Ser pessimista é moda hoje
Um novo padrão parece estar sendo construído na mídia internacional
nestes primeiros dias do ano novo: cada notícia positiva que aparece nos
meios eletrônicos de comunicação é seguida por uma qualificação sobre
os riscos que pesam ainda sobre 2013.
Entretanto, para mim, o noticiário recente mostra sinais claros de
normalização do funcionamento das principais economias do mundo.
Chamo a atenção do leitor da Folha para a expressão "normalização das
atividades econômicas" que utilizei. Essa qualificação é crítica para
explicar minha posição otimista sobre o futuro próximo.
O entendimento que tenho sobre a dinâmica de longo prazo das economias
de mercado pode-se resumir ao seguinte: elas têm uma vocação na direção
do crescimento, embora desvios dessa rota possam acontecer de tempos em
tempos.
Nesses momentos, é importante enfrentar o pânico e, posteriormente,
estabelecer políticas corretas de normalização das atividades. O resto é
questão de tempo e paciência.
É uma receita desenvolvida com clareza por John Maynard Keynes e que vem
sendo enriquecida por outros economistas e pensadores ao longo das
últimas décadas.
Um testemunho clássico em relação a essa tendência das economias de
mercado de crescer no longo prazo é dado pela atitude de Warren Buffett,
um dos investidores de maior sucesso no mercado internacional de ações
nos últimos 50 anos.
Sua empresa de seguros, instrumento principal de seus investimentos, tem
sempre uma posição otimista em relação ao futuro das empresas em que
investe seus recursos.
Mas voltemos à lógica da minha posição de otimismo. A crise financeira
que vivemos a partir da quebra do Lehman Brothers segue o padrão
clássico das grandes rupturas que podem atingir as economias de mercado.
A diferença, em relação a outras que ocorreram no passado, foi sua
intensidade e por ter vindo acompanhada de uma crise de solvência da
dívida pública em alguns países do mundo desenvolvido.
Por isso, a recuperação da funcionalidade dos mercados tem sido mais
lenta. Mas, ao longo deste ano, nos EUA, ela vai acontecer de maneira
clara, com o crescimento podendo chegar a 3% anuais no segundo semestre.
Na Europa, apenas em 2014 teremos a volta sistêmica da funcionalidade
da economia.
A China, outra peça importante para a economia brasileira, também mostra
sucesso no reequilíbrio de seu crescimento, com menor dependência das
exportações para o Primeiro Mundo. Na quinta-feira passada, foi
publicado um índice que projeta a atividade industrial nos próximos
meses e que aponta para a retomada do crescimento a uma velocidade de
mais de 8% ao ano.
Também no Brasil encontrei um pessimismo generalizado com nosso futuro,
com a maioria dos analistas chamando a atenção para os riscos do binômio
inflação elevada e crescimento baixo.
Pouca importância tem sido dada para alguns indicadores positivos divulgados recentemente.
O primeiro foi o volume recorde de investimentos estrangeiros no país no ano passado, com a entrada de mais de US$ 65 bilhões.
Outro foi a informação que veio do Fórum Econômico Mundial, em Davos, na
Suíça. Pesquisa organizada por uma consultoria internacional com
diretores de multinacionais colocou o Brasil como o terceiro mercado de
maior potencial para o crescimento de seus negócios, atrás apenas dos
EUA e da China.
Ainda acho que vamos assistir no Brasil à normalização dos
investimentos, nos próximos meses, permitindo que nosso crescimento
convirja na segunda parte do ano para nossa velocidade de cruzeiro, que é
de 3,5% anuais. Mas a restrição de oferta em alguns mercados sensíveis e
a cultura da indexação devem manter a inflação como a grande ameaça nos
próximos meses.
Espero que o governo entenda a importância de ancorar novamente as
expectativas dos agentes econômicos em relação ao comportamento futuro
dos preços.
Em relação à leitura da conjuntura econômica, a forma de intervenção
do Estado nos mercados e ao entendimento de questões macroeconômicas
importantes . Sou extremamente otimista com a economia brasileira ..Ao
fim do mandato da presidente duas situações podem ocorrer e a força da
economia privada – dentro e fora de nossas fronteiras com o Brasil
continua a crescer, embora a taxas mais medíocres do que se poderia
obter com uma política econômica de boa qualidade.
Para
colocar estes cenários em números diria que no primeiro caso estaríamos
crescendo a 2,5% ao ano em 2014 e mais de 4% no segundo. O ponto
central desta divergência me parece ser a questão da inflação e como o
governo vai combatê-la.
No primeiro caso o governo é
colocado contra a parede e obrigado a realizar um tratamento de choque
por conta da perda da popularidade que poderá vir com taxas de inflação
da ordem de 8% ao ano. Nesta hipótese haverá uma redução importante na
velocidade de crescimento da economia, depois de um período com taxas
anuais acima de 4% aa, mas com a inflação voltando ao nível de
normalidade. Na outra hipótese o governo reconhece o dilema inflação e
crescimento, que vivemos hoje, e decide sacrificar o nível de atividade
em, deixando para os anos seguintes a volta de um crescimento econômico
mais robusto.
Luiz Carlos Mendonça de Barros é engenheiro e economista,
ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações (governo FHC). É
sócio e editor do site de economia e política 'Primeira Leitura'.
Escreve às sextas, a cada duas semanas, no caderno 'Mercado'.
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