Novos estudos chancelam os benefícios à saúde do hábito milenar de beber infusões de ervas
Em rituais religiosos, como bebida social, com efeitos medicinais. A
tradição milenar de beber chá, que se reinventou ao longo de milhares de
anos e culturas, vem perdendo a imagem curandeira trazida do
conhecimento popular e ganhando status na ciência. Estudos, inclusive
brasileiros, começam a mostrar que as ervas têm, sim, propriedades
benéficas para a saúde.
A queridinha da vez é a camomila, grande conhecida da maioria por sua função calmante e digestiva, e que também seria recomendada contra inflamações e para a pele. As possíveis propriedades medicinais, inclusive, são conhecidas desde o período Paleolítico, quando neandertais já faziam uso da planta, como revelou a Universidade de York, do Reino Unido.
Alguns estudos realmente apontam para as potencialidades da erva, mas ainda faltam mais testes em humanos. Enquanto isto, cientistas levantam outra hipótese: publicada na última semana na “Proceedings of National Academy of Sciences of the United States of America” (PNAS), uma pesquisa mostrou a função da apigenina, um flavonoide abundante na camomila.
— A apigenina tem um papel importante na prevenção do câncer — revelou a autora do estudo, Andrea Doseff, da Universidade do Estado de Ohio.
Andrea lembra que pesquisas anteriores mostraram que seriam necessárias nada menos do que 80 xícaras por dia para se atingir algum efeito. Mas ela diz que vem estudando fórmulas para concentrar os flavonoides.
Aumento da venda de chá no Brasil
Comprovações científicas, aliadas ao fortalecimento econômico, vêm intensificando o hábito no Brasil. A venda de chá aumentou de US$ 288 milhões, em 2010, para US$ 373 milhões, em 2012, (quase 30% a mais), segundo levantamento do Instituto Euromonitor.
É o que comprova na prática a chef do Market Ipanema, Carolina Figueiredo, que montou um cardápio de chás no restaurante. Adepta do hábito de beber diariamente infusões aromáticas, Carolina decidiu trazer a experiência pessoal para o estabelecimento, mas conta que notava uma resistência do público.
— Ninguém tomava chás mais fortes, como o verde. O consumo cresceu muito nos últimos dois anos anos, talvez porque estão vendo suas propriedades. O chá não chega a disputar com o café, mas já virou uma alternativa — comentou Carolina.
A chef diz que tem dificuldade de encontrar opções no Rio, buscando, por isso, fornecedores de São Paulo. Para quem diz que isto se deve ao calor carioca, a dica dela é fazer uma mistura gelada com gengibre, canela e mel. E sugere acrescentar frutas e outros ingredientes:
— O meu favorito é o “maçãzinha assada”, mistura de chás preto e verde, que são antioxidantes; com canela e amêndoa, que têm função para circulação e digestão; e a maçã, que ajuda a quebrar o amargo dos chás.
Chás verde, preto, de camomila e até o sul-africano rooitea integram a lista de opções do restaurante. Também conhecido como rooibos, a erva que cresce apenas na província do Cabo Ocidental, na África do Sul, vem sendo estudada até por pesquisadores de fora do país.
O Conselho Sul-Africano do Rooibos lista mais de 20 estudos mostrando seus benefícios. Entre eles, a ação antioxidante no sangue, a melhora da saúde do coração, o controle da diabetes, o potencial fitoestrógeno (similar ao hormônio feminino), a tratamentos estomacais e intestinais, o aumento do sistema imunológico e até a prevenção do câncer. Os efeitos foram atingidos com ingestões mais modestas, de em média 500 mililitros por dia.
Mesmo com uma joia à mão, a África do Sul não está no topo das vendas: US$ 278 milhões no ano passado, segundo a Euromonitor. Com 1,3 bilhão de habitantes e um dado histórico, a China é a líder mundial, acumulando os nada modestos US$ 9,5 bilhões em vendas em 2012. Acredita-se que o hábito de beber chá começou por lá, há 5000 anos, pelo imperador Shen Nong.
Hoje, o país consome especialmente o verde, outro expoente entre as pesquisas científicas. Este mês a Universidade de São Paulo (USP) publicou no “Journal of Medicional Food” estudo envolvendo 40 mulheres, entre 20 e 40 anos, e mostrou que ele proporciona diminuição da gordura, com perda de peso e manutenção da massa magra.
— Os mitos populares ditos por nossos avós podem ter fundamentos com argumentos científicos comprovados — defendeu a professora em nutrição humana da USP-Piracibaca, Jocelem Mastrodi Salgado, autora do estudo.
A pesquisadora diz que o consumo de chá verde aliado à prática de exercícios auxilia em ganho de massa magra e favorece a perda de massa gorda, num nível maior do que o do exercício isolado. Além disso, aumenta a força muscular em treinos de resistência.
