6.04.2013

Casais que se conhecem na internet podem ser mais felizes, diz estudo


Em amostra americana, mais de 30% dos casamentos começaram na web.
Pesquisa é criticada por ter sido encomendada por site de relacionamentos.

Da France Presse
Casamento (Foto: Godong/BSIP/Arquivo AFP)Estudo analisou 19.131 pessoas que se casaram
entre 2005 e 2012 (Foto: Godong/BSIP/Arquivo AFP)
Casais que se formam no mundo digital podem ser mais felizes que aqueles que se conhecem por outros meios, revelou um novo estudo americano publicado na segunda-feira (3), na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS).
O namoro virtual virou uma indústria bilionária, e a internet "pode estar alterando a dinâmica e o resultado do próprio casamento", aponta a pesquisa americana, baseada em uma consulta com um universo representativo da população, que incluiu 19.131 pessoas que subiram ao altar entre 2005 e 2012. Mais de um terço delas havia começado o namoro online.
"Encontramos evidências de uma mudança dramática desde o advento da internet na forma como as pessoas estão encontrando seus cônjuges", destacou o trabalho, coordenado por John Cacioppo, do Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago.
Apesar disso, alguns especialistas discordaram fortemente das descobertas, pois o estudo foi encomendado pelo site de relacionamentos eHarmony.com, responsável por um quarto de todos os casamentos online, segundo a pesquisa.
Cacioppo admitiu ser um "conselheiro científico pago" pelo site, mas disse que os cientistas seguiram procedimentos fornecidos pelo "Jornal da Associação Médica Americana" (Jama) e concordaram em ser supervisionados por profissionais estatísticos independentes.
O perfil das pessoas que disseram ter encontrado seu parceiro na internet está na faixa etária de 30 a 49 anos e de maior renda que aquelas que conheceram o companheiro fora da rede, revelou a pesquisa.
Entre os indivíduos que não encontraram sua cara-metade online, cerca de 22% a acharam no trabalho, 19% por meio de amigos, 9% em um bar ou casa noturna, e 4% na igreja, indicou o estudo.
Mas quem é mais feliz?
Quando os cientistas analisaram quantos casais se divorciaram ao final do período da pesquisa, descobriram que 5,96% dos casais que oficializaram a relação após terem se conhecido pela internet haviam terminado, contra 7,67% das duplas casadas "offline".
A diferença foi estatisticamente significativa mesmo após levar em consideração variáveis como ano de casamento, sexo, idade, educação, grupo étnico, renda familiar, religião e status de emprego.
Entre os casais que ainda estavam juntos durante o estudo, aqueles que se encontraram no mundo digital contaram ter maior satisfação conjugal – em média, 5,64% em uma pesquisa de satisfação – que aqueles que se conheceram fora da web (5,48%).
As menores taxas de satisfação foram reportadas por pessoas que se conheceram por meio de familiares, no trabalho, em bares e clubes ou encontros às cegas.
"Esses dados sugerem que a internet pode estar alterando a dinâmica e os resultados do próprio casamento", afirmou Cacioppo.
"É possível que os indivíduos que encontram seus cônjuges online possam diferir na personalidade, na motivação de formar um relacionamento conjugal de longo prazo ou em algum outro fator", acrescentou o autor.
Mas nem todos os especialistas acreditam que os namoros online se traduzam em felicidade instantânea. No ano passado, Eli Finkel, professor de psicologia da Universidade Northwestern, conduziu uma extensa revisão sobre pesquisas de namoro online.
Ele disse à AFP que concordou com as proporções encontradas no estudo da PNAS. Seu estudo mostrou que cerca de 35% dos relacionamentos agora começam na internet.
"O excesso acontece quando os autores concluem que encontrar um parceiro online é melhor que encontrá-lo fora da rede", afirmou Finkel.
"Ninguém se surpreende quando um efeito minúsculo alcança significância estatística em uma amostra de 20 mil pessoas, mas é importante que não confundamos 'significância estatística' com 'significância prática''', argumentou.
Finkel também condenou o envolvimento do site eHarmony no estudo.
"Sempre sou algo cauteloso quando um projeto é totalmente financiado por uma organização privada que claramente tem um interesse evidente nos resultados", ressaltou.
Segundo a psicóloga e escritora Vivian Diller, a pesquisa feita ao longo de sete anos foi curta demais para estimar os resultados de longo prazo nos relacionamentos que começam pela internet.
"O sucesso no casamento trata-se amplamente de como se negociam as diferenças, não apenas de compatibilidade", declarou à AFP, acrescentando que o namoro online pode despertar expectativas e resultar numa infelicidade maior.
"Acho que os jovens que usam o namoro online parecem utilizá-lo mais como uma brincadeira, especialmente os rapazes que olham os perfis das jovens. Eles veem isso como uma oportunidade de conhecer o maior número possível de pessoas, e as mulheres se cansam disso", concluiu.

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