2.08.2013

Doenças de origem genética

Doenças genéticas hereditárias

Conhecem-se várias doenças resultantes da existência de alterações na estrutura de determinados genes e transmitidas aos descendentes pelos indivíduos afetados ou pelos portadores assintomáticos do defeito genético.

Generalidades

A dotação cromossómica determina as características anatómicas e fisiológicas de cada indivíduo, tanto normais como patológicas, e neste sentido pode-se considerar que na origem de várias doenças participam factores genéticos. No entanto, muitas dessas doenças dependem de uma actividade anómala conjunta de diversos genes e algumas manifestam-se apenas quando coincidem determinados factores ambientais, pelo que não são consideradas, no sentido estrito, como doenças genéticas. Nestes casos, fala-se de "predisposição hereditária": a existência de antecedentes familiares aumenta a probabilidade de se apresentarem, mas não é determinante.É diferente o caso das doenças que derivam especificamente da existência de algum defeito em apenas um gene estrutural e, por isso, na proteína que codifica, ou seja, nas denominadas alterações monogénicas - são estas as consideradas doenças genéticas hereditárias. Dado que existem tanto genes dominantes como recessivos e que alguns indivíduos apresentam a mesma versão de um determinado gene nos dois cromossomas homólogos correspondentes (homozigóticos), enquanto que outros têm diferentes versões de um determinado gene em ambos os cromossomas homólogos (heterozigóticos), são várias as possibilidades de ser afectado por um defeito genético e de transmitir um gene defeituoso aos descendentes. Assim, estas doenças manifestam-se em todos os indivíduos que possuem na sua dotação cromossómica apenas um gene defeituoso dominante ou a mesma versão de um gene defeituoso recessivo nos dois cromossomas homólogos, transmitindo-se aos descendentes segundo as rígidas leis da hereditariedade.

Causas

Todas as doenças genéticas hereditárias devem-se à existência na dotação cromossómica de um gene defeituoso e, como consequência, a uma alteração da síntese da proteína que esse gene codifica, que pode corresponder a uma enzima ou outro elemento com um papel mais ou menos importante no funcionamento orgânico. O tipo de doença e a sua gravidade dependerão da actividade da proteína cuja síntese é regulada pelo gene defeituoso, mas a base é a mesma em todos os casos: o gene alterado dará lugar à produção de uma proteína anómala ou em quantidades anormais, com a consequente perturbação bioquímica responsável por uma determinada doença. São vários os exemplos: um dos mais conhecidos corresponde à hemofilia, provocada pela existência de um defeito num gene que codifica uma proteína que actua como factor da coagulação e que, ao não ser produzida correctamente, favorece um quadro caracterizado pela tendência para hemorragias.Uma condição necessária para que se manifeste uma doença deste tipo é o defeito genético estar presente em todas as células de um indivíduo, o que pode acontecer por dois motivos: porque o defeito já está presente na dotação cromossómica herdada dos progenitores ou porque se produz no momento da formação das células germinativas, cuja união dá origem a um novo ser. Assim, uma possibilidade implica que existam já antecedentes familiares da doença, enquanto que a outra implica o "aparecimento" do defeito genético numa das células germinativas que dão origem a um novo ser, que posteriormente o transmitirá à sua descendência. Esta última hipótese pode acontecer como consequência de uma falha na replicação do ADN durante o processo de divisão dos elementos precursores das células germinativas: por vezes, tra-ta-se de uma mutação, ou seja, de uma transformação brusca que se produz espontaneamente e de forma imprevisível por mecanismos naturais pouco claros, envolvidos no mecanismo da evolução das espécies, enquanto que noutros casos deve-se à acção de agentes que produzem danos nos cromossomas ou alteram a sua replicação, tais como radiações, substâncias químicas, vírus, exposição a temperaturas elevadas, etc.As falhas na replicação do ADN podem originar diversas alterações na estrutura dos genes, que são formados por uma sucessão bem definida de tripletos de bases nitrogenadas. Assim, pode ocorrer a substituição de uma base nitrogenada por outra diferente, a perda de uma base presente no gene original (eliminação) ou a incorporação de alguma que não estava presente (adição). Como consequência de qualquer um destes erros, o gene já não poderá codificar correctamente a proteína correspondente e, se esta cumpre um papel importante no funcionamento orgânico, produzir-se-á uma doença.
Informações adicionais

