repetidos em todos os participantes em intervalos de 3 a 5 anos, a partir dos 25 anos de idade. A cada avaliação os militares respondiam a um questionário e faziam exames médicos. O grupo foi acompanhado por 17,4 anos, em média.
Para receber o diagnóstico de diabetes, era preciso apresentar duas determinações consecutivas da glicemia de jejum acima de 126 mg/dL. O de doença coronariana exigia que o cateterismo demonstrasse uma estenose de mais de 50% no diâmetro de uma das artérias coronárias. O IMC dos participantes aos 17 anos variou de 17,3 a 27,6. Quando essa faixa foi dividida em dez estratos, os autores notaram que à medida que o IMC na adolescência crescia, aumentava gradativamente o risco de surgir na vida adulta: hipertensão arterial, aumento da frequência cardíaca em repouso, da glicemia em jejum, do LDL-colesterol (o “mau” colesterol), dos triglicérides e das enzimas hepáticas. E, ainda, queda nos níveis de HDL-colesterol (o “bom” colesterol).
Na faixa dos 25 aos 45 anos de idade, foram encontrados 1.173 casos de diabetes e 327 casos de obstrução coronariana.
O valor do IMC na adolescência guardou relação clara com a instalação de diabetes, especialmente nos 30% que apresentavam IMC mais elevado. Para cada aumento de uma unidade no IMC o risco de diabetes subiu 9,8%. Da mesma forma, os valores do IMC na adolescência estiveram associados à maior incidência de obstrução das coronárias, nessa faixa dos 25 aos 45 anos. Para cada incremento de uma unidade no IMC, o risco de doença coronariana aumentou 12%.
Ao redor dos 30 anos, o IMC do grupo já oscilava entre 21,4 a 30,6 (aumento médio de 0,3 unidades por ano), o número de fumantes havia aumentado e o número de horas dedicadas à prática de exercícios diminuído. A importância do ganho de peso com a idade foi avaliada em separado: o aumento recente do peso corpóreo aumentou o risco de diabetes, mas não o de doença coronariana. Provavelmente, esse achado deve-se ao fato de que a formação de placas nas coronárias é um processo de longa duração, ligado à aterosclerose, que se inicia silenciosamente na juventude, para chegar à fase de obstrução somente na vida adulta.
Lembrando que a faixa de IMC considerada como saudável é de 18 a 24,9, e que nesse trabalho o IMC dos adolescentes variou de 17,3 a 27,6, números bem próximos da normalidade, é surpreendente que ainda assim aqueles com IMC mais elevado tenham apresentado probabilidade mais alta de desenvolver diabetes e doença coronariana.
Conclusão: o IMC aos 17 anos permite estimar o risco de doença coronariana no início da vida adulta, mesmo quando situado na faixa de normalidade, sugerindo que manter peso corpóreo mais elevado nessa fase tenha consequências futuras.
No caso do diabetes, IMC mais alto na adolescência também aumenta o risco, mas não de forma independente do IMC na vida adulta, uma vez que perder peso reduz o risco anterior. •
Carta Capital
Pesquisadores americanos e israelenses acabam de publicar no The New England Journal of Medicine os resultados do estudo Metabolic, Lifestyle and Nutrition Assessment in Young Adults (Melany), conduzido pelo Departamento Médico das Forças Armadas de Israel.- Participaram do estudo 37.674 militares do sexo masculino que tiveram o IMC calculado na apresentação para o serviço militar, aos 17 anos de idade. Novos cálculos do IMC foram repetidos em todos os participantes em intervalos de 3 a 5 anos, a partir dos 25 anos de idade. A cada avaliação os militares respondiam a um questionário e faziam exames médicos. O grupo foi acompanhado por 17,4 anos, em média.
Para receber o diagnóstico de diabetes, era preciso apresentar duas determinações consecutivas da glicemia de jejum acima de 126 mg/dL. O de doença coronariana exigia que o cateterismo demonstrasse uma estenose de mais de 50% no diâmetro de uma das artérias coronárias. O IMC dos participantes aos 17 anos variou de 17,3 a 27,6. Quando essa faixa foi dividida em dez estratos, os autores notaram que à medida que o IMC na adolescência crescia, aumentava gradativamente o risco de surgir na vida adulta: hipertensão arterial, aumento da frequência cardíaca em repouso, da glicemia em jejum, do LDL-colesterol (o “mau” colesterol), dos triglicérides e das enzimas hepáticas. E, ainda, queda nos níveis de HDL-colesterol (o “bom” colesterol).
Na faixa dos 25 aos 45 anos de idade, foram encontrados 1.173 casos de diabetes e 327 casos de obstrução coronariana.
O valor do IMC na adolescência guardou relação clara com a instalação de diabetes, especialmente nos 30% que apresentavam IMC mais elevado. Para cada aumento de uma unidade no IMC o risco de diabetes subiu 9,8%. Da mesma forma, os valores do IMC na adolescência estiveram associados à maior incidência de obstrução das coronárias, nessa faixa dos 25 aos 45 anos. Para cada incremento de uma unidade no IMC, o risco de doença coronariana aumentou 12%.
Ao redor dos 30 anos, o IMC do grupo já oscilava entre 21,4 a 30,6 (aumento médio de 0,3 unidades por ano), o número de fumantes havia aumentado e o número de horas dedicadas à prática de exercícios diminuído. A importância do ganho de peso com a idade foi avaliada em separado: o aumento recente do peso corpóreo aumentou o risco de diabetes, mas não o de doença coronariana. Provavelmente, esse achado deve-se ao fato de que a formação de placas nas coronárias é um processo de longa duração, ligado à aterosclerose, que se inicia silenciosamente na juventude, para chegar à fase de obstrução somente na vida adulta.
Lembrando que a faixa de IMC considerada como saudável é de 18 a 24,9, e que nesse trabalho o IMC dos adolescentes variou de 17,3 a 27,6, números bem próximos da normalidade, é surpreendente que ainda assim aqueles com IMC mais elevado tenham apresentado probabilidade mais alta de desenvolver diabetes e doença coronariana.
Conclusão: o IMC aos 17 anos permite estimar o risco de doença coronariana no início da vida adulta, mesmo quando situado na faixa de normalidade, sugerindo que manter peso corpóreo mais elevado nessa fase tenha consequências futuras.
No caso do diabetes, IMC mais alto na adolescência também aumenta o risco, mas não de forma independente do IMC na vida adulta, uma vez que perder peso reduz o risco anterior. •
Carta Capital
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