Houve relatos de quem passou duas horas em pé até ver o monumento no fim de semana passada — o que não surpreende quem já se arriscou a visitar a Torre Eiffel, em Paris, por exemplo
Especialistas acreditam que a venda de ingressos online e o agendamento de visitas são algumas alternativas para tentar diminuir o sofrimento
RIO — Não importa se é Paris, Roma ou Nova York: todo turista sabe
que, para visitar as principais atrações turísticas de uma metrópole, há
de se enfrentar filas. O problema, entretanto, causou polêmica no fim
de semana passado, quando centenas de pessoas serpentearam a calçada da
estação do trem para o Corcovado, no Cosme Velho, e a praça do Largo do
Machado à espera de transporte para visitar o Cristo Redentor. Houve
relatos de quem passou duas horas em pé até ver o monumento — o que não
surpreende quem já se arriscou a visitar a Torre Eiffel, na capital
parisiense, por exemplo. Reflexo de um desequilíbrio entre a procura por
essas atrações e sua capacidade de receber visitantes, as filas são
inevitáveis. Especialistas acreditam que a venda de ingressos online e o
agendamento de visitas são algumas alternativas para tentar diminuir o
sofrimento.
— Às vezes, a procura é maior do que a oferta, e não tem jeito. Muitos lugares não comportam grandes grupos, seja por uma questão de espaço, como no caso da Torre Eiffel, ou pela integridade do patrimônio, como na Capela Sistina, em Roma — explica Leonel Rossi Jr., vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).
As estatísticas mostram que o número de visitantes só vai crescer. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo internacional teve expansão de 4% em 2012, atingindo o recorde de mais de um bilhão de pessoas viajando. Para os próximos anos, o órgão prevê um crescimento de 3% ao ano até 2030 — com especial incremento nas viagens a regiões em desenvolvimento, como Ásia, África e América Latina.
Segundo Rossi, parques temáticos nos Estados Unidos e monumentos históricos na Europa são os primeiros citados no quesito espera. Por isso, ele sempre indica a compra de bilhetes pela internet que oferecem a opção “fura fila” (“bypass the line” ou “fast track”). É o caso da Torre Eiffel; da Estátua da Liberdade, em Nova York; da London Eye, em Londres; do Coliseu e dos museus do Vaticano, em Roma — todos atrações concorridíssimas e que têm ingressos à venda na internet. Os modelos vão de pular apenas a fila da bilheteria (e ir diretamente à fila de acesso ao monumento) a ter direito a uma entrada especial.
Mas nem sempre as opções agradam. No mês passado, a médica Juliana Spitz foi a Paris com o namorado e os pais dele. Precavida, ela reservou hotel, passeios e até restaurantes. A decepção, porém, veio logo na primeira parada, a Torre Eiffel:
— Fiquei chocada com a desorganização. Comprei os ingressos antecipadamente para evitar as famosas filas, mas, chegando lá, a espera para quem já tinha os bilhetes era quase tão grande quanto para quem ainda deveria comprar. Ficamos uma hora em pé até entrar no elevador, e, lá em cima, enfrentamos mais filas.
Igualdade com a multidão
Mestre em Ciências Sociais pela PUC-RJ, Alberto Junqueira é autor de uma dissertação de mestrado sobre filas na sociedade brasileira, sob orientação do antropólogo Roberto Da Matta. Para Junqueira, a revolta em situações como essas, muitas vezes, é fruto da sensação de estar sendo passado para trás, mas também pode ser resultado de um desconforto por se estar em situação de igualdade com a multidão.
— A fila faz emergir um conflito crônico na sociedade brasileira, que é o conflito entre hierarquia e igualdade. Como essa veia hierarquizante é forte aqui, as pessoas sentem um certo desconforto quando se encontram numa situação de igualdade. Mas a fila por si só já é psicologicamente desconfortável — teoriza.
Uma forma de escapar da incômoda espera é visitar monumentos em grupos acompanhados por guias cadastrados, sugere a operadora de turismo Mayara Oliveira. Acostumada a montar pacotes de viagens para o mundo todo, ela lembra que os guias normalmente retiram os ingressos com antecedência e têm prioridade na hora de entrar na atração.
Mas o fato de ser especialista no assunto não deixa Mayara totalmente a salvo. Há três anos, ela perdeu 40 minutos em frente ao Museu Van Gogh e mais uma hora para ver a Casa de Anne Frank, ambos em Amsterdã. Em Roma, a espera para visitar o Coliseu foi tão longa que deu até para almoçar (em pé) do lado de fora. Viajando na época de estudante, Mayara precisou ficar nas filas por causa da carteira de estudante, que, em muitos lugares, só dá direito a desconto se apresentada na bilheteria.
Além de oferecer descontos para estudantes apenas no caixa, em muitos países, as atrações não têm filas preferenciais para idosos ou gestantes. E, quando a entrada é grátis, a reserva de horário é praticamente impossível. É o caso do mausoléu de Mao Tsé-Tung, em Pequim, aberto ao público apenas quatro horas por dia, com uma fila que costuma se estender por um quilômetro.