Isto dá mais peso a estudos apontando para efeitos similares, como o da Universidade de Maastricht, na Holanda, mostrando que consumir dois a três copos por dia intensifica o gasto energético. E a Universidade Áquila, da Itália, dá uma sugestão interessante: se for impossível resistir a comidas muito gordurosas, o melhor é, depois do exagero, beber uma xícara de chá verde ou preto. Já estudos publicados nas revistas “Nanomedicine”, “Molecular Nutrition & Food Research” e “Cancer Cell International” revelam sua proteção contra câncer.
A eficácia do mate brasileiro
O chá verde está para a China como o chá mate para o Brasil. Ele é o mais consumido, principalmente na versão tostada. Pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vêm mostrando resultados, tanto do mate tostado quanto do verde (ou chimarrão) na redução do colesterol ruim, o LDL, e o aumento do bom, HDL.
— O consumo do chá mate provocou redução de 15% de colesterol. Em mais graves, de pacientes que usam estatina, quando associada ao chá, há um efeito somatório, com diminuição de até 30% — conta o professor de Bioquímica clínica da UFSC, Edson Luiz da Silva.
O ideal seria o consumo de um litro diariamente, hábito nada exagerado para os sulistas, diz o professor. No caso dos industrializados, ele diz que a constituição básica é a mesma, o problema é o excesso de açúcar.
A UFRJ também tem uma série de pesquisas com o chá mate:
— As ervas têm ganhado muita ênfase na pesquisa científica, já que são ricas em polifenóis, atuais celebridades no combate aos radicais livres, e com propriedades relevantes, como a anti-inflamatória — defende a pesquisadora da Fiocruz, Manuella Lanzetti, que fez pesquisas na UFRJ. — Um dos trabalhos aponta para os efeitos do mate em proteger os pulmões contra o fumaça de cigarro. Os dados são bastante promissores, uma vez que a medicina ainda não tem uma terapia eficaz para o tratamento de doenças pulmonares obstrutivas crônicas.
Chás
Mate
Reduz o colesterol e protege contra doenças pulmonares. O consumo vai de 1 a 2 litros por dia. Em excesso, a cafeína traz insônia e problemas gástricos.
Camomila
Prevenção contra o câncer, calmante e digestivo. Faltam pesquisas com humanos, mas sobra conhecimento popular.
Verde
Ingestão diária de 10g da erva em 200 ml de água, segundo a USP, para a perda de peso.
Rooibos
Estudos apontam para funções antioxidantes e de melhora do sistema imunológico.
A queridinha da vez é a camomila, grande conhecida da maioria por sua função calmante e digestiva, e que também seria recomendada contra inflamações e para a pele. As possíveis propriedades medicinais, inclusive, são conhecidas desde o período Paleolítico, quando neandertais já faziam uso da planta, como revelou a Universidade de York, do Reino Unido.
Alguns estudos realmente apontam para as potencialidades da erva, mas ainda faltam mais testes em humanos. Enquanto isto, cientistas levantam outra hipótese: publicada na última semana na “Proceedings of National Academy of Sciences of the United States of America” (PNAS), uma pesquisa mostrou a função da apigenina, um flavonoide abundante na camomila.
— A apigenina tem um papel importante na prevenção do câncer — revelou a autora do estudo, Andrea Doseff, da Universidade do Estado de Ohio.
Andrea lembra que pesquisas anteriores mostraram que seriam necessárias nada menos do que 80 xícaras por dia para se atingir algum efeito. Mas ela diz que vem estudando fórmulas para concentrar os flavonoides.
Aumento da venda de chá no Brasil
Comprovações científicas, aliadas ao fortalecimento econômico, vêm intensificando o hábito no Brasil. A venda de chá aumentou de US$ 288 milhões, em 2010, para US$ 373 milhões, em 2012, (quase 30% a mais), segundo levantamento do Instituto Euromonitor.
É o que comprova na prática a chef do Market Ipanema, Carolina Figueiredo, que montou um cardápio de chás no restaurante. Adepta do hábito de beber diariamente infusões aromáticas, Carolina decidiu trazer a experiência pessoal para o estabelecimento, mas conta que notava uma resistência do público.
— Ninguém tomava chás mais fortes, como o verde. O consumo cresceu muito nos últimos dois anos anos, talvez porque estão vendo suas propriedades. O chá não chega a disputar com o café, mas já virou uma alternativa — comentou Carolina.
