2.07.2013

Comentário de um economista do governo FHC

Ser pessimista é moda hoje
De volta ao Brasil, chocou-me o ambiente muito negativo que encontrei entre analistas e investidores. E esse negativismo não está restrito à economia brasileira. Também o mundo, na opinião média, vive ainda dias difíceis e o futuro apresenta-se muito incerto e perigoso.

Um novo padrão parece estar sendo construído na mídia internacional nestes primeiros dias do ano novo: cada notícia positiva que aparece nos meios eletrônicos de comunicação é seguida por uma qualificação sobre os riscos que pesam ainda sobre 2013.

Entretanto, para mim, o noticiário recente mostra sinais claros de normalização do funcionamento das principais economias do mundo.

Chamo a atenção do leitor da Folha para a expressão "normalização das atividades econômicas" que utilizei. Essa qualificação é crítica para explicar minha posição otimista sobre o futuro próximo.

O entendimento que tenho sobre a dinâmica de longo prazo das economias de mercado pode-se resumir ao seguinte: elas têm uma vocação na direção do crescimento, embora desvios dessa rota possam acontecer de tempos em tempos.

Nesses momentos, é importante enfrentar o pânico e, posteriormente, estabelecer políticas corretas de normalização das atividades. O resto é questão de tempo e paciência.

É uma receita desenvolvida com clareza por John Maynard Keynes e que vem sendo enriquecida por outros economistas e pensadores ao longo das últimas décadas.

Um testemunho clássico em relação a essa tendência das economias de mercado de crescer no longo prazo é dado pela atitude de Warren Buffett, um dos investidores de maior sucesso no mercado internacional de ações nos últimos 50 anos.

Sua empresa de seguros, instrumento principal de seus investimentos, tem sempre uma posição otimista em relação ao futuro das empresas em que investe seus recursos.

Mas voltemos à lógica da minha posição de otimismo. A crise financeira que vivemos a partir da quebra do Lehman Brothers segue o padrão clássico das grandes rupturas que podem atingir as economias de mercado. A diferença, em relação a outras que ocorreram no passado, foi sua intensidade e por ter vindo acompanhada de uma crise de solvência da dívida pública em alguns países do mundo desenvolvido.

Por isso, a recuperação da funcionalidade dos mercados tem sido mais lenta. Mas, ao longo deste ano, nos EUA, ela vai acontecer de maneira clara, com o crescimento podendo chegar a 3% anuais no segundo semestre. Na Europa, apenas em 2014 teremos a volta sistêmica da funcionalidade da economia.

A China, outra peça importante para a economia brasileira, também mostra sucesso no reequilíbrio de seu crescimento, com menor dependência das exportações para o Primeiro Mundo. Na quinta-feira passada, foi publicado um índice que projeta a atividade industrial nos próximos meses e que aponta para a retomada do crescimento a uma velocidade de mais de 8% ao ano.

Também no Brasil encontrei um pessimismo generalizado com nosso futuro, com a maioria dos analistas chamando a atenção para os riscos do binômio inflação elevada e crescimento baixo.

Pouca importância tem sido dada para alguns indicadores positivos divulgados recentemente.

O primeiro foi o volume recorde de investimentos estrangeiros no país no ano passado, com a entrada de mais de US$ 65 bilhões.

Outro foi a informação que veio do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. Pesquisa organizada por uma consultoria internacional com diretores de multinacionais colocou o Brasil como o terceiro mercado de maior potencial para o crescimento de seus negócios, atrás apenas dos EUA e da China.

Ainda acho que vamos assistir no Brasil à normalização dos investimentos, nos próximos meses, permitindo que nosso crescimento convirja na segunda parte do ano para nossa velocidade de cruzeiro, que é de 3,5% anuais. Mas a restrição de oferta em alguns mercados sensíveis e a cultura da indexação devem manter a inflação como a grande ameaça nos próximos meses.

Espero que o governo entenda a importância de ancorar novamente as expectativas dos agentes econômicos em relação ao comportamento futuro dos preços. 

Em relação à leitura da conjuntura econômica, a forma de intervenção do Estado nos mercados e ao entendimento de questões macroeconômicas importantes . Sou extremamente otimista com a economia brasileira ..Ao fim do mandato da presidente duas situações podem ocorrer  e a força da economia privada – dentro e fora de nossas fronteiras com o  Brasil continua a crescer, embora a taxas mais medíocres do que se poderia obter com uma política econômica de boa qualidade.

Para colocar estes cenários em números diria que no primeiro caso estaríamos crescendo a 2,5% ao ano em 2014 e mais de 4% no segundo. O ponto central desta divergência me parece ser a questão da inflação e como o governo vai combatê-la.

No primeiro caso o governo é colocado contra a parede e obrigado a realizar um tratamento de choque por conta da perda da popularidade que poderá  vir com taxas de inflação da ordem de 8% ao ano. Nesta hipótese haverá uma redução importante na velocidade de crescimento da economia, depois de um período com taxas anuais acima de 4% aa, mas com a inflação voltando ao nível de normalidade. Na outra hipótese o governo reconhece o dilema inflação e crescimento, que vivemos hoje, e decide sacrificar o nível de atividade em, deixando para os anos seguintes a volta de um crescimento econômico mais robusto.


Luiz Carlos Mendonça de Barros Luiz Carlos Mendonça de Barros é engenheiro e economista, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações (governo FHC). É sócio e editor do site de economia e política 'Primeira Leitura'. Escreve às sextas, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.

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