No caso do Rio, a prefeitura e os responsáveis pelo Trem do Corcovado decidiram que os ingressos para o monumento passarão a ser vendidos a partir de 17 de junho em casas lotéricas e agências dos Correios, além de quiosques da Riotur em Copacabana e no Largo do Machado. Os sites de venda serão obrigados a dar informações em inglês e espanhol (apenas um dos dois existentes oferecia o serviço em outras línguas).
— Às vezes, a procura é maior do que a oferta, e não tem jeito. Muitos lugares não comportam grandes grupos, seja por uma questão de espaço, como no caso da Torre Eiffel, ou pela integridade do patrimônio, como na Capela Sistina, em Roma — explica Leonel Rossi Jr., vice-presidente de Relações Internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav).
As estatísticas mostram que o número de visitantes só vai crescer. De acordo com a Organização Mundial do Turismo (OMT), o turismo internacional teve expansão de 4% em 2012, atingindo o recorde de mais de um bilhão de pessoas viajando. Para os próximos anos, o órgão prevê um crescimento de 3% ao ano até 2030 — com especial incremento nas viagens a regiões em desenvolvimento, como Ásia, África e América Latina.
Segundo Rossi, parques temáticos nos Estados Unidos e monumentos históricos na Europa são os primeiros citados no quesito espera. Por isso, ele sempre indica a compra de bilhetes pela internet que oferecem a opção “fura fila” (“bypass the line” ou “fast track”). É o caso da Torre Eiffel; da Estátua da Liberdade, em Nova York; da London Eye, em Londres; do Coliseu e dos museus do Vaticano, em Roma — todos atrações concorridíssimas e que têm ingressos à venda na internet. Os modelos vão de pular apenas a fila da bilheteria (e ir diretamente à fila de acesso ao monumento) a ter direito a uma entrada especial.
Mas nem sempre as opções agradam. No mês passado, a médica Juliana Spitz foi a Paris com o namorado e os pais dele. Precavida, ela reservou hotel, passeios e até restaurantes. A decepção, porém, veio logo na primeira parada, a Torre Eiffel:
— Fiquei chocada com a desorganização. Comprei os ingressos antecipadamente para evitar as famosas filas, mas, chegando lá, a espera para quem já tinha os bilhetes era quase tão grande quanto para quem ainda deveria comprar. Ficamos uma hora em pé até entrar no elevador, e, lá em cima, enfrentamos mais filas.
Igualdade com a multidão
Mestre em Ciências Sociais pela PUC-RJ, Alberto Junqueira é autor de uma dissertação de mestrado sobre filas na sociedade brasileira, sob orientação do antropólogo Roberto Da Matta. Para Junqueira, a revolta em situações como essas, muitas vezes, é fruto da sensação de estar sendo passado para trás, mas também pode ser resultado de um desconforto por se estar em situação de igualdade com a multidão.
— A fila faz emergir um conflito crônico na sociedade brasileira, que é o conflito entre hierarquia e igualdade. Como essa veia hierarquizante é forte aqui, as pessoas sentem um certo desconforto quando se encontram numa situação de igualdade. Mas a fila por si só já é psicologicamente desconfortável — teoriza.
Uma forma de escapar da incômoda espera é visitar monumentos em grupos acompanhados por guias cadastrados, sugere a operadora de turismo Mayara Oliveira. Acostumada a montar pacotes de viagens para o mundo todo, ela lembra que os guias normalmente retiram os ingressos com antecedência e têm prioridade na hora de entrar na atração.
Mas o fato de ser especialista no assunto não deixa Mayara totalmente a salvo. Há três anos, ela perdeu 40 minutos em frente ao Museu Van Gogh e mais uma hora para ver a Casa de Anne Frank, ambos em Amsterdã. Em Roma, a espera para visitar o Coliseu foi tão longa que deu até para almoçar (em pé) do lado de fora. Viajando na época de estudante, Mayara precisou ficar nas filas por causa da carteira de estudante, que, em muitos lugares, só dá direito a desconto se apresentada na bilheteria.
Além de oferecer descontos para estudantes apenas no caixa, em muitos países, as atrações não têm filas preferenciais para idosos ou gestantes. E, quando a entrada é grátis, a reserva de horário é praticamente impossível. É o caso do mausoléu de Mao Tsé-Tung, em Pequim, aberto ao público apenas quatro horas por dia, com uma fila que costuma se estender por um quilômetro.
No caso do Rio, a prefeitura e os responsáveis pelo Trem do Corcovado decidiram que os ingressos para o monumento passarão a ser vendidos a partir de 17 de junho em casas lotéricas e agências dos Correios, além de quiosques da Riotur em Copacabana e no Largo do Machado. Os sites de venda serão obrigados a dar informações em inglês e espanhol (apenas um dos dois existentes oferecia o serviço em outras línguas).
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