9.19.2011

Criação de remédios inovadores diminui


 Um levantamento feito pela empresa Thomson Reuters, uma das principais responsáveis por monitorar a produção científica e tecnológica mundial, sugere que a criatividade das grandes empresas farmacêuticas não anda lá muito bem das pernas. Segundo o "Pharmaceutical R&D Factbook" ("relatório de pesquisa e desenvolvimento farmacêuticos"), 2010 viu o menor número de drogas inovadoras lançadas no mercado por grandes companhias nos últimos dez anos: apenas 21. No ano anterior, o número tinha chegado a 26.
Esse tipo de medicamento, conhecido pela sigla inglesa NMEs (novas entidades moleculares), é considerado o prato principal da indústria.
Como o nome diz, são moléculas que nunca tinham sido sintetizadas antes em escala comercial nem aprovadas para uso médico.
* O QUE É MEDICAMENTO INOVADOR: Medicamento comercializado no mercado nacional, composto por, pelo menos, um fármaco ativo, sendo que esse fármaco deve ter sido objeto de patente, mesmo já extinta,  por parte da empresa responsável por seu desenvolvimento e introdução no mercado do país de origem. 
Em geral, o medicamento inovador é considerado medicamento de referência, entretanto,  na sua ausência, a Anvisa indicará o medicamento de referência.
Resolução - RDC nº 135, de 29 de maio de 2003 




Do ponto de vista dos negócios, também são as mais interessantes porque trazem patentes duradouras, e portanto exclusividade no mercado, para seus criadores.
Além dos medicamentos que chegam ao mercado, os que estão em testes clínicos (ou seja, em seres humanos) também mostram sinais de declínio numérico.
Esses testes são tradicionalmente divididos em três fases. Da fase 1 à fase 3, aumenta o número de voluntários que participam do ensaio clínico e o foco na eficácia do remédio (nas fases iniciais, o principal objetivo é apenas ver se ele é seguro).
Nas três fases, a Thomson Reuters verificou uma queda em torno de 50% para o número de novos remédios.
Outro dado importante é que, de 2008 a 2010, mais que dobraram os casos de medicamentos que chegaram à fase 3 e acabaram fracassando.
A principal área em que essa tendência está revertida, com aumento de NMEs, é a de remédios contra câncer. Será que pacientes deveriam ficar preocupados? Para Richard Stack e Robert Harrington, da Universidade Duke, a resposta é sim.
Em artigo de opinião na revista especializada "Science Translational Medicine", eles dizem que boa parte da culpa é da própria FDA, mais famosa agência regulatória de fármacos do mundo.
Segundo a dupla, "parâmetros inconsistentes" têm atrapalhado a chegada de medicamentos inovadores ao mercado. Eles também afirmam que o público tem a expectativa "irreal" de que um bom remédio será 100% seguro. A FDA não comentou.
Em um ponto, porém, todos concordam: doenças infecciosas que afetam populações pobres, como a malária e a leishmaniose, continuam órfãs, com baixos investimentos da para novos remédios.
REINALDO JOSÉ LOPES
Folha 

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