12.01.2014

Dor crônica precisa ser tratada


 Incômodo que dura mais de três meses é doença e médico deve ser procurado


O Dia
Rio - Sentir dor não é normal e ela precisa ser tratada por um especialista. Este é o principal ensinamento do livro ‘Ufa! Chega de dor’, de Fabiola Minson, lançado na quinta-feira, em São Paulo. Coordenadora do Centro Integrado de Tratamento da Dor, a anestesiologista defende que as dores crônicas, aquelas que se estendem por mais de três meses, devem ser encaradas como doenças e receber a atenção devida por pacientes e médicos.

Dor de coluna é principal causa de afastamento do trabalho no país. Com incômodo, perde-se produtividade
Foto:  Getty Images

Atualmente, cerca de 60 milhões de brasileiros sofrem com dores, principalmente nas costas e na cabeça. Para Fabiola, o número elevado se deve ao costume que se tem em “conviver com a dor”. “Muitas pessoas demoram a procurar tratamento imaginando que a dor é algo natural do envelhecimento. Mas dor é doença e quanto mais tempo levar, mais grave o problema se torna”, aponta a especialista.
Para ilustrar o tamanho dos riscos presentes em dores normalmente negligenciadas, a médica cita o exemplo de incômodo nas costas, principal causa de afastamento do trabalho no país. “Com dor, se perde produtividade e qualidade de vida. Há quem conviva anos com o problema e fica incapaz com a degeneração da coluna”, diz Fabiola.
Embora se busque universalizar o conhecimento sobre a gravidade das dores crônicas, a especialista, por outro lado, diz ser preciso encarar cada paciente de maneira particular na hora do tratamento. “A dor é algo individual. É necessário definir precisamente a dor antes de iniciar os cuidados, que podem ser preventivos, com medicamentos ou através da prática regular de exercícios”, diz.
Além de pedir para que as pessoas busquem ajuda profissional de maneira precoce, a médica faz um último alerta. “Fazer automedicação para tratar a dor é péssimo. Ela apenas mascara o problema e, a longo prazo, provoca danos a órgãos como fígado e rins”, conclui.

Dez relatos de superação do problema
O livro apresenta dez relatos de pacientes que conseguiram deixar de sofrer com dores crônicas. Segundo a especialista, a opção pelas histórias de superação foi feita para mostrar a outras pessoas que sentir dor não é condição particular e pode ser vencida.
“Ao ler, espero que as pessoas percebam que não estão sozinhas na luta contra as dores. Tomar conhecimento sobre a doença ajuda o paciente a ter atuação mais positiva durante o tratamento e a se tornar parceiro do médico”, afirma.
Com a obra, Fabiola também pretende acabar com o mito de que o tratamento é apenas com remédios. “Tem gente que chega no consultório querendo uma pílula mágica”, diz ela, que dá dicas de atividades físicas no livro.

Veja mais:

Dor crônica é doença. Você sabia?

"É só uma dorzinha nas costas". Quantas vezes você já ignorou a sua dor, encarando como algo natural e corriqueiro? Sentir dor é inevitável, mas ao contrário do que pensamos, ela pode e deve ser tratada.
Dor os diferentes tipos e como tratar 
A Associação Internacional dos Estudos da Dor define a sensação como uma experiência física e emocional desagradável, associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos.
Existem dois tipos de dor: aguda e crônica. A aguda, que dura segundos, dias ou semanas, ocorre como um sinal de alerta após cirurgias, traumatismo, queimaduras, inflamação ou infecção. Já a dor crônica ou persistente pode durar meses ou anos. Dores de coluna, fibromialgia, neuropatias, lesões por esforços repetitivos (LER) e câncer também podem gerar esse tipo de dor.
A dor aguda não tratada adequadamente leva à dor crônica e se torna a própria doença do paciente. Conviver com essa sensação não leva apenas ao desconforto - compromete o bem-estar social e emocional do indivíduo, que pode sentir-se isolado, ansioso ou deprimido, além de afetar a produtividade no trabalho, o apetite e o sono.
A expressão da dor e a forma de encará-la variam de acordo com a cultura, as experiências anteriores de cada indivíduo e também com o sexo: as mulheres têm mais tendência a sentir diferentes tipos de dores. Segundo a Dra. Fabíola Peixoto Minson, coordenadora do grupo de Tratamento da Dor do Einstein, as dores são mais prevalentes em mulheres em razão de fatores hormonais, genéticos e sociais. "A dupla ou tripla jornada de trabalho deixa as mulheres com mais chance de desenvolverem dores musculoesqueléticas crônicas", explica. A fibromialgia, por exemplo, acomete 7 mulheres para cada homem com esta queixa.
"Por isso a dor nunca deve ser encarada como normal, algo que seja obrigado a se conviver. Muitas vezes a causa não é encontrada, mas mesmo assim a dor deve ser tratada", explica a médica.

Tratamento multidisciplinar

A principal ferramenta para o médico avaliar algo subjetivo como a dor de um paciente é conseguir que este descreva detalhadamente qual a sua característica, intensidade, localização, fatores de melhora e piora, além dos tratamentos anteriores. Uma escala numérica que varia de 0 a 10 pode ser utilizada para analisar o nível da dor, sendo que zero indica nenhuma dor e 10 a pior dor imaginável. Quanto melhor o paciente explicar sua dor, mais facilmente o médico poderá indicar o tratamento adequado.
Já se foi a época de resolver as doenças e as dores somente com medicamentos. No Grupo de Tratamento de Dor do Einstein, a abordagem é multidisciplinar, ou seja, profissionais de diversas áreas atuam conjuntamente com um único objetivo: eliminar ou controlar a dor, promovendo o bem-estar do paciente. "O tratamento multidisciplinar é a chave do sucesso, pois combina analgésicos e medicamentos com atividades físicas, fisioterapia, psicologia e acupuntura", enfatiza a coordenadora do grupo do Einstein. Já existe também um tratamento pela medicina intervencionista, que atua bloqueando os nervos que levam a dor ao cérebro, aliviando a sensação de incômodo.
O núcleo tem o suporte de psicólogos, neurologistas, fisiatras e fisioterapeutas, e acompanha desde pacientes que passaram por um transplante ou tratamento de câncer até aqueles que apresentam dores nas costas ou dores de cabeça.

Dia Mundial Contra a Dor

Pouca gente sabe, mas 17 de outubro é o Dia Mundial da Dor. Idealizada pela Associação Internacional para o Estudo da Dor, a data tem como objetivo conscientizar a população sobre o tema, cada ano enfocando um aspecto diferente. Em 2011, o tema da campanha é Dor Aguda – Prevenir, Aliviar, Avaliar.

Nenhum comentário: