Medida ocorreu após relatos 125 casos e quatro mortes por trombose desde 1987
A decisão da agência francesa de segurança de medicamentos de proibir
a venda do remédio antiacne e contraceptivo Diane 35, do laboratório
Bayer, gerou uma polêmica mundial sobre os riscos do anticoncepcional
oral, já que a pílula é vendida em mais de cem países, inclusive no
Brasil. A medida foi tomada após ter sido relacionada a 125 casos e
quatro mortes por trombose venosa que ocorreram desde 1987, ano em que
começou a ser vendida na França. Especialistas associaram este episódio à
época, há uma década, quando o tratamento de reposição hormonal foi
posto na berlinda, e mulheres jogaram suas caixinhas na lata de lixo.
Agora, eles alertam, não é momento de abandonar o método, e sim
equilibrar riscos e benefícios.
Além da suspensão da Diane 35 e seus genéricos, a agência de medicamentos europeia afirmou na última semana que revisará a segurança de outros anticoncepcionais mais novos, de terceira e quarta geração, como Yasmin (também da Bayer). Segundo a agência, eles têm um risco maior de causar coágulos. A suspensão da Diane 35 ocorrerá em três meses na França, quando os lotes serão retirados do mercado. Só nesse país, 315 mil mulheres usam rotineiramente a pílula. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda avalia que medida tomar e lembra que a bula do medicamento já traz alertas referentes ao risco de trombose arterial ou venosa.
- O uso de hormônios das pílulas sempre foi relacionado ao risco de trombose e tromboembolismo. Agora se acendeu uma luz amarela. As pessoas têm que se conscientizar de que precisam avaliar os riscos e não fazer automedicação - acrescentou Renato Sá, diretor da Sociedade de Ginecologia do Rio de Janeiro e chefe da Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Icaraí, em Niterói.
O especialista avalia que a redução dos efeitos colaterais das novas pílulas, como inchaço e dores de cabeça, levou à sua popularização e, consequentemente, ao seu uso indiscriminado, sem prescrição médica.
- Na época da popularização da reposição hormonal, todo mundo usava, falava-se disso no cabeleireiro. Depois, com as notícias de câncer, pararam. Hoje estamos chegando a um denominador comum. Acho que, no caso da pílula, é um momento de reflexão, já que existem evidências, mas que não podem ser tomadas como verdade absoluta. Não é um momento para um alarde tão grande - afirma Sá.
Segundo Sá, as notícias também mobiliza a comunidade médica. Ele afirma que o uso do anticoncepcional estará na pauta do congresso da Sociedade de Ginecologia, em abril.
A ginecologista Viviane Monteiro, mestre pela UFF e também membro da Sociedade de Ginecologia do Rio, aponta que o uso de contraceptivo já está relacionado, na literatura médica, a uma série de fatores de risco. Pessoas com histórico de câncer de mama, de trombose ou de eventos tromboembolísticos; com problemas hepáticos, de intolerâncias gástricas ou hipertensos graves podem ter complicações com o uso da pílula. Mulheres fumantes e obesas também devem avaliar cuidadosamente a escolha do medicamento.
Especialista alerta para risco da automedicação
- É absolutamente errado iniciar o tratamento anticoncepcional sem orientação médica, porque há riscos. É um remédio como outro qualquer. No Brasil, este é um péssimo hábito. Se formos nos Estados Unidos, por exemplo, não se consegue comprar a pílula sem receita — criticou Viviane.
Sobre o controle e fiscalização de venda, a Anvisa apenas afirmou por nota que isto é feito pela vigilância local em drogarias e farmácias, sem explicar os critérios. No site do laboratório Bayer, a empresa diz “não ter conhecimento de qualquer nova evidência científica que leve a uma mudança na avaliação positiva do risco-benefício do Diane-35” e se colocou à disposição da agência francesa. Com relação aos riscos de formação de coágulos nos vasos sanguíneos, o laboratório afirma ser uma ocorrência rara na população em geral, sendo mais comum em grávidas do que usuárias de pílulas.
- Houve uma melhora importante na tecnologia dos anticoncepcionais. Antes, as mulheres tinham que se conformar com a dor de cabeça, aumento de peso, náuseas. Elas foram evoluindo e hoje em dia elas estão cada vez mais individualizadas e podem ser até benéficas a outros sintomas além da contracepção - defendeu a ginecologista Flávia Fairbanks, que foi médica do Hospital das Clínicas da USP.
Entre os benefícios, a especialista cita melhora das cólicas, regularização do ciclo menstrual, controle da endometriose e síndrome do ovários policístico, assim como potencial protetora contra cânceres de ovário e endométrio.
- Não dá para ir contra evidências, estão ocorrendo complicações sérias com usuárias de pílulas, mas os fatores de risco são individuais. Uma medida que poderia surtir efeito é a obrigatoriedade do rastreamento do risco de trombose, que é feito por exames simples, de sangue - sugere Flávia.
A ginecologista acredita que o medo e a interrupção do uso de contraceptivos pode trazer consequências sociais, tais como aumento de casos de gravidez indesejada e abortos. Um estudo de 2012 da Universidade de Washington mostrou que o acesso ao método contraceptivo reduziu em 68% a taxa de aborto. Por outro lado, estudo da mesma universidade apontou que o uso da pílula dobrou o risco de a mulher ser infectada pelo HIV. Isto porque, segundo a pesquisa, a popularização do método oral levaria à redução do uso de camisinhas.
Além da suspensão da Diane 35 e seus genéricos, a agência de medicamentos europeia afirmou na última semana que revisará a segurança de outros anticoncepcionais mais novos, de terceira e quarta geração, como Yasmin (também da Bayer). Segundo a agência, eles têm um risco maior de causar coágulos. A suspensão da Diane 35 ocorrerá em três meses na França, quando os lotes serão retirados do mercado. Só nesse país, 315 mil mulheres usam rotineiramente a pílula. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda avalia que medida tomar e lembra que a bula do medicamento já traz alertas referentes ao risco de trombose arterial ou venosa.
- O uso de hormônios das pílulas sempre foi relacionado ao risco de trombose e tromboembolismo. Agora se acendeu uma luz amarela. As pessoas têm que se conscientizar de que precisam avaliar os riscos e não fazer automedicação - acrescentou Renato Sá, diretor da Sociedade de Ginecologia do Rio de Janeiro e chefe da Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Icaraí, em Niterói.
O especialista avalia que a redução dos efeitos colaterais das novas pílulas, como inchaço e dores de cabeça, levou à sua popularização e, consequentemente, ao seu uso indiscriminado, sem prescrição médica.
- Na época da popularização da reposição hormonal, todo mundo usava, falava-se disso no cabeleireiro. Depois, com as notícias de câncer, pararam. Hoje estamos chegando a um denominador comum. Acho que, no caso da pílula, é um momento de reflexão, já que existem evidências, mas que não podem ser tomadas como verdade absoluta. Não é um momento para um alarde tão grande - afirma Sá.
Segundo Sá, as notícias também mobiliza a comunidade médica. Ele afirma que o uso do anticoncepcional estará na pauta do congresso da Sociedade de Ginecologia, em abril.
A ginecologista Viviane Monteiro, mestre pela UFF e também membro da Sociedade de Ginecologia do Rio, aponta que o uso de contraceptivo já está relacionado, na literatura médica, a uma série de fatores de risco. Pessoas com histórico de câncer de mama, de trombose ou de eventos tromboembolísticos; com problemas hepáticos, de intolerâncias gástricas ou hipertensos graves podem ter complicações com o uso da pílula. Mulheres fumantes e obesas também devem avaliar cuidadosamente a escolha do medicamento.
Especialista alerta para risco da automedicação
- É absolutamente errado iniciar o tratamento anticoncepcional sem orientação médica, porque há riscos. É um remédio como outro qualquer. No Brasil, este é um péssimo hábito. Se formos nos Estados Unidos, por exemplo, não se consegue comprar a pílula sem receita — criticou Viviane.
Sobre o controle e fiscalização de venda, a Anvisa apenas afirmou por nota que isto é feito pela vigilância local em drogarias e farmácias, sem explicar os critérios. No site do laboratório Bayer, a empresa diz “não ter conhecimento de qualquer nova evidência científica que leve a uma mudança na avaliação positiva do risco-benefício do Diane-35” e se colocou à disposição da agência francesa. Com relação aos riscos de formação de coágulos nos vasos sanguíneos, o laboratório afirma ser uma ocorrência rara na população em geral, sendo mais comum em grávidas do que usuárias de pílulas.
- Houve uma melhora importante na tecnologia dos anticoncepcionais. Antes, as mulheres tinham que se conformar com a dor de cabeça, aumento de peso, náuseas. Elas foram evoluindo e hoje em dia elas estão cada vez mais individualizadas e podem ser até benéficas a outros sintomas além da contracepção - defendeu a ginecologista Flávia Fairbanks, que foi médica do Hospital das Clínicas da USP.
Entre os benefícios, a especialista cita melhora das cólicas, regularização do ciclo menstrual, controle da endometriose e síndrome do ovários policístico, assim como potencial protetora contra cânceres de ovário e endométrio.
- Não dá para ir contra evidências, estão ocorrendo complicações sérias com usuárias de pílulas, mas os fatores de risco são individuais. Uma medida que poderia surtir efeito é a obrigatoriedade do rastreamento do risco de trombose, que é feito por exames simples, de sangue - sugere Flávia.
A ginecologista acredita que o medo e a interrupção do uso de contraceptivos pode trazer consequências sociais, tais como aumento de casos de gravidez indesejada e abortos. Um estudo de 2012 da Universidade de Washington mostrou que o acesso ao método contraceptivo reduziu em 68% a taxa de aborto. Por outro lado, estudo da mesma universidade apontou que o uso da pílula dobrou o risco de a mulher ser infectada pelo HIV. Isto porque, segundo a pesquisa, a popularização do método oral levaria à redução do uso de camisinhas.
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