Conceito de portador

Nem todos os indivíduos que têm um gene defeituoso na sua dotação cromossómica sofrem de uma doença genética, porque o gene em questão pode ser recessivo e expressar-se apenas quando está presente nos dois cromossomas homólogos; assim, se uma pessoa tiver num dos componentes de um par de cromossomas homólogos um gene defeituoso recessivo e no outro um gene normal, não terá qualquer problema. No entanto, poderá transmitir esse gene defeituoso à descendência: se um filho receber o mesmo gene defeituoso recessivo do outro progenitor, terá a mesma versão alterada em ambos os cromossomas homólogos e, aí sim, sofrerá da doença. Por isso, diz-se que o indivíduo que tem na sua dotação cromossómica um só gene defeituoso recessivo é "portador" do defeito genético: não sofrerá da doença provocada por esse gene, mas pode transmiti-lo à sua descendência e poderá ter descendentes, mesmo saltando gerações, que sejam afectados pela doença em questão.

 Respostas

Por vezes, ouço falar de doenças congénitas e não sei se é o mesmo que doenças genéticas...
Não, os dois conceitos são diferentes, embora por vezes possam coincidir. Fala-se de doenças congénitas para designar as perturbações que estão presentes desde o nascimento, mas muitos defeitos genéticos não se manifestam até muitos anos depois do nascimento e, pelo contrário, muitas alterações congénitas não têm necessariamente uma origem genética.

Possibilidades de diagnóstico

Hoje em dia, pode-se detectar com precisão genes defeituosos ou determinados marcadores de várias doenças genéticas. No entanto, estes exames requerem técnicas de laboratório sofisticadas, que se devem aplicar apenas uma de cada vez, para encontrar um determinado factor de risco. Significa que ainda não existem procedimentos para investigar ao mesmo tempo e "às cegas" todas as doenças genéticas, pelo que a procura deve realizar-se para cada caso específico quando se produzirem circunstâncias que assim o aconselhem.

Filhos de homens mais velhos correm mais risco de contrair doenças genéticas

Estudo islandês conclui que a idade do pai exerce mais influência do que a idade da mãe no risco de doenças de origem genética, como o autismo e a esquizofrenia

AGÊNCIA EFE
Pais mais velhos (Foto: SXC)
A idade do pai no momento da concepção do filho influencia mais do que a idade da mãe, no que diz respeito ao risco de doenças de origem genética, como o autismo e a esquizofrenia. A conclusão é de um estudo realizado pelo centro de pesquisas deCODE Genetics, da Islândia, e publicado nesta quarta-feira (22) no periódico Nature.
Estudos anteriores haviam destacado a importância da idade das mães no momento da gravidez. A nova pesquisa, porém, afirma que a idade dos pais tem maior influência. Para isso, os cientistas analisaram o genoma completo de 78 famílias islandesas, na busca de mutações genéticas que estão presentes nos filhos, mas não em seus pais.
Segundo os cientistas, a aparição de desordens relacionadas com as funções cerebrais, como o autismo, a esquizofrenia, a dislexia e o atraso intelectual, está estreitamente relacionada com essas mutações. Por este motivo, os pesquisadores se concetraram nelas.
A equipe chegou a contabilizar uma média de 60 dessas mutações ligadas à idade do pai, enquanto só encontraram 15 relacionadas com a idade da mãe. Os cientistas descobriram também que o número de erros genéticos era maior entre os filhos de pais de idade avançada e que, por cada ano que um homem atrasa sua paternidade, seu filho conta com duas novas dessas mutações não presentes nos pais.
De acordo com a pesquisa, os filhos cujos pais têm 20 anos, por exemplo, contam com uma média de 25 novas mutações, enquanto os filhos cujos pais completaram 40 anos somam até 65 alterações genéticas.

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