A chef diz que tem dificuldade de encontrar opções no Rio, buscando, por isso, fornecedores de São Paulo. Para quem diz que isto se deve ao calor carioca, a dica dela é fazer uma mistura gelada com gengibre, canela e mel. E sugere acrescentar frutas e outros ingredientes:
— O meu favorito é o “maçãzinha assada”, mistura de chás preto e verde, que são antioxidantes; com canela e amêndoa, que têm função para circulação e digestão; e a maçã, que ajuda a quebrar o amargo dos chás.
Chás verde, preto, de camomila e até o sul-africano rooitea integram a lista de opções do restaurante. Também conhecido como rooibos, a erva que cresce apenas na província do Cabo Ocidental, na África do Sul, vem sendo estudada até por pesquisadores de fora do país.
O Conselho Sul-Africano do Rooibos lista mais de 20 estudos mostrando seus benefícios. Entre eles, a ação antioxidante no sangue, a melhora da saúde do coração, o controle da diabetes, o potencial fitoestrógeno (similar ao hormônio feminino), a tratamentos estomacais e intestinais, o aumento do sistema imunológico e até a prevenção do câncer. Os efeitos foram atingidos com ingestões mais modestas, de em média 500 mililitros por dia.
Mesmo com uma joia à mão, a África do Sul não está no topo das vendas: US$ 278 milhões no ano passado, segundo a Euromonitor. Com 1,3 bilhão de habitantes e um dado histórico, a China é a líder mundial, acumulando os nada modestos US$ 9,5 bilhões em vendas em 2012. Acredita-se que o hábito de beber chá começou por lá, há 5000 anos, pelo imperador Shen Nong.
Hoje, o país consome especialmente o verde, outro expoente entre as pesquisas científicas. Este mês a Universidade de São Paulo (USP) publicou no “Journal of Medicional Food” estudo envolvendo 40 mulheres, entre 20 e 40 anos, e mostrou que ele proporciona diminuição da gordura, com perda de peso e manutenção da massa magra.
— Os mitos populares ditos por nossos avós podem ter fundamentos com argumentos científicos comprovados — defendeu a professora em nutrição humana da USP-Piracibaca, Jocelem Mastrodi Salgado, autora do estudo.
A pesquisadora diz que o consumo de chá verde aliado à prática de exercícios auxilia em ganho de massa magra e favorece a perda de massa gorda, num nível maior do que o do exercício isolado. Além disso, aumenta a força muscular em treinos de resistência.
Isto dá mais peso a estudos apontando para efeitos similares, como o da Universidade de Maastricht, na Holanda, mostrando que consumir dois a três copos por dia intensifica o gasto energético. E a Universidade Áquila, da Itália, dá uma sugestão interessante: se for impossível resistir a comidas muito gordurosas, o melhor é, depois do exagero, beber uma xícara de chá verde ou preto. Já estudos publicados nas revistas “Nanomedicine”, “Molecular Nutrition & Food Research” e “Cancer Cell International” revelam sua proteção contra câncer.
A eficácia do mate brasileiro
O chá verde está para a China como o chá mate para o Brasil. Ele é o mais consumido, principalmente na versão tostada. Pesquisas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) vêm mostrando resultados, tanto do mate tostado quanto do verde (ou chimarrão) na redução do colesterol ruim, o LDL, e o aumento do bom, HDL.
— O consumo do chá mate provocou redução de 15% de colesterol. Em mais graves, de pacientes que usam estatina, quando associada ao chá, há um efeito somatório, com diminuição de até 30% — conta o professor de Bioquímica clínica da UFSC, Edson Luiz da Silva.
O ideal seria o consumo de um litro diariamente, hábito nada exagerado para os sulistas, diz o professor. No caso dos industrializados, ele diz que a constituição básica é a mesma, o problema é o excesso de açúcar.
A UFRJ também tem uma série de pesquisas com o chá mate:
— As ervas têm ganhado muita ênfase na pesquisa científica, já que são ricas em polifenóis, atuais celebridades no combate aos radicais livres, e com propriedades relevantes, como a anti-inflamatória — defende a pesquisadora da Fiocruz, Manuella Lanzetti, que fez pesquisas na UFRJ. — Um dos trabalhos aponta para os efeitos do mate em proteger os pulmões contra o fumaça de cigarro. Os dados são bastante promissores, uma vez que a medicina ainda não tem uma terapia eficaz para o tratamento de doenças pulmonares obstrutivas crônicas.
Chás
Mate
Reduz o colesterol e protege contra doenças pulmonares. O consumo vai de 1 a 2 litros por dia. Em excesso, a cafeína traz insônia e problemas gástricos.
Camomila
Prevenção contra o câncer, calmante e digestivo. Faltam pesquisas com humanos, mas sobra conhecimento popular.
Verde
Ingestão diária de 10g da erva em 200 ml de água, segundo a USP, para a perda de peso.
Rooibos
Estudos apontam para funções antioxidantes e de melhora do sistema imunológico.
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